- O Sentido do Essencial (Cultura e Pensamento)
- Construir a partir do conflito
- Entrevista ao Arquiteto Jorge Mário Jauregui _Henrique dos Santos / Arquiteto Rio-Angola 2004 -2005
- Jorge Mario Jáuregui on Favela's Urbanization
- En la Argentina todavía se puede resolver el tema de las villas
- Elisabeth Blum and Peter Neitzke
- Urban Explorer - Transforming Rio: New Urbanization Projects in the Most Unlikely Places by Noah Lewkowitz
- Alegria dos Casebres
- GSD Prize awarded for transforming Rio Slums
- Freude den Hütten
- Brazilian Heatwave
- Entrevista a Cafe de las Ciudades
- Intervista
- Paulo Mendes da Rocha
- Clorindo Testa
- Urbanização de favelas é obra de arte na "documenta" 12
- Interview with Anna Holtzman for Architecture Magazine
- Mais de cem anos de favela
- Metropolis-Favelas: work in progress
O Sentido do Essencial
Topo
- Construir a partir do conflito
Jorge
Mario Jáuregui, é um "carioca" de origem Argentina, que encontrou o seu
lugar na arquitectura e no mundo ao lidar com o conflito entre a cidade
formal e a cidade informal.
O Rio, cidade magnífica, cheia de contradições e de contrastes, apaixonou
este arquitecto, que fez do corpo a corpo com as suas populações mais
desfavorecidas, o seu dia a dia.
Arquitecto e Urbanista é um erudito, e faz da sua erudição uma arma para
lidar com uma realidade tão rude e difícil como é a das favelas do Rio
de Janeiro, trazendo às suas populações "poesia" feita em forma de urbanidade,
em betão, ferro, tijolo e cor.
Jorge
Mário Jauregui é formado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade
Nacional de Rosario, Argentina. Vive no Rio de Janeiro onde
tem o seu gabinete de arquitectura. É Arquitecto Urbanista pela Faculdade
de Arquitectura da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em 1999 ganha o Grande Prémio da Bienal Internacional de Arquitectura
de São Paulo e no ano seguinte o "Sixth Veronica Rudge Green Prize" em
Desenho Urbano da Universidade de Harvard, galardão que já havia sido
atribuído a Siza Vieira e a Norman Foster. Em 2002 recebeu o 1º Prémio
de Investigação da Bienal Ibero-americana de Santiago do Chile.
Acaba de ter publicados "Estratégias de Articulación Urbana", pela Ediciones
FADU da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de Buenos
Aires, (editorial@fadu.uba.ar), e o "The Favela-Bairro Project, Jorge
Mario Jáuregui Architects", pela Harvard University Graduate School of
Design, Cambridge, Massachusetts.
Entre os seus principais trabalhos, todos na cidade do Rio de Janeiro,
estão a Requalificação Urbana da Rua do Catete (programa Rio-Cidade) na
zona Centro; o Mobiliário Urbano para a zona sul; um projecto para a Frente
Marítima (Waterfront) e a Urbanização de mais de vinte favelas em diferentes
locais da cidade (programa Favela-Bairro).
Entrevista
e foto do entrevistado: José Costa Pina
ARQUITECTURA
e VIDA - O seu percurso profissional é muito variado, vai do design ao
urbanismo, passando pela crítica arquitectónica, a filosofia e uma relação
muito próxima com a psicanálise e as artes; no entanto, é através do trabalho
de intervenção na cidade "não formal" (Favelas) que veio o reconhecimento
internacional através de vários prémios.
O teu trabalho centra-se na bipolaridade da cidade formal e não formal,
podes explicar-nos melhor estes conceitos?
Realmente
tive esse privilégio (hoje o vejo assim) de haver podido chamar a atenção
para este aspecto, quantitativa e qualitativamente, tão importante no
nosso continente, que é a "cidade informal". Na América Latina, a questão
da bipolaridade "formal / não formal" adquire conotações muito especiais.
Foi a partir da exigência de pensar numa metodologia específica de carácter
inter-disciplinar e da necessidade de interpretar as demandas da população
que dei início a um processo de reflexão muito particular, para o qual
não tinha tido oportunidade de pensar, antes do surgimento do programa
de urbanização de favelas.
Uma
das diferenças fundamentais entre intervir na cidade formal e na cidade
informal é que, esta última, exige articular os aspectos físicos (urbanístico-arquitectónico-ambientais)
com os sociais (económico-cultural-existenciais) e os ecológicos, considerando
as três ecologias mencionadas por Felix Guattari (ecologia mental, ecologia
social e ecologia ambiental) de forma simultânea, no mesmo acto projectual.
A
outra exigência muito particular deste tipo de intervenções é a da "escuta
das demandas" da população, para o qual é possivel se apropriar, de forma
consciente, da metodologia da psicanálise (atenção flutuante e associação
livre). Isto significa que não se trata simplesmente de responder às demandas
senão de reinterpretá-las diferenciando entre demanda manifesta e demanda
latente.
Por
outro lado este tipo de trabalho ligado à complexidade, exige uma apropriação
de conceitos da filosofia, tais como o conceito de rizoma, o conceito
de dobra e os conceitos de espaço liso e espaço estriado, entre outros,
bem como dos conceitos da teoria do caos, tomada aqui na sua perspectiva
de "extrema sensibilidade às condições iniciais", que é um aspecto muito
relevante em relação ao trabalho nas favelas.
O
programa denominado Favela-Bairro, implantado pela Prefeitura do Rio,
veio transformar o panorama urbanístico do Rio de Janeiro, de que forma?
De que é que se trata?
Antes
da existência deste programa (Favela-Bairro), que não é outra coisa senão
a sistematização e reformulação da experiência acumulada durante décadas
de intervenção nas nossas grandes cidades (onde só havia actuações de
caráter fragmentário tais como saneamento básico, contenção de encostas,
relocação de residências em áreas de risco, etc), mas de forma desconexa,
hoje, se trata de pensar primeiro o global, isto é, ter uma reflexão sobre
a cidade como um todo, e a partir da leitura da estrutura de cada lugar,
e da escuta das demandas, derivar o Partido Urbanístico, isto é, o princípio
estruturador geral de um projecto.
Perspectiva parque metropolitano de Manguinhos
Outros
programas foram também implantados, quais foram e quais as suas diferenças,
virtudes e defeitos?
Existem
de facto vários programas para atender às diferentes escalas dos problemas.
Digamos que existe um leque S-M-L-XL isto é, a escala pequena, a média,
a grande e a extra-grande nas intervenções. Eu comecei intervindo na escala
média que é o programa Favela-Bairro (destinado a comunidades que tem
entre 500 e 2500 famílias), fiz também intervenções na pequena escala,
no programa Bairrinho (menos que 500 famílias), intervenções para a grande
escala, como a favela de Rio das Pedras, Programa Grandes Favelas (12.000
famílias ou 60.000 habitantes) e estou trabalhando, agora, na escala extra-grande,
no Complexo do Alemão e no Complexo de Manguinhos, que são grupamentos
urbanístico-sociais de escala territorial.
Trata-se
da elaboração de estruturações tipo Plano Diretor, para extensas áreas
que abrangem 11 favelas com uma população de 250.000 habitantes no caso
do Complexo do Alemão, e cerca de 110.000 habitantes no caso do Complexo
de Manguinhos...Cada uma destas escalas demanda formas de abordagem, metodologias
e formas de trabalho, claramente, diferenciadas.
