Século XXI


française

 


Núcleo Central Intervenção em Manguinhos

A seqüência de deslocamentos de questões tanto arquitetônicas quanto urbanísticas ao longo do século XX, chega ao topo ao realizar uma volta completa na "espiral da história" da modernidade. O que começou nas primeiras décadas daquele século como uma luta para se livrar do passado em relação à arquitetura e o urbanismo herdados, completa toda uma "evolução" no sentido de desdobramentos. Desdobramentos cujas conseqüências e diferentes efeitos a partir precisamente da perda de validade dos princípios da modernidade, venho abordando em diversos artigos 1.

Hoje, a crescente conexão entre meios de comunicação 2 em geral e a pluralidade de culturas, junto a uma multiplicidade equivalente de concepções do mundo, criam condições para uma verdadeira "re-visão" da modernidade.

Ao percurso - período heróico, chegada ao poder, crise, rejeição, crítica ontológica - completa-se esta seqüência acrescentando-se uma releitura e reapropriação que definem uma nova relação, menos fóbica, com a já não tão "incômoda" herança da modernidade. Esta nova relação passa pela reavaliação da concepção do objeto arquitetônico e o pensamento do urbano, referentes à questão da linguagem formal-espacial, à conceituação da idéia de ordem, e à interpretação do "corpo" arquitetônico.

Como sabemos, o Movimento Moderno se propunha veículo da democratização do acesso à arquitetura e à cidade, buscando garantir o "mínimo necessário" para cada um no marco de uma reformulação ampla da relação com a natureza. Visava assim um desfrute para todos (com a "disposição" dos edifícios no "verde"), baseados numa "fé cega" na idéia de progresso, na técnica, na razão e na vontade de renovação formal. Este modelo entrou em crise a partir de meados da década de 60 e hoje pode-se avaliar os efeitos das profundas mudanças em curso, na observação do que ocorre em quatro campos diferenciados mas inter-relacionados.

No plano urbanístico, a substituição do existente era a atitude geral do MM, concebendo a cidade de forma reducionista como derivação do inter-relacionamento das "zonas" para o trabalho, habitação, serviços e lazer, costurados pelo traçado viário. É neste plano do urbano que se verifica principalmente a precariedade das suas elaborações na tentativa de propor um novo conceito de relação entre a Urbis (suporte físico e marco da "urbanidade") e Civitas (condição de civilidade, de cidadania), capaz de constituir um novo "cenário" da civilização. A formulação do que poderia constituir uma nova forma de relacionamento entre natureza e edificações, entre público e privado, entre indivíduo e sociedade, sem se basear na ingovernável "lei do mercado" mas numa articulação consistente entre novas demandas sociais (novos conteúdos 3), potencial tecnológico, e uma reformulação completa da relação com o "mundo natural", constitui a tarefa pendente legada pela modernidade. Tarefa não realizada ainda em toda a plenitude por nenhuma teorização, seja sobre a "Generic City" 4 ou sobre a "Cidade sem Órgãos" 5 (cidade rizomática), restando portanto como um dos desafios iniciais para o novo século. Precisamente o fato de vir a conceber um "novo urbanismo" de acordo com a natureza altamente complexa da cidade contemporânea, caracterizada por um denso circuito de informação e desejo (locus de consumo), meio de comunicação, local e laboratório de novas formas de comportamento e relacionamento social em que se converteram os grandes centros metropolitanos.

Se antigamente a cidade era o mundo e hoje o mundo é uma cidade, como diz Lewis Mumford, para atuar neste novo cenário é necessário o auxilio de novos conceitos (tais como o de rizoma, espaço liso-espaço estriado, não-linearidade, estruturas de não-equilíbrio, espaço topológico, etc.) visando dar conta de fenômenos provocados pelo capitalismo em estado turbilhonar, para o qual as antigas noções de escala, medida e proporção já não são suficientes.


Rambla de Manguinhos

Hoje, o predomínio de fluxos, deformações e de heterogeneidade dimensional e dinâmica, questionam a espacialidade estática e a constância da forma no tempo que, no seu momento, caracterizaram as estruturas urbanas e os métodos de planejamento tradicionais. Uma instigante análise dos mecanismos da organização do capitalismo na atual fase e sua correspondência com os processos de urbanização em curso 6, constitui importante contribuição nesta direção.

