Esplendor do Deserto

Taliesin / Frank Lloyd Wright 1937/1941

Esta obra da primeira metade do século XX,  continua a nos impressionar pela contundência da sua presença “agarrada” ao deserto. Ela literalmente “cria o lugar”, num contínuo indiferenciado de pequenas ondulações, com o fundo das montanhas atrás (que depois virou à frente).

O pioneirismo do uso dos materiais locais em estado bruto lhe confere, junto com a sua elaborada horizontalidade, o caráter de uma jóia num belo e agreste contexto. A decantada sucessão de transições interior-exterior, “dentro”-“fora”, alto-baixo, íntimo-expansivo, aberto-fechado e a continuidade de terraços de uma grande variedade de tipos e dimensões, nos permitem posicionarmos “ao redor” e “entre” a arquitetura e a paisagem. Mas agregando valor a ela, marcando-a e enquadrando-a.

Ainda podemos imaginar a delicadeza e leveza dos tetos de lona translúcida que deixavam passar uma suave luz, apoiada nas vigas de madeira vermelha.

Este jogo de cores, combinado com a forte presença das grandes pedras também coloridas das paredes (laranja, alfazema, cinza, preto e misturas de laranja e preto) e as diferentes tonalidades da mística vegetação do deserto e das montanhas, criam uma envolvente e calma atmosfera.

Uma grande e estimulante variedade de situações espaciais e visuais caracteriza a sala de estar principal, com a sua lareira construída com pedras naturais dispostas de maneira escultural. Uma riquíssima variedade de situações visuais possibilita vistas para pátios interiores, jardins e a paisagem exterior.

O valor paisagístico-ambiental-contextual das diferentes peças esgarçadas que compõem o conjunto, definem uma série de “ambientes”, interiores e exteriores, a diferentes escalas e com diferentes tipos de “paisagens”, em distintos platôs.

A estereometria do edifício possibilita variados tipos de “relações” com ele; diferentes tipos  de “proximidades” são definidas mediante o manejo da altura de paredes e tetos, muretas, bancos, jardineiras, fontes.

E tudo isso feito com uma grande economia de recursos pois os materiais dominantes são a pedra bruta do lugar misturada com concreto, a madeira barata da região, ferro e lona branca. Elaborados mecanismos de abertura e fechamento permitem transformar janelas em proteções de tetos e fechamentos em lona abrem ou fecham calibrando a luz, o vento e os visuais.

Jorge Mario Jàuregui