Vários
outros gabinetes, estão a trabalhar no mesmo programa do Favela-Bairro.
Qual é a razão dos vossos prémios e qual é a diferença e a originalidade
das vossas propostas?
Do
meu ponto de vista, a diferença fundamental consiste no "approach" projectual.
Enfrento
cada novo desafio projectual como se de um experimento se tratasse, e
não como uma forma de manter apenas uma estrutura produtiva. Isto significa
que há sempre algo em jogo comandando o projecto que, como dizem os psicanalistas,
tem a ver fundamentalmente com o "desejo".
Consciente
ou inconscientemente, é a capacidade de estabelecermos com os nossos interlocutores
uma "transferência" o que cria condições, mais ou menos favoráveis, para
a elaboração de um projecto. Além, é claro, da capacidade técnica e do
saber disciplinar específico com que devemos contar para poder intervir
em situações que envolvem extrema complexidade, como é o caso das intervenções
que visam a articulação da cidade partida, onde se interceptam lógicas
da mais variada índole, sob as mais diferenciadas circunstâncias.
Caetano
Veloso tem uma frase bem significativa a respeito disso quando diz: "agente
não sabe o lugar certo onde colocar o desejo" e, como arquitectos, sempre
precisamos estar "encontrando" esse lugar.
Outro aspecto que penso pode ser um factor diferenciador do meu trabalho,
é a abertura, a receptividade permanente ao intercâmbio e à pesquisa no
campo projectual. No meu escritório trabalha gente de origens e formações
muito variadas durante diferentes períodos, o que representa um estímulo
intelectual importante.
Sendo
o vosso trabalho, claramente, interdisciplinar qual é o papel que cabe
ao arquitecto nessas equipas?
As
equipas de trabalho são constituídas por arquitectos-urbanistas, engenheiros
civis das várias especialidades (de trânsito, de infraestruturas, de contenções,
etc) geógrafos, sociólogos, assistentes sociais, consultores de programação
artística e cultural, e também, mantenho diálogo permanente com psicanalistas
e filósofos, como já mencionei. O arquitecto-urbanista é o coordenador
da equipa e quem canaliza e sintetiza todas as decisões projectuais.
Qual
é a abordagem que a vossa equipa faz do território no caso das favelas?
Hoje
em dia, quando se quer intervir em problemas complexos como, por exemplo,
o de articular a cidade formal com a cidade informal, a cidade dos fluxos
com a cidade dos lugares, é necessário trabalhar de forma coordenada pondo
em relação e interceptando diferentes visões e formas de abordar, problemas
que vão desde o urbano, ao social, ao económico, ao ecológico, e onde
se entrecruzam o ético (isto é, o que tem a ver com princípios), o estético
(isto é, o desafio do novo) e o político (o que implica a relação sempre
tensa com as estruturas de poder). A abordagem deve ser, claramente, transdisciplinar,
quer dizer, deve tender para a busca da coincidência de paradigmas, como
mínimo, duas a duas disciplinas.
Eu vejo o território das favelas como um "campo adubado", como um lugar
onde é possível fazer surgir o novo, rearticulando-o sobre novas bases.
Essa
abordagem é muito diversa do tipo de abordagem que deverá ser feita na
parte formal das cidades?
A
forma de actuação é , claramente, diferenciada da actuação na cidade formal,
principalmente no que se refere à "escuta das demandas", onde o diálogo
é menos "interactivo" (no caso da cidade formal). Isto significa que a
participação dos destinatários dos projectos, no caso das favelas, adquire
diversas conotações; inicialmente são interlocutores para a definição
dos programas, posteriormente colaboram na fiscalização da execução das
obras e finalmente fazem parte do posto de orientação urbanístico e social
que é instalado em cada comunidade urbanizada, pós-obras.
Pelas
visitas que efectuámos às favelas onde intervieste, pudemos constatar
a introdução de uma série de novos programas de grande interesse social.
Quais são e qual é a importância de que se revestem no seio dessas comunidades?
O
objectivo das intervenções é, claramente, "construir cidade".
Isto
significa, introduzir os atributos da urbanidade em lugares carentes de
toda a presença da dimensão do espaço público. Na favela existe de tudo
menos espaço público e edificações representativas da presença do poder
público na comunidade e é isto que buscamos introduzir, juntamente, é
claro, com novas condições de acessibilidade, com a recomposição das centralidades,
e a incorporação de novos serviços e equipamentos.
Assim,
a introdução de Centros Profissionalizantes, Centros de Geração de Trabalho
e Renda, Centros Culturais, Creches, Escolas, Instalações Desportivas,
Centros de Saúde; Praças, Parques e Espaços Públicos; novos traçados viários
veículares e de pedestres, projectos para recolha e tratamento do lixo,
constituem ao mesmo tempo, novos componentes reais, simbólicos e estéticos,
no interior de áreas desestruturadas.
Constatámos,
também, uma grande preocupação formal num programa que é de base, claramente,
social. Qual é o espaço que encontraste para uma pesquisa formal e quais
são as influências que a vossa intervenção trouxe ao modo de viver e pensar
dessas pessoas?
Na
verdade não encontrei nenhum espaço para a criação formal, tive que criá-lo.
Isto significa que, muitas vezes, você deve criar as condições para a
recepção de um projecto, sobretudo em relação ao próprio poder público,
que no que a ele respeita, só está interessado, na maioria das vezes,
no cumprimento do contrato e não na qualidade do que se faz.
A
influência principal, no modo de viver e pensar das pessoas às quais se
destinam as nossas intervenções, consiste na mudança radical que elas
provocam quanto à sua auto estima.
Como
diz o crítico Roberto Segre, "é emocionante visitar uma comunidade urbanizada
pela equipe de Jorge Mario Jàuregui e perceber, tanto no ambiente físico,
quanto no estado de espírito das pessoas, a fundamental mudança quanto
a passar a se sentirem parte da cidade formal", pois, a partir desse momento,
com as mudanças físicas vem também a regularização da situação fundiária
que faz parte da passagem da situação informal para a formal, e da exclusão
para a inclusão.
Outro
sintoma fundamental das mudanças, está no facto de que, da mesma maneira
do que na cidade formal, nas favelas, a partir do investimento público
há uma resposta imediata de cada morador que passa a investir, também,
na melhoria de sua própria moradia, o que contribui para uma transformação
radical do ambiente físico.
Numa
das vossas intervenções, penso especialmente em Fubá/Campinho, tens uma
clara citação da Casa das Canoas, no bloco de apoio ao campo de futebol,
é uma homenagem ao mestre Oscar Niemeyer?
Sim,
trata-se da Vila Olímpica implantada nessa comunidade, onde o programa,
uma instalação para actividades desportivas incluindo campo de futebol,
pista de atletismo e edificações de apoio, permitiram trabalhar com uma
estrutura de tectos suspensos funcionando como grandes guarda-sois em
betão aparente, abertos ao entorno. É sim uma referência à Casa das Canoas,
uma espécie de homenagem ao mestre, que constitui, para mim, um marco
referencial fundamental da Arquitectura Moderna Latino-Americana.