No aspecto urbano verificam-se hoje numerosas iniciativas, nos mais variados países, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida por meio da ênfase na revitalização do espaço público como meio de "lugarizar" a cidade. Isto é, de reforçar a singularidade de cada localização e das características culturais locais como contrapartida ao processo geral de "globalização", através da revitalização das áreas centrais, da criação de novos espaços de participação e convivência, e da introdução de "germes de urbanidade" nas extensas periferias.

Na América do Sul, várias intervenções realizadas nestas duas últimas décadas oferecem uma rica base de referência para novas iniciativas.

No Rio de Janeiro, as intervenções compreendem tanto a revitalização de eixos urbanos na cidade formal (programa RIO CIDADE) quanto a integração de favelas à malha urbana pela construção precisamente de espaço público (programa FAVELA-BAIRRO), além de uma série de atuações destinadas à recuperação da área central da cidade.

A busca da reintegração da "cidade partida" mediante intervenções urbanísticas de grande escala nas favelas da cidade, constitui talvez a ação mais significativa levada a cabo em toda a América Latina nas últimas décadas, configurando uma fonte de experiências fundamentais e ao mesmo tempo, um laboratório para investigações que poderão ser de grande utilidade para a maioria dos países da região.

Buenos Aires se encontra num momento do seu processo metropolitano no qual se discute a reconversão, complementação e atualização tecnológica de suas infra-estruturas urbanas obsoletas e, junto com isto, a mobilização e colonização das suas "periferias centrais". A questão da forma do espaço público e da arquitetura como determinante da identidade da cidade, está no centro dos estudos, projetos, debates e realizações. Indo contra a globalização de todo espaço como mercadoria, isto é, contra a idéia de um "espaço público-espetáculo" que converte a cidade em uma "Celebration City" ou num "fast food plaza", o que se propõe é o tratamento urbano das grandes peças de infra-estrutura, junto com a re-identificação dos cenários locais (centralidades de bairros) capazes de atuar como focos de re-significação urbana, pensando a cidade como uma rede espacial na qual se intervém desde espaço público considerado como elemento ordenador.

Em Rosario, na Argentina, a arquitetura urbana pública contemporânea conta com uma sólida massa crítica de reflexões teóricas e metodologias, através de um estreito vínculo entre o ensino na Faculdade de Arquitetura e as intervenções públicas. Quase quinze anos de atuação urbanística municipal continuada, permitiram a reconstrução do sistema público da cidade onde os projetos de arquitetura e "land architecture" assumiram um papel fundamental. Como disse Oriol Bohigas com respeito ao projeto para o Parque Espanha, "foi a nossa primeira encomenda fora do meu país; esta preocupação pela abertura da cidade ao rio (e ao mar) começou em Rosario e depois a temos também concretizado em Barcelona e outras cidades. É uma linha que aqui foi intuída prematuramente e que neste momento é a preocupação de todas as cidades".


Parque Linear Metropolitano de Manguinhos

Em Córdoba, um programa de requalificação do espaço público desenvolvido com algumas interrupções desde a década de 80, tem reforçado a centralidade do setor antigo, com ênfase na utilização da cidade pelo pedestre, e criando uma série de centros de cidadania (CPC) nos bairros periféricos, conjugando atividades sociais, culturais e de prestação de serviços que, pela sua escala e características formais-espaciais, configuram marcos urbanos relevantes.

Em relação ao tratamento do "corpo" arquitetônico, a busca da leveza, transparência, uma certa desmaterialização do objeto e elaborada articulação volumétrica e espacial, constituem conquistas do MM totalmente incorporadas à "presentidade" 7, agora articuladas à utilização de novas geometrias (dobras, catástrofes, fractais, geometria topológica, etc.) e sistemas de desenho assistidos por computador. Estes dois últimos fornecendo uma base de apoio consistente para o desencadeamento de novas significações.

