A nova questão urbana das cidades latino-americanas, que materializa a inserção subordinada na modernidade-mundo neo-liberal, coloca o desafio de repensar a construção do direito à urbanidade como projeto e apropriação da dinâmica da cidade por forças que se articulam no território do precário e do informal fragmentado. Isto tem haver com a identificação dos processos de construção de novas institucionalidades e redes sociais para o desenvolvimento do território, a partir de espaços urbanos marcados pela cultura da segregação e da desigualdade, inscritos na lógica da estigmatização do informal-urbano. Trata-se de favorecer enfoques que reorientem a questão das políticas urbanas levando em conta a lógica econômica e espacial que se manifesta no território. O direito à cidade e à urbanidade está no centro das novas estratégias democráticas e distributivas, com ênfase nos organismos de participação direta e na criação de redes sociais produtivas e solidárias. Enfoques que destaquem os avanços de construção metodológicos que partem do reconhecimento das potencialidades de mobilização sócio-produtiva nos territórios, enquanto forma prática de organização da cidadania. O desafio consiste em contribuir para concretizar uma agenda de direito ao desenvolvimento, através de espaços e esferas públicas capazes de recompor, nas diferentes escalas do urbano, as condições de produção de respostas políticas da parte dos sujeitos sociais, orientados por planos de desenvolvimento sócio-espacial elaborados em diálogo com a comunidade. A mobilização democrática e produtiva do território baseada numa dinâmica de cooperação dos sujeitos de cidadania apoiada na centralidade do trabalho, sugere uma abordagem onde a dinâmica de redes se articula com a complexidade da reconstrução de escalas. Onde um novo federalismo político se articula com a organização e cooperação gerada por novas dinâmicas que reterritorializam o desenvolvimento a partir do fortalecimento do local e do regional simultâneamente, reconstruídos com base em projetos gerados desde a comunidade com o apoio de equipes multidisciplinares. Isto tem a ver com a possibilidade dos territórios organizados se apresentarem como um conjunto de propostas de articulação do direito à cidade, via políticas urbanas que devem ser marcadas por praticas auto-administradas e co-administradas dos sujeitos populares, a partir da construção de coletivos sociais e esferas publicas. Esses processos podem emergir de novas dinâmicas organizativas como a da construção de uma Agência de Desenvolvimento na Cidade de Deus, Rio de Janeiro, equilibrando as imagens e a lógica das políticas publicas para uma região hegemonizada pelo capital especulativo e do espetáculo. A utilização de enfoques que integrem o tecnológico e o social, o produtivo e o urbano-ambiental, o institucional e o organizacional, pode permitir uma aproximação critica ao problema da formação e acesso aos novos mercados, e a melhora da qualidade de vida para os mais necessitados, com base numa perspectiva política de democratização ampliada.
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