O
Oscar Niemeyer é um grande arquitecto e largamente conhecido pelo seu
discurso de esquerda com grandes preocupações sociais. No entanto a nível
da sua prática arquitectónica ficou sempre ligado ao poder, como ele mesmo
admite. Como é que vês as posturas sociais do Oscar e que diferenças ou
semelhanças podes constatar no vosso trabalho? Essas diferenças podem
configurar duas posturas diferentes, uma moderna e outra pós-moderna?
É
às vezes paradoxal, como entre as declarações de intenções e a prática
concreta na relação com os "clientes", aparecem as dicotomias. Realmente,
Oscar quase não teve oportunidade de lidar com as necessidades dos sectores
mais desfavorecidos, talvez porque as demandas concretas de projecto o
levaram noutra direcção, a pesar da sua posição político-ideológica.
Hoje,
no entanto, a questão da articulação da cidade fragmentada, tanto física
quanto socialmente, se transformou no máximo desafio em toda a América
Latina. Penso que esta é uma das diferenças fundamentais de foco entre
o modernismo e a situação actual.
Agora,
partimos da leitura da cidade existente e buscamos realizar nela novas
conectividades visando sua re-articulação, mais do que "inventar do zero",
que era a postura moderna. A posição hoje, pode ser caracterizada como
uma atitude de "extrema sensibilidade às condições iniciais", em oposição
à atitude moderna de imposição ao lugar.
Planta parque
metropolitano de Manguinhos
Qual
é a avaliação, que fazes hoje, da arquitectura contemporânea no Brasil?
O
Brasil, teve a sua contribuição principal ao cenário internacional, primeiro,
durante o período colonial com a elaboração e processamento dos modelos
do barroco chegados desde Portugal, onde se destacam entre outros, o trabalho
do Aleijadinho em Minas Gerais, depois mediante as obras de alta qualidade
produzidas no perído da Art Decó, e finalmente durante o período moderno,
onde toda uma plêiade de arquitectos absorveram os princípios modernos
e os souberam traduzir em obras que até hoje continuam sendo referências,
fonte para releituras.
Hoje,
no entanto, o panorama é completamente diferente e o país perdeu sua participação
no diálogo internacional. Depois do período heróico moderno, poucos arquitectos
brasileiros têm realizado uma obra significativa e representativa das
grandes transformações que aconteceram no mundo após esse momento . Somente,
Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha continuaram a produzir uma obra
consistente, cada um à sua maneira. É nas jovens gerações que hoje despontam
sinais de renovação, que apontam para a busca de uma re-inserção do Brasil
no cenário internacional.
O
teu trabalho, além da urbanização das favelas, tem também uma pesquisa
teórica e formal, que está conectada com a vanguarda conceptual. Como
te situas neste campo, em relação ao momento actual?
Sempre
me interessou e participei da discussão teórica sobre os rumos da arquitectura
e do urbanismo contemporâneos. Como você sabe, eu sempre escrevo e publico
artigos e ensaios e também dicto seminários e realizo oficinas de projecto
em vários países de América Latina.
Nas
últimas oficinas de projecto (chamadas de Taller) que realizei em Montevideo
e Cidade do México, a questão da relação entre teoria e prática projectual
está no centro das considerações. Neste sentido, hoje me interessa, enormemente,
a questão da pesquisa entorno das questões relativas à genética urbana
e à função dos diagramas nas elaborações projectuais.
O
que podemos chamar de "genética urbana" tem haver com a busca de uma sistematização
elástica, topológica, da forma, considerando os processos espaciais, desenvolvidos
no tempo.
As estruturas urbanas comportam-se como tecidos vivos e portanto podem
mutar seus códigos de programas e materiais, através de enxertos em áreas
específicas visando provocar mutações.
Por
outro lado, o diagrama serve como critério de acção, como trajectória
seminal ou como programa-base de um sistema ou dispositivo operativo e/ou
gerador. Um diagrama resume múltiplas operações numa só, sintetizando
sobre um suporte legível uma série de códigos contendo significados ou
informações.
Um diagrama é uma cartografia de movimentos e seu valor principal é o
de expressar uma sugestão de totalidade.
Um
dos teus projectos mais recentes, a Casa Klein, apresenta características
muito especiais (é quase um manifesto), e tem um embasamento teórico muito
ligado à geometria não-linear, e em especial às pesquisas psicanalíticas
de Jacques Lacan, podes falar-nos sobre isso?
O
Projecto da Casa Klein me permitiu indagar em torno de questões que venho
elaborando nos últimos anos, relativas às relações entre arquitectura
e psicanálise, e por este viés, na busca de uma arquitectura topológica,
como forma de investigação e de buscas para além da modernidade. Estas
buscas passam hoje pela utilização de uma geometria não-linear, topológica,
capaz de possibilitar uma continuidade interior-exterior, sem interrupções,
um continuum dentro-fora imprimindo uma expressão dinâmica às formas,
ao mesmo tempo que mantendo as conquistas modernas relativas à leveza,
transparência e uma certa "desmaterialização" do objecto (pensando em
Mies, por exemplo).
Casa
Klein
Para
Lacan, a arquitectura está estruturada em torno do vazio (tomando o exemplo
do oleiro, que configura o vazio definindo suas bordas, os limites do
vaso) e o que a diferencia do edifício é a potência lógica que a ordena,
além do que o edifício suporta de possível utilização. Isto tem fortes
sugestões para nós arquitectos, no sentido de nos estimular a pensar o
objecto "pelas suas bordas", partindo da definição, do modelado das superfícies
"para configurar espaço".
Este
vazio é a verdadeira razão de ser da arquitectura e "não deve ser preenchido".
Na cidade é a mesma coisa. O espaço colectivo, que não é apenas aquilo
que não está construído, é precisamente o que mantém juntas as partes
(os fragmentos de que se compõe o urbano) é a razão de ser da cidade,
e neste sentido tem um carácter sagrado; por isso não deve ser preenchido,
mas sim "modelado", num permanente processo de configuração e re-configuração,
onde cada época deixa a sua "marca", o seu traço.
Assim,
tanto o espaço interior (objecto) quanto o espaço "exterior" (urbano)
não podem ser definidos somente em função dos usos, devendo ir bem além
da sua função. Por isso pertencem ao campo do simbólico, como produtos
de uma cultura, onde, como sabemos, a relação entre o local (o lugar)
e o universal estão na base das significações. Nós poderíamos pensar também
esta configuração do espaço, como tendo dois impulsos diferentes e contrapostos.
Como sendo a interseção entre o espaço de fluxos (individuais, colectivos,
de informações; fluxos naturais e electrónicos) e o espaço sensível ao
lugar (à topografia, à paisagem, ao clima, à cultura).
Sendo
as cidades e a realidade Latino Americanas muito diferentes da europeia,
quais as lições e recomendações que poderiam ser aplicadas às cidades
em Países como Portugal e em sociedades como a nossa?
Hoje,
a fragmentação social e do tecido urbano é um mal que assola as cidades
em todo o mundo e não somente na América Latina; claro que esta fragmentação,
apresenta enormes diferenças segundo se trate de países inseridos num
contexto de desenvolvimento, como Portugal e Espanha, ou no contexto de
dependência Latino Americano. De qualquer forma, a necessidade de pensar
a articulação do partido, do dividido, do fragmentado, apresenta exigências
comuns quanto à abordagem metodológica para tratar com situações de complexidade.