Nos últimos anos, o tratamento das superfícies, incluindo as "peles" de revestimento dos edifícios, passou a receber uma atenção crescente como meio de relacionamento e de inserção no entorno, deslocando a atenção dada anteriormente ao "lugar". Cada sítio específico de atuação implica agora empírica, histórica e intelectualmente, um ponto de partida diferente para cada projeto. A expressividade semiótica perde importância dando lugar a um tratamento abstrato da "caixa" arquitetônica, seja na versão "translúcida" de Peter Zumthor, na versão "brilhante" de Frank Gehry, na versão colorida e "fractile" de Daniel Libeskind, na versão "contrastada" (contraponto entre opacidade, transparência e translucidez) de Toyo Ito, na versão "texturizada" de Herzog e de Meuron (sede vinícola em Napa Valley) ou ainda nas versões tipo "silk-screen" de arquitetos como Jean Nouvel, Francis Soler, ou Iñaki Abalos e Juan Herreros, entre outros. Nestes últimos evidencia-se uma retomada do interesse no tratamento das superfícies no seu aspecto "figurativo" (quando o ornamento se transforma em textura, perdendo a tridimensionalidade e virando "tatuagem") na linha de uma releitura das experiências realizadas por Mies no Pavilhão de Barcelona, edifício que continua ocupando o lugar de obra prima da arquitetura moderna, ainda pleno de ressonâncias 8.

A referência à geometria como estrutura básica da configuração arquitetônica continua sendo, desde antes de "Vers une Architecture", de Le Corbusier, um recurso "moderno" também válido na atualidade. Mas, se os arquitetos modernos trabalhavam ainda com um referencial euclidiano, hoje as novas geometrias 9 expandiram o campo das possibilidades de manipulação volumétrica para horizontes insuspeitos, permitindo um grau de abstração muito maior que em qualquer outra arquitetura anterior, e uma ausência total de figuração tectônica.

O trabalho com estas novas geometrias e a possibilidade de múltiplas e fluidas superposições derivadas do uso da tecnologia digital, criam as condições para um enriquecimento inusitado no campo da elaboração dos objetos arquitetônicos no sentido da obtenção de espaços contínuos heterogêneos e harmonias conflitantes, por meio de um elaborado jogo de antagonismos. É da interseção de geometrias euclidianas com não-euclidias, que poderemos obter novos efeitos de sentido na configuração do corpo arquitetônico.

A questão da "linguagem arquitetônica" permanece, ainda hoje, como um dos campos mais conflitivos da disciplina e é o "turning point" da aceitação ou não de uma proposta projetual. Isto desde o concurso para o Palácio dos Soviets em que o projeto de Le Corbusier foi rejeitado por causa da "linguagem inovadora", passando por inúmeros outros exemplos ao longo do século em todo o mundo e também no Brasil.

Paira no campo da arquitetura uma oscilação entre duas posições extremas e igualmente negativas: a aceitação sem discussão do que vem de fora autorizado pelas "publicações", e o acovardamento na análise e julgamento de propostas que fujam do consensual, do "gosto médio", de um medíocre "profissionalismo". É neste campo da linguagem onde deverá se travar ainda uma luta profunda para a abertura de novos rumos a partir de uma posição intelectual e de responsabilidade cultural muito mais aberta e ao mesmo tempo consistente, capaz de explicitar os princípios referenciais.


Vista aérea Vidigal

Durante a década de 90, as condicionantes da linguagem arquitetônica histórica, desestruturadas pela deconstrução, se reorganizam para gerar uma nova língua como forma de expressão. Isto é, entidades arquitetônicas tais como a construção e os valores tipológicos entram em processo de reconfiguração, provocado tanto pela utilização de novas técnicas construtivas e projetuais quanto pela adoção de sistemas de pensamento flexíveis, o que leva a profundas mudanças nas relações entre imaginação, técnica, concepção da forma e do espaço e interações com o contexto.

Hoje, verifica-se um esforço na direção da reconstrução de ordens potenciais a partir das ruínas das ordens anteriores e da adoção de novos paradigmas 10, buscando substituir os sistemas conservadores (aqueles baseados nos ideais da unidade, do equilíbrio e da perfeição) por sistemas abertos não-conservadores, vagamente delimitados, incluindo imperfeição e estabilidade estrutural.

Sabemos que a arte (e a arquitetura enquanto arte) não é apaziguadora e não é sua função suavizar os conflitos. Ela deve mostrar o que deve ser exposto e fazer o que deve ser feito, sem buscar agradar a ninguém. É necessário construir conexões (maiores ou menores) com os movimentos do mundo, e não buscar se adequar a elas.

