Encontro de duas lógicas Os processos atuais implicam um desafio para todos os "atores" da cidade: para os habitantes, obrigados a novos comportamentos, para os profissionais que tem que fazer evoluir as formas de conceber e intervir, e para os tomadores de decisões de interesse público, obrigados a orientar e arbitar em parcerias de projetos de grande complexidade abrangendo diversas escalas. Nas grandes metrópoles contemporâneas existe a necessidade de agrupar residências como estratégia urbana sustentável e por isso os núcleos habitacionais multi-familiares são um desafio vigente que desencadeiam novos cenários urbanístico-paisagístico-arquitetônicos. Os processos sociais demandam novos espaços habitacionais e a necessidade de densificar o uso do solo urbano para atender a essa necessidade. Magnitude e estratégia de inserção cumprem um importante papel como agentes de renovação urbana ajudando a configurar novos espaços de vida em consonância com a cidade contemporânea. Hoje resulta fundamental pensar os projetos em relação com o aporte urbano que podem realizar, a maneira como contribuem para "construir cidade", reconfigurando o lugar onde se inserem. A influência do projeto no espaço urbano pode ajudar a conseguir uma cidade mais amável, habitável e sustentável. A maneira na qual o projeto se implanta no terreno possibilita uma série de relações com o entorno, que activam formas de entender e recompor o espaço circundante. Os espaços de transição público-privado se convertem em recurso de design para estruturar agrupamentos que resignifiquem o lugar. Num entorno consolidado, um vazio urbano é utilizado para relocalizar habitantes deslocados pelo alargamento de uma viela, transformada agora em rua carroçável. O terreno ocupado por um estacionamento privado de ônibus é desapropriado pela Prefeitura para a criação desta nova centralidade constituída por unidades habitacionais em edificações de pavimento térreo e três andares superiores. O novo núcleo é estruturado mediante uma sequência de pátios, praças e espaços de convivência de diferentes dimensões, permeáveis e abertos ao entorno, permitindo diversas formas de penetração, atravessamento e permanência. Este centro habitacional com a sua praça voltada para a rua principal (a Estrada da Gávea) constitui agora um novo ponto de referência na comunidade, claramente perceptível tanto do ponto de vista do pedestre que circula pelas ruas perimetrais, quanto desde os diversos pontos de observação oferecidos pela topografia do lugar que permite visuais desde o topo dos morros circundantes. Partindo da leitura da estrutura do lugar buscou-se "compor" com o existente, nem em oposição, nem mimeticamente, procurando uma "inserção soft" no contexto, provocando continuidade. Na Rocinha a incorporação ao contexto se da através da correspondência de alturas, do uso das cores, das relações cheio-vazio no corpo das edificações; do uso dos materiais, do tratamento das bordas do construído, da incorporação de jardins e de espaços de uso coletivo abertos, da criação de novos acessos, da praça de articulação com o resto da favela, e do alargamento da rua 4. O uso da cor na cultura popular está associado à ideia de beleza.
Jorge Mario Jáuregui
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