Sabemos,
que a questão urbana contemporânea é uma das problemáticas mais complexas
que existem e, que por isso, exige uma abordagem com instrumentos que
devem ser fornecidos desde várias disciplinas, porém, coordenadas desde
uma visão urbanístico-arquitectónica. Neste sentido, creio que seria de
sumo interesse poder realizar estudos simultâneos e comparados na América
Latina, Europa e África (que compartem historicamente problemas e experiências
de intervenção urbanística) abordando as questões de uma maneira integrada,
onde o urbano, o social, o cultural e o económico formem o núcleo das
considerações.
Nas
minhas visitas a Lisboa, tenho podido perceber, tanto problemas de desestruturação
urbana, quanto de indesejáveis e descontroladas extensões das periferias,
que demandam uma ação coordenada das diferentes instancias dos poderes
públicos, antes que a dimensão e a gravidade dos problemas os tornem muito
mais difíceis e custosos de manejar. Para isto, é necessário formular
novas estratégias flexíveis de articulação e desenho urbano, desde um
pensamento que contemple uma visão abrangente, não reducionista das questões
envolvidas. Questões que envolvem a própria forma de aproximação (approach),
os conceitos a serem utilizados, as metodologias empregadas, a necessidade
de realizar com precisão a adequada leitura da estrutura de cada lugar,
os dispositivos a serem utilizados para a "escuta das demandas", as articulações
entre cultura profissional e cultura popular a serem feitas, e a construção
de "vazios significativos", todo o qual constitui um complexo emaranhado
de "material e imaterial" que deve ser articulado nos estudos e projectos,
de modo consistente.
Sintetizando
a minha visão, poderia dizer que "urbanizar favelas implica forçar o caos
até converte-lo em forma".
Topo
- Entrevista
ao Arquiteto Jorge Mário Jauregui _Henrique dos Santos / Arquiteto
Rio-Angola 2004 -2005
1-
Nos dias de hoje as sociedades (teoricamente) organizadas, em especial
as grandes metrópoles, maiores ou menores em extensão e
complexidade, enfrentam problemas como a exclusão social e urbana,
a violência e o crescimento da sua “urbe” de forma desorganizada
em alguns casos. Até que ponto acha que profissionais como o Arquitecto
tem a ver com esses mesmos problemas e qual pode ser a sua contribuição
nesses aspectos num futuro próximo?
R1: Em relação a primeira questão diria
o seguinte; as metrópoles a que te referes localizam-se nos cinco
continentes e com as devidas particularidades de diferenciação
entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento, que é
uma espécie de eufemismo para nos referirmos aos nossos países,
sejam na América Latina, na Ásia ou África, esses
problemas das grandes metrópoles são diferentes segundo
a sua localização geográfica. Por exemplo, nos últimos
anos estas grandes metrópoles Chinesas que apareceram de repente,
que emergiram nas últimas décadas, que apareceram no cenário
internacional como grandes devoradoras de território e produtoras,
entre aspas, de “desenvolvimento”, ou pelo menos imagens do
que se entendia tradicionalmente por desenvolvimento, hoje em dia todas
elas enfrentam este problema, basicamente de deterioração
das suas zonas centrais e de enorme expansão das suas periferias.
Em que sentido poderia então o arquitecto contribuir para uma solução
do problema? Claro que pode contribuir, e se assim posso dizer, de “forma
particularizada”; por exemplo, vou me referir a América Latina
que é o cenário que melhor conheço em profundidade
pois, embora conheça outros, apenas tenho referências bibliográficas
ou estadias esporádicas a algumas cidades, o que me impossibilita
um diagnóstico profundo.
Refiro-me então ‘as grandes metrópoles Latino-americanas
como São Paulo, Rio de Janeiro, Caracas, Cidade do México,
Buenos-Aires, que dentro deste contexto são consideradas “áreas
problema”, digamos assim. No que é que o Arquitecto pode
contribuir nesse sentido, num futuro imediato e próximo?
É claro que existe uma tremenda demanda pela participação
do arquitecto urbanista, pois já não podemos sequer separar
estes dois termos, o “fazedor de objectos” e o “incluidor
desse objecto num contexto específico”, que tem a ver com
essa questão que a pouco falávamos do “mitocôndrial”
a que te referias, que não conhecia e que agora incorporo, mas
que remete a outras questões como “genética urbana”
ou “génesis urbana”, ou até mesmo a eco-génesis,
que é uma questão que hoje preocupa a todos nós arquitectos.
Logo, a nossa contribuição sem dúvida será
entender a nossa participação dentro de um contexto que
só podemos definir de “alta complexidade”. Assim, para
intervir nesse contexto de alta complexidade temos que contar com conceitos,
metodologias e experiência, quer dizer, temos que estar já
inseridos de alguma maneira neste contexto, fazendo “parte de”,
e fazendo tentativas sempre renovadas de interacção, entre
a realidade macro e as intervenções micro, pois as nossas
intervenções sempre serão pequenas em relação
ao todo, mesmo que actuemos em grandes escalas. Como sabemos, um arquitecto
atua basicamente em quatro escalas de intervenção, ou melhor
tem quatro níveis: a escala pequena, a escala média, a escala
grande e a escala extra grande ou territorial, que implica metodologias
e abordagens projectuais claramente diferenciadas.
Concluindo, a contribuição do arquitecto é no sentido
de ser um articulador; de estar apto a participar nesse “terreno”
de intercepção de várias disciplinas, nas quais ele
é o coordenador para a organização de tudo o que
é o físico, que denomino como o infraestrutural urbanístico
ambiental, articulado com os aspectos sociais definidos como o que compreende
o económico cultural existencial (aquiloque compromete a existência
concreta da vida de cada sujeito) e coordenado hoje também com
os aspectos ecológicos, que como sabemos a partir de Félix
Guattari são três; a Ecologia Mental – que significa
a despoluição dos conceitos para se aproximar dos problemas,
ou seja, a descontaminação das formas ideológicas
aderidas a determinados conceitos que impedem o pensamento e dos quais
é necessário nos desprendermos para poder pensar alguma
coisa; a Ecologia Social – que implica a revisão e reconsideração
de todo o conjunto de relações sociais, aquilo que os sociólogos
chamam de “o sócius”, que quer dizer a reavaliação
das relações entre os diferentes grupos humanos que ocupam
o território e finalmente, a Ecologia Ambiental – o que tem
hoje a ver com a criação de condições para
que o homem possa sobreviver neste planeta, que basicamente serão
dois ecossistemas, o natural e o ecossistema social, ou seja, o ecossistema
que já existia antes da presença do homem e o que o próprio
cria ao se relacionar e estabelecer num lugar, estabelecendo uma rede
de relações que interferem com os outros homens e com o
meio ambiente.
2-
Consegue tentar definir ou enquadrar numa suposta definição
de Arquitectura, essa problemática?
R2: É evidente que isto implica que repensemos os nossos conceitos
de arquitectura, num sentido menos auto-referenciado, num sentido muito
mais sensível às condições e ao contexto em
que se insere o objecto arquitectónico, contexto entendido como
ambiental-social; as condições físicas num determinado
contexto social.
Portanto, uma arquitectura capaz de relacionar, de ser sensível,
de incluir as particularidades tanto do meio físico quanto da ocupação
social desse meio físico, da implantação, da instalação
de uma sociedade num território com o qual estabelece uma série
de interacções, muitas vezes, devemos dize-lo, interações
claramente negativas. A partir da Modernidade, com o aparelho tecnológico
em permanente expansão o homem tem cada vez mais possibilidades
de interferência, e as usa no sentido de cada vez mais comprometer
o meio natural.