Em relação à arquitetura e ao ambiente, a permanente "artificialização" do mundo, isto é, a crescente intermediação da técnica no acesso "à realidade", cria paradoxalmente a necessidade de revalorização e recriação das condições de acesso ao "mundo natural". No campo da nossa disciplina, isto demanda uma preocupação crescente com o acesso à experiência direta dos elementos naturais (luz, vento, terra, chuva, visuais, vegetação, etc.) através da criação de micro-paisagens, de entornos paisagística e ambientalmente controlados. Mas é a combinação de alta tecnologia com as condições locais, o que é necessário estruturar para permitir articular fluxos naturais e eletrônicos. Nisto consiste o desafio atual.

Nesta fase do capitalismo, é mais imperioso ainda considerar os efeitos dos "investimentos" sobre o ambiente em todas as suas conseqüências e extensão, no sentido de incluir as variáveis "eco" tanto nas análises não só da relação custo-benefício quanto das transformações (negativas e positivas) a serem impostas a um determinado entorno.

Nas atuais condições de urbanização generalizada do planeta, verifica-se uma identificação cada vez maior entre paisagem e cidade (onde tudo percebe-se já como paisagem), na qual os limites entre o natural e o artificial tendem a se dissolver.

Nestas circunstâncias, a questão da forma de se colocar no terreno, num determinado contexto, adquire uma importância fundamental tanto no sentido de atrair ou rejeitar adesões, como de escolher afinidades. As ações de caráter topológico relacionadas com a atitude de imersão ou elevação em relação ao que está contíguo ou próximo, a escolha de aproximações ou afastamentos, de pontos de observação e de comparação, são operações produtoras de sentido que marcam a vontade de independência ou de relação com o contexto, segundo cada caso. Isto mostra um novo estatuto na leitura fenomenológica do contexto na direção de uma maior conectividade, de uma maior interatividade entre os edifícios e o entorno.

Esta topologia conectiva busca criar as condições de captura de ordens espaciais potenciais contidas nas paisagens urbanas contemporâneas, tornando mais aguda a consciência da especificidade de cada enclave, provocando diferenciação mediante o manejo das intensidades 11.


Diagrama das comunidades - Manguinhos

Jorge Mario Jáuregui

1-Relação de textos publicados na AU: www.jauregui.arq.br (publicações)
2- Posmodernidad: una sociedad transparente?, En torno a la Posmodernidad, Gianni Vattimo, Anthropos, Bogotá, 1994.
3- "Manifesto: Novos conteúdos", www. jauregui. arq. br
4- "S, M, L, XL" O.M.A, Rem Koolhaas and Bruce Mau, The Monacelli Press
5- "Un mar de signos", Hajime Yatsuka, Arquitectura Viva No19, pág.16.
6-"La Organización Material del Capitalismo Avanzado", Alejandro Zaera Polo, Domino Arquitectura n°2, Urbanismo, Marzo de 1998, FAU. Montevideo, Uruguay.
7- Conceito utilizado em"Convergências" por Octavio Paz, Rocco, 1991
8-"Tarzanes en el bosque de los medios", Toyo Ito, Revista 2G, No126, 1997.
9-"L'invention des formes", Alain Boutot, editions Odile Jacob, Paris, 1993.
10-"Manifesto: a revolução morfológica", op. cit.
11-No sentido em que Gilles Deleuze utiliza este conceito.


Le 21ème siècle

Au long du 20ème siècle, les interrogations successives tant au niveau de l’architecture que de l’urbanisme réalisent un tour complet dans la «spirale de l’Histoire» de la modernité. Ce qui débuta lors des premières décennies de ce siècle comme une lutte pour se libérer d’un passé architectural et urbanistique hérité, a eu tendance à se fractionner. C´est la perte de sens du principe de modernité qui est la cause principale de ce fractionnement et des conséquences abordées dans plusieurs de nos articles. 1

De nos jours l’accroissement des moyens de communication 2 , la pluralité des cultures ainsi que la multiplicité de conceptions du monde qui se valent, ont mis en place un terreau favorable à une véritable «ré-vision» de la modernité.

