O “elevado da perimetral”, como é conhecido, no centro do Rio, constituiu desde o próprio momento da sua construção, um elemento que não é possível ignorar na paisagem da Cidade. Muito foi discutido nos últimos anos quanto à conveniência da sua demolição, mas quero colocar aqui outra hipótese. Tomando como referências o caminho verde elevado (Promenade Plantée - 1987-1999) em Paris denominado "la coulée verte", e a recente transformação de um viaduto ferroviário em Manhattan num novo espaço público de lazer da cidade (High Line), proponho aqui um raciocínio sobre a possibilidade de transformar “o minhocão do centro” num espaço público não apenas de lazer, mas numa “rua verde e jardim-mirante” para pedestres e pequenos veículos elétricos, capaz de interconectar o aeroporto Santos Dumont e a rodoviária, criando pontos de acesso ao longo do seu percurso, desde e para o centro da cidade e para os diferentes setores que podem vir a ser comunicados: Museu Histórico Nacional, Tribunal de Justiça, Praça XIV-Paço Imperial, Zona Portuária, Museu do Amanhã, Av. Pte. Vargas, Praça Mauá, Av. Rio Branco, Bairros da Saúde e da Gamboa, Hospital dos Servidores, Cidade do Samba, Centro Artístico Behring. Uma rua não só para passear na cidade senão também para ir de um lugar ao outro, inclusive ao trabalho. Pela sua posição privilegiada sobre e entre os galpões do Porto, oferece excelentes possibilidades paisagístico-visuais de usufruto da paisagem da Baía da Guanabara, do skyline da cidade, do Convento de São Bento, da ponte Rio-Niterói e da paisagem montanhosa do fundo da Baía. Um novo passeio público elevado, verde, com quiosques, aberto 24horas, poderia representar um novo e poderoso equipamento público de baixíssimo custo. Um atrator- conector de escala urbana que já esta aí em potência. Como já tinha sugerido num estudo vários anos atrás (ver www.jauregui.arq.br/waterfront) esse mesmo viaduto poderia comportar um sistema de transporte leve sobre trilhos (VLT) fixado a um lado dos pilares existentes de sustentação do próprio viaduto. Percurso de 5.7 km de extensão com vegetação flutuante por cima da cidade, desfrutando da paisagem da Baía entre as edificações do centro, este passeio público propõe uma sucessão de situações, ambiências e espaços diferenciados e sombreados, conectados por transporte público, correndo sobre um tapete vegetal com grama de diferentes tipos e tonalidades, arvorizado com floreiras e jardineiras pensadas como bouquets de escala urbana. Um convite à reintrodução da natureza e da arte na cidade, acompanhando as atividades do cidadão e dos visitantes. Ao longo de todo o percurso uma série de escadas, rampas e elevadores permitirão a conexão com os diferentes usos e lugares de interesse (trabalho, cultura e lazer). Transformado em tapete verde e cortina vegetal, e equipado com mobiliário urbano especialmente concebido para esse lugar singular, oferecendo condições de permanência como mirante, essa “linha verde” de dia e “linha de luz” à noite (vista desde os navios de passageiros) poderia ser um excelente lugar de visitas para 2012/2014/2016 e uma nova atração da cidade. Esta estrutura de concreto (pilares, vigas e leito do viaduto) completamente vegetalizada com árvores, flores e cortina verde na parte aérea, e com hera portuguesa cobrindo todos os pilares, poderá ser o novo emblema do “Centro verde” do Rio. Na parte inferior, sob o viaduto, com o nível do chão reurbanizado como previsto pela Prefeitura, poderá surgir um passeio coberto, com obras de arte de escala urbana e trabalhos de numerosos artistas cariocas, inclusive restaurando a significativa obra do “poeta Gentileza” nos próprios pilares verdes. Uma iluminação geral de tipo cenográfico pode contribuir para reconverter o viaduto, junto com a incorporação da vegetação e o mobiliário urbano especial, num feérico lugar da cidade, digno da Metrópole Sustentável do século XXI que o Rio pode vir a ser. Um dos primeiros princípios da sustentabilidade é a reutilização do existente!!! (Publicado na Revista O Globo, 28 de Novembro de 2010) Jorge Mario Jáuregui
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