Então o que se pretende hoje é que a inteligência
volte a dominar as acções humanas, e a arquitectura como
parte dessa inteligência seja capaz de ser mais interactiva. Por
um lado, recolhendo conhecimentos tradicionais, ancestrais, decantados
ao longo dos séculos e esquecidos na modernidade. Hoje volta a
se pôr no tapete os condicionamentos climatéricos, a utilização
de técnicas, imagens e valores que tenham haver com a forma com
que o homem tradicionalmente se instalou no meio ambiente; a necessidade
não só de se proteger da chuva, do calor, dos ventos, das
condições materiais, mas também na de agrupar os
edifícios fazendo com que sejam mais, ou menos, inclusivistas dos
outros homens; mais, ou menos, consideradores do meio ambiente. Sabemos
que a arquitectura pode ser feita tanto para para Reis quanto para Plebeus,
porém, quer-se uma arquitectura que sirva para todos, para qualquer
cidadão, pois o cidadão é o que tem plenos direitos
no território em que habita. Isto significa que a arquitectura
a que devemos apontar, considerar, redefinir e fazer, terá de ser
sensível ao seu contexto físico e social, transmitindo a
estética da nossa época, dialoguando com a estética
do passado ao mesmo tempo que não implique uma ruptura, pois temos
que acabar com esse pensamento de que cada nova tendência tem de
significar uma ruptura; pelo contrário, cada busca deve cada vez
mais restabelecer a relação com o passado, sob novas bases.
3-
Disse recentemente que com a experiência que adquiriu e com a obra
até agora executada, diga-se de passagem reconhecida mundialmente,
conclui que é um perigo entrarmos em diagnósticos e declamações
vazias, e que a temática em causa e a maneira de a abordar, é
algo provisório e em aperfeiçoamento, reformulando-se ante
a aparição de novos desafios e escalas, aceitando e assumindo
os contextos não como determinantes paralisantes, mas como possibilidades
projectuais. Pode aprofundar um bocado esta afirmação?
R3:
Eu diria que não se trata tanto de “não conseguir
ou “ser um perigo” mas sim o facto de que a maneira de abordar
estas questões nomeadamente, e uma questão que ainda não
falamos; o relativo as relações entre o formal e o informal,
esses dois mundos essas duas realidades, esses dois domínios de
actuação e sobretudo a relação entre os dois;
isto a que chamo “ a hibridação do formal e do informal”
é que é algo realmente ainda em construção,
em aperfeiçoamento e que vai sendo permanentemente reformulado
diante da aparição de cada novo desafio, e dependendo da
escala de intervenção, que, como disse anteriormente, para
um arquitecto urbanista estas escalas são quatro, e implicam e
definem metodologias diferentes de abordagem. Isto para dizer também
que não se trata bem de uma questão de determinantes paralisantes
mas antes da maneira com que se lê e entende um problema projectual
colocado, quer seja a escala arquitetônica ou nas quatro anteriores.
Ou seja, dependendo da forma de nos aproximarmos do problema, já
estamos a condicionar a resposta ao mesmo, a solução projectual
do mesmo. Citando Einstein: “o observador influência o observado”.
Portanto, remetendo isto para o nosso campo de trabalho, essa influência
sob o observado implica um ponto de vista privilegiado por nós
adoptado, mesmo que se baseie na intersecção de diferentes
olhares de diferentes disciplinas. O trabalho de intervenção
à escala urbana, como sabemos, implica diferentes domínios,
fora a arquitectura e o urbanismo, existe também a participação
de toda uma série de disciplinas ligadas a diferentes questões
que vão desde as engenharias, questões geo-ambientais, questões
sociológicas, questões jurídicas, políticas
sociais públicas estabelecida, e a contribuição de
dois domínios que considero fundamentais, que são a psicanálise
e a filosofia. Porquê esses dois domínios?
Claramente, porque a psicanálise nos ajuda a “escutar a demanda”,
a sensibilizar-nos para o que provêm do campo do Outro, de uma maneira
muito especial. Existem duas formas de demanda, uma latente e outra manifesta.
A manifesta é a que se expressa nas declarações,
quando visitamos um lugar e falamos com as pessoas, estas pessoas encaminham
a demanda; outras às percebemos olhando, observando e caminando
o lugar. Por isso não se faz arquitectura e muito menos urbanismo
sem considerar aquilo de que uma cidade chega a nós pelos olhos
e pelos pés“, isto é, colados ao local de intervenção.
Como disse Paul Klee, ”um olho vê e o outro sente”,
por isso ela nos chega caminhando e vendo, e sobretudo ouvindo, escutando
o que dizem as pessoas que moram em cada um desses lugare, e que nós
temos que traduzir para estruturações compositivas, arquitectónicas
e urbanísticas, de maneira consistente. Portanto, a relação,
a interferência, a intersecção com o lugar digamos
assim, nunca é uma questão neutra, implica sempre uma pré-disposição
nossa favorável ao lugar e a vontade de entender e estabelecer
com esse lugar um diálogo, uma interferência positiva. Por
isso para mim nunca existem determinantes paralisantes se olharmos com
o desejo de descobrir de novo, do zero, o que foi, na origem, a genética
do lugar e então, a partir desse re-entendimento, dessa re-interpretação
do lugar, estabelecer um diálogo, uma corrente de transferência
entre nós arquitectos, os interlocutores quer sejam da cidade formal
ou da cidade informal, e as condições físicas do
local no sentido de re-arruma-lo. de re-arranja-lo. O trabalho do Arquitecto
Urbanista é esse, introduzir e re-pensar uma ordem que o local
pode até mesmo pode sugerir, mas que tem que ser interpretada arquitectónica
e urbanisticamente com os instrumentos da nossa disciplina, que é
exactamente a diferença com qualquer uma destas outras disciplinas
que mencionei anteriormente.
Mas dizia eu que a Psicanálise nos alerta especificamente para
esse cuidado estremo que devemos ter com a escuta da demanda. Mas como
faz isso a Psicanálise? Como ela faz a partir de Freud?
O faz através do método psicanalítico que pressupõe
duas componentes fundamentais; a atenção flutuante –
que significa olhar para todos problemas ao mesmo tempo e ao mesmo nível,
sem estabelecer hierarquias a priori. As hierarquias aparecem após
as análises. E ao mesmo tempo que a tensão flutuante, estabelece-se
uma associação livre – que significa que podemos fazer
conexões entre diferentes variáveis que intervêm no
problema, quer sejam físicas, ambientais, sociais, do sujeito,
ecológicas ou construtivas, ligadas a “aura” do lugar;
ou seja, podemos e devemos estabelecer estas relações, estas
associações, de forma totalmente livre.
Na psicanálise isto implica conectar factores sem nenhuma relação
de linearidade, sem nenhum esquema pré-estabelecido.
No nosso caso, após sucessivas análises de decantação
e reflexão, vamos encontrando ordens ocultas que num primeiro momento
não víamos.