À ce cheminement marqué par le passage entre période héroïque, arrivée au pouvoir, crise, rejet, ou encore critique ontologique, viennent s’ajouter une relecture et une réappropriation qui définit alors une nouvelle modernité, moins gênée par son héritage. Cette nouvelle relation reconsidère la conception de l’objet architectural et de la pensé urbaine. Elle se réfère au langage spatial, au concept d’ordre et  à l’interprétation du « corps architectural».

Le Mouvement Moderne se posait d’abord comme un vecteur de démocratisation de l’architecture et d´accès a la ville. Il cherchait à garantir à tout un chacun le minimum nécessaire et à redéfinir notre  rapport à la nature. Ce modèle qui vouait une foi aveugle au progrès, en la technique, en la raison et en la volonté de renouveau, entre en crise dans les années 60. Aujourd’hui, il est possible d’évoluer les effets profonds  des changements qui ont lieux dans quatres champs differencies et qui interragissent entre eux : urbanisme, architecture, langage et environnement.

Sur le plan urbanistique, le Mouvement Moderne avait tendance à substituer l’existant. La ville été conçue de manière réductrice . Elle été appréhendée en «zones» différenciées de travail, de résidence, de services et de loisirs, mais liées entre elles par la voirie. Ce concept même constitue les faiblesses de son élaboration dans la tentative de proposer un nouveau scénario de civilisation, un nouveau concept de la relation entre le Urbis (support physique et marque de l’urbanité) et Civitas (condition de la citoyenneté). La  principal défis légué par la modernité serait la redéfinition de la relation entre le monde naturel et les édifications humaines, entre l’espace public et l’espace privé, entre l’individu et la société. Ce ne serait plus la loi du marché qui définirait cette relation, il y aurait une articulation entre articulation entre les nouvelles demandes sociales (nouveau contenu 3) et le potentiel technologique.

Cet objectif n’a jamais  concrétisé, que ce soit avec de la «Generic City» 4 ou de la «ville inorganique» 5 et reste donc un defis pour ce nouveau siecle. Le fait de concevoir un nouvel urbanisme en accord avec la nature et la ville contemporaine caracterisée par un circuit dense d´information et de desirs (consommation), de moyens de communication, représente un laboratoire pour l’émergence de nouveaux schémas, de nouvelles relations sociales transformant les grands centre metropolitains.

Si autrefois la ville était un monde, aujourd´hui le monde est une ville. Comme le dit Lewis Mumford pour jouer avec ce nouveau scénario, il est nécessaire de s´appuyer sur de nouveaux concepts (rizome, espace lise-espace strié, non linéarité, structures de non-équilibre, espace topologique, etc...)  dans le but de rendre compte des phénomènes provoqués par le capitalisme en état tourbillonnant, pour qui les anciennes notions d´échelle, de mesure et de proportion ne sont plus suffisantes.


Rambla de Manguiños

Aujourd’hui la prédominance des flux, déformation et hétérogénéité dimentionnelle et dynamique, questionnent la spacialité, la constance de forme qui ont caracterisé les structures urbaines et les méthodes d’aménagement traditionnels. Une analyse des mécanismes de l’organisation du capitalisme actuel et de ses liens avec l’urbanisation en cours 6, constitue une contribution importante dans ce sens.
Aujourd´hui  de nombreuses initiatives urbaines ont lieu dans différents pays du monde avec pour objectif d’améliorer la qualité de vie en revitalisant les espaces publics. Ainsi, le renforcement de la singularité de chaque lieu et de ses caractéristiques culturelles à travers la revitalisation des zones centrales, de la création de nouveaux espaces participatifs, de convivialité et de l’implentation de «germes d´urbanité» dans les périphéries contrebalance la tendance à la globalisation.

En Amérique du Sud, les interventions de ces dernières décennies constituent une base de références pour développer de nouvelles initiaitves.

À Rio de Janeiro les interventions concernent aussi bien la revitalization urbaine des zones formelles (programme RIO CIDADE) que l’intégration des favelas à la trame urbaine via la construction d’espaces publics (programme FAVELA-BAIRRO), à l’exception de certaines actions destinés à la récupération des aires centrales de la ville.

