Respostas à entrevista para o jornal da PUC-RJ, novembro de 2009.
1- Para o senhor, qual a importância de Oscar Niemeyer para a arquitetura brasileira e mundial?
JMJ: é a de ser um criador fiel a ele mesmo; às suas idéias e convicções que ele quer sejam as de contribuir para um mundo (e um planeta) melhor. Quanto às suas convicções políticas, de enorme valor afirmativo em tempos "desideologizados" (para não dizer políticamente "desmiolados") ficam claras na sua declaração: "eu me orgulho de ser um comunista. Não ser é que é uma merda".
E quanto às convicções arquitetônicas, ele sempre praticou uma amálgama forma-estrutura-função (nessa ordem de importância) que continúa servindo de referência válida dentro e fora do país. Mas é sobretudo na sua não-submissão à função, onde Oscar adquiere enorme relevância como via de abordagem projetual que tensiona o objeto arquitetônico para o seu emparentamento com a arte, caracterizando fortemente sua arquitetura-arte como trabalho de autor.
Niemeyer é um arquiteto que colocou sempre a relação arquitetura-arte como um princíprio básico.
2- Oscar Niemeyer é fonte de inspiração para profissionais do ramo?
JMJ: é e sempre será, mas não só para "os do ramo", pois suas obras estão entre as mais altas realizações do espírito humano.
3- Niemeyer serviu de influência para o senhor em algum momento de sua carreira?
JMJ: não de maneira "formal", mas sim do ponto de vista ético, como alguém que manteve sempre uma indefectível coerência ideológica; e do ponto de vista poético, compartilhando com ele a busca de um "espaço perfumado", leve, arejado, inserido no verde, atravesável, disponível...
Espaço perfumado, no sentido em que o definiu com toda felicidade Peter Buchanan, numa das melhores análises que conheço sobre a obra do mestre, e que recomendo ler.
De qualquer maneira tenho uma referência "explícita" a ele no projeto (executado dentro do programa Favela-Bairro) do edifício para atividades esportivas, em Fubá-Campinho.
4- Qual a necessidade de profissionais como Niemeyer na arquitetura? E em outras profissões?
JMJ: sempre há e continuará havendo "necessidade" de "profissionais" que coloquem o seu desejo do lado do interesse da arquitetura na sua função pública, social, isto é, do lado da busca de um objeto, de uma cidade, e de um entorno, mais humano e mais "belo"; menos "econômico-funcional", e mais espiritual.
E sobretudo, não cedendo do seu desejo!!! (no sentido psicanalítico desta expresão)
E por isso, válido para qualquer outra "profissão".
5- O senhor conhece nomes de arquitetos contemporâneos que se igualem ou cheguem perto as inovações de Niemeyer?
JMJ: creio que esta questão está mal formulada. Da mesma maneira como não podemos comparar a "grandeza" das inovações de Picasso, Paul Klee, Turner ou Francis Bacon, também não podemos comparar as "inovações" de Le Corbusier, Mies, Alvar Aalto ou Hans Scharoun, entre os quais Niemeyer se insere. A questão não é essa. Trata-se na verdade de ter presente a contribuição específica de cada um deles ao campo da arquitetura, da cidade, e da sociedade, em cada ação projetual que realizamos, buscando sempre apreender a essência de um trabalho, e não só a sua "forma", por mais importante que esta seja. E, nesse sentido, todos os arquitetos mencionados continuam sendo fonte de significações.
Jorge Mario Jáuregui
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