A outra disciplina que depois da modernidade ganhou extrema importância
é a Filosofia, porquê? Porque a Filosofia tem como objectivo
construir conceitos; ora, um arquitecto não constrói conceitos,
mas sim maneja, opera com conceitos, e alguns dos conceitos construídos
pela filosofia que vao ser usados pela arquitectura e urbanismo, são
os conceitos de “rizoma”, que subentende uma estrutura muti-polarizada,
multi-enraizada, que não tem um centro mas sim muitos centros ou
mesmo nenhum centro, e isto é fundamental para se poder pensar
nestas megalópoles contemporâneas a que já me referi
anteriormente, visto serem constituídas por um emaranhado de questões
muito densas, muito complexas, que só as podemos abordar com estes
conceitos da filosofia e com os da “teoria da complexidade”,
que vem do campo da ciência. De Deleuze tomamos o conceito de rizoma
e também os conceitos de espaço liso e espaço estriado;
o conceito de dobra, enfim, vários conceitos que nos permitem entender
e imaginar um tipo de espaço tanto exterior quanto exterior, ou
espaço público, feito não de uma continuidade linear
à maneira tradicional, mas sim constituído por uma topologia
na quail as coisas se imbricam, se dobram e desdobram e vão configurando
espaços de uma maneira já não cartesiana, mas de
uma maneira em que a tecnologia e os conceitos filosóficos e da
ciência contemporânea nos permitem imaginar novas formas espaciais
e novas condições espaço-ambientais.
4- Nos tempos de hoje em que as tradicionais ferramentas de abordagem
se vêm insuficientes na sua linearidade, superadas pela magnitude
dos problemas, suas mudanças e paradigmas, que caminho esboça
que permita recuperar o projecto urbano como uma ferramenta eficaz na
construção de um habitat mais digno e justo para as gerações
futuras?
R4: Com a experiência adquirida diria que posso antever
e ver operando uma clarificação cada vez mais consciente
por parte do arquitecto urbanista, em relação aos pressupostos
do projecto urbano, e poderia dar como exemplo o trabalho que estamos
a executar aqui no Rio. Nesse trabalho qual é a função
do projecto urbano? O que entendemos por Projecto Urbano?
A sociedade está sempre a formular projectos através de
varias representações: associações de vizinhos,
associações comerciais, não comerciais com fins sociais,
ONG`s, instituições privadas, estatais, mistas que atolam
no território e têm, digamos assim, projectos formulados,
mas que em geral costumam ser apenas expressos em declarações
ou escritos. A função do arquitecto é a de espacializar
as demandas e ajudar a reformular estes projectos, localizando-os em lugares
específicos do território, o qual permite criar uma imagem
definida do que se quer; visualizar ou criar uma ideia reconhecível
de espaço habitáve, comunitário ou com função
pública digamos, que relacione a urbe com a civitas, o aspecto
físico com a forma de ocupação que a sociedade vai
lhe dar. Aí o Projecto Urbano tem como função principal
permitir que todos estes outros projectos, as demandas, todas aquelas
considerações dos outros campos disciplinares, se refiram
e tenham como eixo estruturador um modelo de urbanidade desejado ou a
construir através do diálogo democrático, o que permite
ir precisando as idéias. ‘As vezes nesses projectos sociais
se fala muito em geral, se fala muito em abstracto e o Projecto Urbano
vai mediar esta abstracção, tornando visível o invisível,
dando suporte material ao que anteriormente eram apenas programas ou intenções.
Essa é a função do Projecto Urbano. Ele é
um instrumento da sociedade que permite repensar e reformular permanentemente
o caminho para onde quer ir, o tipo de urbanidade que esta deseja e quer
para si, hoje e no futuro, como ambiente onde irá desenvolver tanto
actividades individuais quanto colectivas.
5- Consegue entender o “projecto” nos dias de hoje
não só como um instrumento de análise mas também
de negociação?
R5: Claro! Era também sobre esse aspecto que falei na
pergunta anterior; o projecto é claramente um instrumento de análise
e negociação entre os grupos humanos que compõem
uma sociedade, isto remetendo ‘a problemática da pergunta
anterior. Ou seja, tendo um projecto urbano formulado, o diálogo
é obrigado a encaminhar-se, a encontrar um canal por onde evoluir
tendo referências concretas – pontos do território,
espaços, dimensões, conexões, valorização
onde não existia valor – e permite pensar a cidade como o
constituída de uma série de elementos diferentes. Uma cidade
é feita de diferenças, e como essas diferenças podem
e devem se conectar?
O projecto urbano é um elemento de análise de uma realidade
e ao mesmo tempo um instrumento de negociação para conseguir
viabilizar os objectivos a que determinada sociedade se propõe.
6- Consegue concordar então que existe a necessidade de
uma “Revolução Critica” a nível Mundial,
na maneira como se aborda a problemática da cidade, onde a desigualdade
e a exclusão são mais a regra que a excepção?
No caso, de que modo se reflectiria no urbanismo-arquitectónico-social
e nos seus actores?
R6: Concordo sim com a necessidade nos dias de hoje de uma revolução
critica se não fosse uma redundância de certa forma, pois
toda revolução é uma crítica, inclusive alguns
pensadores da actualidade falam de um certo desgaste do conceito de “revolução”,
e até mesmo do conceito de democracia.
Hoje “democracia” simplesmente não significa nada!
Bush diz ser Democrata! E eu não entendo como se pode impor a democracia
através de mísseis por exemplo.
Mas digamos, se utilizarmos o termo revolução no sentido
de uma renovação, de uma revisão do que está
estabelecido, aí este conceito pode ter uma utilidade para nos
ajudar a repensar o existente.
O arquitecto está sempre a repensar o existente, acho mesmo que
ele é um crítico por natureza. Mas em que sentido? No sentido
em que o que esta aí, esta aí para ser transformado do ponto
de vista arquitectónico-urbanístico, nunca para ser alvo
de mimetismos. Acho inclusive um absurdo estas instituições
que procuram congelar o existente, pois ele não existe para ser
congelado mas sim para ser constantemente melhorado, transformado, aprimorado,
mesmo em relação a um determinado patrimônio. Todo
cidadão por definição é responsável
pelo patrimônio construído socialmente, culturalmente. Mas,
especificamente os arquitectos-urbanistas temos de lidar com o aspecto
físico e dessa forma temos de estar muito mais atentos, muito mais
activos em relação a esta necessidade de estar permanentemente
a criticar o existente, através de uma crítica positiva;
a criticar buscando a transformação do existente. Esta é
por tanto, uma questão básica e estrutural na formação
do arquitecto.
No que toca mais ‘a problemática da cidade, especificamente
na América Latina, chamo a atenção para alguns números
que constatam que em Caracas, na Venezuela por exemplo, 60% da constituição
da cidade é “informai”l, e na cidade de Lima 70% .
No Brasil. a exclusão social varia entre 30% a 60%; no Rio de Janeiro
30% da cidade é informal e um milhão e meio de pessoas vivem
em favelas; em Belém e em Fortaleza quase 60% é informal.