Cette recherche d´unification de la ville fracturée par les interventions urbanistiques de grandes envergure dans les favelas de la ville constitue vraissemblablement le levier d´action le plus significatif mené à bien dans toute l´Amérique Latine ces dernières décennies. Ces expériences constituent un véritable laboratoire pouvant être utile pour la majorité des pays de la région.

Buenos Aires se trouve à un moment charnière de sont processus metropolitanisation. Il y a une réflexion autour de la reconvertion et de la mise à niveau  de ses infrastructures urbaines obsolètes et du développement des périphéries centrales. Les projets, études, débats et rálisations se concentrent autour de la forme de l´espace public et de l´architecture en tant que vecteur de l’identité de la ville. Il est proposé d’aller à contre courant de la globalisation et de l´espace marchand, de «l´espace public-spectacle» qui transforme la ville en une « Celebration City » ou en un «Fast Food Plaza». La ville peut être repensée comme un réseau spatial où l´espace public est un levier d´action, où le traitement des grandes infrastructures et la re-identification des grandes scènes locales (centralités de quartier) sont capables d´agir comme foyer pouvant redonner un sens à l’urbanité, permettant d’ordonner la ville.

À Rosario, en Argentine, des liens étroits entre la Faculté d’Architecture et les interventions publiques contribuent à la profusion des réflexions théoriques autour de l’architecture urbaine contemporaine. Les interventions urbaines de la municipalité pendant près de quinze ans ont permis la reconstruction des services publics de la ville à travers des projets d´architecture du paysage et des bâtiments. Pour Oriol Bohigas, le projet du Parque Espanha a été «notre première commande en dehors de notre pays ; cette préoccupation de l’ouverture de la ville vers le fleuve et à la mer a débutée à Rosario et plus tard nous l’avons concrétisée à Barcelone et dans d’autres villes.»


Parc Linéaire Métropolitain de Manguiños

À Cordoba, um programme de requalification de l’espace public développé par intermittence depuis les années 80 tend à renforcer la centralité du vieux secteur en se focalisant sur la mobilité piétonne et en créant des centre de citoyenneté (CPC) dans les quertiers périphériques en conjugant activités sociales, culturelles et de services, marqueurs de territoires.

Le traitement corps architectural porté par Mouvement Moderne, recherche légèreté, transparence, une certaine dématérialisation de l’objet et une élaboration volumétrique et spatiale est aujourd’hui encré dans le présent 7. Elle est permise par le dessin assisté par ordinateur et la nouvelle géométrie (plis, etc).

C’est dernières années, il y a un intérêt croissant pour le traitement des surfaces et du revêtement des édifices, en tant qu’outil d’incertion et de lien avec l’environnement. Chaque projet a désormais un point de départ unique. L’expression sementique perd de son importance et cède la place à un traitement architectural abstrait, que ce soit avec la version translucide de Franck Gehry, la version colorée et «fractile» de Daniel Libeskind, la version  «contrastée» de Toyo Ito (contrepoint entre opacité, transparence et translucidité), celle «textualisée» de Herzog et de Meuron (siège viticole de Napa Valley) ou encore les versions «silk-screen» d’architectes comme Jean Nouvel Francis Soler ou Iñaki Abalos et Juan Herreros. Pour ces derniersm il est possible d’identifier un regain d’intérêt dans le traitement des surfaces à travers un aspect figuratif (lorsque l’ornement se transforme en texture, perdant sa tridimentionnalité et devenant un tatouage) dans la lignée d’une relecture des expériences réalisées par Mies au Pavillon de Barcelone, bâtiment de référence de l’architecture moderne. 8

La référence à la géométrie en tant que base de l’architecture de «Vers une Architecture» de Le Corbusier constitue une ressource «moderne» toujours d’actualité. Mais si les architectes modernes travaillaient encore avec un référentiel euclidien, les nouvelles géométries 9 ont étendu le champs des possibilités de manipulation volumétriques vers des horizons insoupçonnés, en permettant un degrés d’abstraction beaucoup plus important que toute architecture antérieure et une abscence de figuration techtonique.