Então está claro que nestas cidades a questão da
desigualdade e exclusão social é muito mais importante do
que o problema do redesenho do núcleo histórico original,
que também deve ser melhorado, incluído. Mas há uma
tendência a sub-valorar a questão da desigualdade e da exclusão
social. Esse problema reflecte a falta de acesso aos bens básicos
de urbanidade; e quais seriam esses bens básicos? Sem dúvidas
tem a ver com o desfrute da vida em sociedade, o acesso ‘a cultura,
‘a educação, ‘a saúde, a condições
de habitabilidade dignas para todos os habitantes e não só
para aqueles que podem pagar por esses benefícios. Temos, pois
que reflectir sobre o urbanismo das cidades e os seus actores, reflectir
sobre o nosso conceito de “urbanidade” e como permitir o acesso
a essa urbanidade a todos os seus habitantes, o que remete para as formas
de canalizar os investimentos. Por exemplo, aqui no Rio, o Prefeito usou
como bandeira eleitoral a construção de uma delegação
do Guggenheim pois isto supostamente atrairia mais turismo, etc., e o
valor estimado para a construção deste museu é de
200 milhões de dólares americanos. Ora, enquanto toda a
rede cultural da cidade se recente da falta de apoio público municipal,
então, às vezes não se entende como por um lado se
quer investir 200 milhões de dólares numa instituição
e por outro falta de dinheiro para manter as estruturas culturais existentes.
Ou seja, existem contradições muito violentas que a sociedade
tem que discutir melhor, escolhendo melhor os seus representantes, pessoas
interessadas em diminuir as desigualdades e a exclusão, beneficiando
a vida em comum, a vida urbana, o desfrute da urbis e da civitas para
todos.
- Podemos então concluir que falta urbanidade no Rio?
Sim, ou melhor, falta investimento no que é de interesse social;
existe investimento no que é de interesse turístico económico
e no que produz rentabilidade mas não há interesse profundo
e verdadeiro, a longo prazo, naquilo que é de interesse social
geral, para todos e não apenas para aqueles que podem pagar pelo
acesso aos bens e serviços. Por outro lado, o Rio de Janeiro possui
um dos melhores espaços públicos projetados que existem
no país , que é o Parque do Aterro do Flamengo , obra do
paisagista Roberto Burle—Marx.
É um verdadeiro espaço democrático acessível
por todos os, executado na década de 60 , e hoje uma referência
de qualidade paisagístico-ambiental.
É necessário retornar investimentos nesse sentido e desse
porte, e por isso junto com minha equipe multidisciplinar temos projetado
o Parque Linear de Manguinhos em umas das zonas mais conflitivas da cidade,
com o intuito tanto de combater a exclusão, requalificar o ambiente
, oferecer urbanidade e junto com isso, condições para a
geração de trabalho e renda.
Trata-se de um Parque interativo multifuncional que inclui atividades
esportivas, culturais, comerciais, um intercambiador modal de transportes
e uma nova fachada urbana constituída por edificações
de relocalização de moradias, com locais de trabalho no
pavimento térreo. Este conjunto de atividades e espaços
arquitetônica, urbanística e paisagísticamente concebidos,
busca dotar a esta parte desvalorizada da cidade de “equipamentos
de prestígio” capazes de constituir um novo “atrator”
de vida urbana, combatendo a insegurança , os problemas sócio-ambientais
e a falta de identidade deste local.
7-
Como se leria e projectaria a cidade então?
R7:
As intervenções e seus projectos em qualquer das escalas
devem sempre partir da leitura da estrutura do lugar seja este lugar pequeno
médio grande ou muito grande, um sector ou uma parte da cidade
que se mede em hectares e não só em número de população.
Isto significa que há uma complexidade de factores actuantes que
são de ordem física, social, econômica, cultural ambiental,
legislativa, de diferentes domínios, quer sejam eles municipais,
estaduais ou federais, que se sobrepõem e entrelaçam, uma
espécie de layers diferentes que compõem esse campo da problemática
do urbano, urbano esse que nunca é apenas o físico mas o
físico e o social juntos porque um espaço físico
está ocupado por uma sociedade. Logo, a leitura da relação
entre o físico e o social é que define, estabelece as grandes
linhas mestras de actuação da forma com que a gente lê
o lugar e vai derivar desde aí o como actuar, o que fazer; não
é uma pressuposição mas, sim, um derivado.
Então, ler primeiro a cidade para depois projectar, elaborar o
plano de intervenção ou o projecto urbano ou o partido urbanístico
ou o “urban scheme” como queiramos chamar nas diferentes línguas.
8- Qual é então o seu objectivo, se assim podemos
chamar, no seu trabalho no Rio de Janeiro?
R8: Em qualquer dos locais onde trabalho tento sempre tornar desfrutáveis
as diferentes urbanidades que a cidade apresenta para todos os cidadãos
e não só para os que estão registados no cartório.
O que isto significa?
No Rio de Janeiro existem claramente duas cidades, a cidade cartorial
que é a que está registrada com o nome do proprietário,
e a cidade dita “informal” mas que tem uma forma obviamente,
para a qual não existe sequer registro. Desde uma década
atrás e até hoje se formos constatar nos mapas da cidade,
encontramos nomes tais como o da Favela da Rocinha, Favela do Vidigal,
Morro do Alemão, etc que são apenas manchas brancas no mapa
da cidade, ou seja, não está sequer registrada a existência
delas, as suas ruas, tipos de ocupação diferenciadas, etc;
se olharmos a cidade desde um avião, podem ler-se os diferentes
tecidos; os da cidade formal e os da cidade dita informal que tem cada
um a sua própria lógica, uma lógica diferente que
é necessário compreender, entender, para poder operar nela
procurando nós, pontos de convergência, pontos de passagem
e transição entre estes dois domínios do formal e
do informal, e vice-versa. O que constituem estes pontos de articulação
e de hibridação no nosso trabalho aqui no Rio?
Estão constituídos pelo que é de interesse comum
entre estes dois mundos, nesta cidade partida; constituem espaços
com programas específicos que de um lado se referem a aspectos
sociais e económicos, centro de trabalho e renda que são
uma espécie de ágoras, espaços abertos e flexíveis
voltados para o exterior, fáceis e acessível de todos os
lugares, abertos 24 horas, lugares de trabalho, diversão, intercâmbio
e convivência fundamentalmente. Mas o que se intercambia nesses
lugares?
Intercambiam-se serviços, prestações de serviços
desempenhados pelas pessoas da comunidade em relação aos
bairros envolventes que desta forma passam a não temer seus vizinhos,
mas antes beneficiarem-se dessa relação diferente, desse
intercâmbio possível entre estas duas formas culturais e
econômicas diferentes, entre duas formas sociais diferentes, entre
estas duas condições diferenciadas entre o formal e o informal.
Outro articulador para além do centro de trabalho e renda são
os grandes centros desportivos, pois como sabemos desde os gregos, o desporto
é um congregador social; em torno do desporto as pessoas se desenvolvem,
sociabilizam, educam o pressuposto do esforço e da competição
para vencer, ou seja o entendimento de que as coisas se conquistam e não
são dadas de graça.
Por último, os serviços também são um articulador
pois tem a ver com o que faz a vida comunitária: creches, postos
de saúde, centros profissionalizantes, serviços que constituem
um ponto de união entre os habitantes dos dois mundos (formal-informal).
Temos pois que entender a genética dos lugares e das culturas e
procurar na complexidade das coisas estabelecidas, cómo os componentes
dos aspectos físicos e sócio-culturais têm de se relacionar
sem recorrer ‘a violência, do qual falava Jacques Derrida,
ou seja a cultura da convivência através de uma terapêutica
política.
9-
Na sua opinião qual é a morfogenética da cidade actual,
e como poderiamos intervir nela?