Le travail avec ces nouvelles géométries et la possibilté de superpositions multiples et fluides dérivées des nouvelles technologies digitales créent les conditions pour un enrichissement insolite dans le champs de l’élaboration des objets architecturaux. Le jeu sur les antagonismes oeuvre en faveur d’espaces continus,  hétérogènes et harmonieux. C’est à travers l’intéraction entre la géométrie euclidienne et non-euclidienne qu’il sera possible d’obtenir de nouveaux effets dans le sens d’une configuration des corps architecturaux.

Le «langage architectural» demeure l’un des champs les plus conflictuels de la discipline et constitue le tournant de l’acceptation ou non d’une proposition de projet. Notamment depuis le concours pour le Palais des Soviets lors duquel  le projet de Le Corbusier fut rejeté en raison d’un «langage innovateur», qui s’ensuivit d’innombrables exemples à travers le monde et le Brésil.

Le champs de l’architecture oscille entre deux positions extrêmes et négatives : l’acceptation sans discution de ce qui vient d’ailleurs légitimé par les «publications» et le jugement des propositions éloignées du conscensus, des «goûts moyens», d’un médiocre professionnalisme. C’est dans ce champs du langage où devra avoir lieu une lutte pour aboutir à de nouveaux horizons à partir d’une position intellectuelle et de responsabilité culturelle beaucoup plus ouverte et en même temps capable d’expliciter les principes de référence.


Vue aérienne Vidigal

Pendant les années 90, le langage architectural historique, destructuré par la déconstruction pour générer une nouvelle langue comme forme d’expression. C’est à dire des entités architecturales telles que la construction et les valeurs tipologiques connaissent un processus de reconfiguration provoqué par l’utilisation des nouvelles technologies tout comme par  l’adoption de la pensée flexible. Cela emmene à de profonds changements des interractions entre l’imagination, la technique, la conception de formes, de l’espace, et des interractions selon le contexte.

Aujourd’hui, il y a une tendance à reprendre les commandes antérieures et de les adapter à de nouveaux paradigmes 10, en tentant de substituer les systèmes conservateurs (ceux basés sur l’idée d’unité, d’équilibre et de perfection) par des systèmes ouverts non-conservateurs, vaguement délimités, incluant imperfection et stabilité structurelle.

L’art et l’architecture en tant qu’art n’a pas pour fonction d’appaiser les conflits. Elle doit montrer ce qui doit être exposé et faire ce qui doit être fait, sans essayer de plaire. Il est nécessaire de construire des connexions (grandes ou petites) avec les mouvements du monde et non pas chercher à leur plaire.

La relation entre l’architecture et l’environnement est principalement marquée par «l’artificialisation» permanente du monde. Ainsi, la croissante intermédiation de la technique dans l’accès à la réalité crée paradoxalement le besoin de revalorisation et de création des conditions d’accès au «monde naturel». Dans le champs de notre discipline, cela implique une attention croissante de l’accès direct aux éléments naturels (lumière, vent, terre, pluie, points de vue, végétation, etc) à travers de la création d’espaces paysagers et environnementalement contrôlés. Mais c’est la combinaison ente la haute technologie et les conditions locales qui permet de structurer les flux naturels et électroniques. Le défis actuel consiste en cela.

Dans cette phase du capitalisme, il est plus que nécessaire de considérer les effets des «investiments» sur l’environnement afin d’inclure la variable «éco» aussi bien dans le calcul coût-bénéfices que dans les transformations négatives ou positives imposées à tout environnement.

Il y a une association de plus en plus importante entre le paysage et la ville: tout devient paysage. L’urbanisation généralisée de la planète tend à dissoudre les limites entre le naturel et l’artificiel.
Dans ces circonstances le positionnement sur le terrain, dans un contexte donné, acquiert une importance fondamentale aussi bien pour attirer ou rejetter les adhésions que choisir les affinités. Les actions à caractère topologique liées à des attitudes d’immertion ou d’élévation continguentes ou proches, le choix de l’approximation ou d’éloignement, des points d’observation et de comparaison, selon les cas. Cela montre   une nouvelle façon de lire en faveur d’une connectivité plus importante d’une plus grande interractivité entre les édifices et leur environnement.

Cette topologie connective recherche les conditions de capture des commandes spatiales potentielles contenues dans les paysages urbains contemporains, rendant plus pointue la conscience des spécificités de chaque enclave, provocant la différentiation à travers la gestion de l’intensité. 11