R9: Nos dias de hoje a cidade reproduz-se de diferentes formas; se na
cidade tradicional ocidental poderíamos falar de um modelo fundador
desde os Romanos, o Cardo e o Decumano, que foi a forma que os Espanhóis
utilizaram na construção das cidades aqui na América
Latina ou, por outro lado a forma com que os Portugueses implantaram as
suas cidades. Penso em Ouro Preto, Pelourinho, o próprio centro
do Rio, historicamente podemos ver que existe uma diferença e por
isso falamos de duas lógicas diferentes, ou seja, a lógica
portuguesa e a lógica espanhola de implantar-se no território.
Enquanto Espanha produziu uma civilização racional, introvertida,
Portugal teve muito mais a ver com a promoção de um modelo
de integração no qual os aspectos sensoriais e estéticos
estavam mais presentes. Hoje o Brasil representa uma civilização
sensual e musical enquanto que a derivada do domínio espanhol não
é que não seja musical, mas é sem dúvida uma
música diferente; está claro por exemplo que o Tango e o
Samba são formas de expressão musical bem diferentes. Cada
um expressa questões diferentes e fala de coisas diferentes. E
acho que nesse sentido a morfogenética da cidade actual tem por
um lado raízes diferenciais e por outro existe um processo globalizante
banalizador, unificador (para baixo), que implica que tanto as cidades
Portuguesas no Brasil, quanto as cidades Latinas Americanas de origem
Espanhola partilham de um mesmo mal, de uma doença contemporânea
que é essa explosão das periferias e o esvaziar dos seus
centros; a perda de potencia do centro que permanentemente vai se deslocando
e o Rio é um exemplo disso. O seu centro primeiro e desloca para
Botafogo depois para o Flamengo depois para Copacabana depois para Ipanema
depois para o Leblon depois para a Barra e agora se pretende a construção
de outras “Barras”, o que na minha opinião é
uma desgraça do ponto de vista urbanístico. Porque a cada
uma destas expansões devido a condições económicas,
tecnológicas, modos de vida absorvidos acríiticamente de
países ocidentais (refiro-me ao “american way of life”,
e a Barra é uma cópia frustrada de Miami), o que se verifica
é uma dispersão maior no território configurando
ilhas desconexas e monotemáticas (como espécies de parques
temáticos generalizados) que não só não geram
urbanidade, quanto segmentam e empobrecem a existente.
_ Falta de Urbanidade!...
– Claro que implica uma falta de Urbanidade, um modelo de vida péssimo,
desurbano, anti-urbano, que deveríamos combater de todas as formas
possíveis com os instrumentos da disciplina; um dos desafios de
hoje no Rio é justamente o de como gerar urbanidade no “deserto”
da Barra da Tijuca, pois esta cheio de gente mas não se vê
esta gente ou mesmo não se vêm uns aos outros; as pessoas
se entrincheiram nos centros comerciais e não andam nas ruas porque
elas não existem pensadas para os pedestres. ‘E paradoxal
mas é a verdade, quando vejo alguém andando nas “ruas”
da Barra da Tijuca penso sempre:
_ Olha lá está um sobrevivente, algum “cara”
que se salvou de ser atropelado.
É uma desgraça, pensarmos que alguém nasce e é
obrigado a viver naquele lugar, e não é só isso;
_ a pesar dos pesares, há gente que escolhe viver naquilo até
que algum tempo depois compreende o erro que cometeu, seja se deixando
seduzir pela propaganda Imobiliária, por uma ideologia assente
em mais segurança e auto-suficiência aparente. Podemos aí
encontrar a creche para os filhos, os campos de ténis, a piscina,
etc. Até que um dia descobrem que são de uma chatice, de
uma falta de estímulo total. Sim, porque nestes lugares não
existe nada de interessante!
Olham para as mesmas coisas, compram os mesmos móveis, vão
aos mesmos cinemas, compram nos mesmos supermercados, vão aos mesmos
Shooping´s, e acabam vestindo-se de igual, quase já nem se
distinguem uns dos outros.
Logo, este modo de vida lamentável não podemos incentivar
e temos de encontrar a melhor maneira de repensar esta questão!
Portanto, a Morfogenética da cidade actual (e voltando a questão)
tem a ver com diferentes modelos que se confrontam no território
de forma autónoma sem unidade e por isso não podem produzir
nehum tipo de coesão urbana, não podem produzir uma nova
urbanidade como um desfrute social do “bem comum”; quase que
a ideia do bem comum se perdeu. Então, existem bens particularizados
e não bens comuns. É neste sentido que me referia ao condomínio
residencial, ao shopping center ou ao parque temático, como tipos
de “espaços lixo”.
Temos que debater mais sobre as formas de urbanidade hoje e promover o
esclarecimento do cidadão, e sobretudo daquele que pode comprar,
pois é ele o causador em grande parte destes novos modelos de urbanidade
desurbana, que reflectem uma clara ausência de cultura urbana. Devemos
nós (arquitectos) exemplificar através dos nossos projectos,
novas possibilidades de vida urbana mais inteligente, mais integradora
e menos excludente, visando a promoção de uma sociedade
mais justa e menos esquizofrénica, menos temente de si mesma, obrigando
o cidadão a enjaular-se e a atravessar todo tipo de barreiras,
armadas ou não, que só desunem a sociedade e geram desconfiança
mútua.
_ Qual seria então o seu diagnóstico, ou o seu “comprimido”,
para a resolução desta doença, desse câncer
da sociedade actual?
“Desarmar os espíritos” sem sombra de dúvidas,
ou seja tornar integrado, permeável, tornar sem restrições
a circulação entre os diferentes sectores da sociedade e
da cidade, utilizando uma política educativa consistente, com debates
sociais usando todos os meios possíveis, para mostrar aos cidadãos
que ao invés da desconfiança para com o outro, dever-se-á
incentivar a convivência, o diálogo entre as diferenças
e daí derivar novos comuns denominadores. Pensar em espaços
integradores, abertos, incluindo sectores de cidade, conexões entre
as partes desconectadas, preservação do meio ambiente; valorizar
o que é de todos por sobre o que é de cada um, combater
o individualismo ponto e defeito assente na sociedade actual.
Temos que questionar o modelo de desenvolvimento no qual esta sociedade
se baseia. Com este modelo predador, individualista e separatista não
iremos a lugar nenhum. Temos que reverter os padrões, como? –
Pela educação! Formulando projectos de espaços públicos,
para residir, para trabalhar, para negociar, para lazer e integrá-los,
com qualidade formal, espacial e ambiental. Promover grandes atratores
de urbanidade, grandes ágoras públicas, grandes “buracos
de criatividade”, como falava Henri Lefebvre.
É nesse sentido que acho que devemos direcionar o futuro das nossas
cidades. A cidade na paisagem e a paisagem na cidade têm que estar
muito entrosadas, incluindo uma nova idéia de relação
entre o ecossistema natural e o ecossistema social.
- Clonar mais “Central Park´s” quer com isto dizer?
Eu diria que o modelo exemplar disso aqui no Rio seria o Parque do Flamengo,
um grande jardim público que permite circular, se divertir, fazer
praia, desporto, conviver, e que alberga museus, anfiteatros e uma série
de equipamentos que tornam o espaço de acessível a todos,
aberto. Até eu utilizo este local, todos os dias para fazer meus
exercícios e andar de bicicleta. Vou atravessando “túneis
de perfumes” diferentes que Burle Marx projectou e que me fazem
um bem enorme; para mim é uma espécie de terapia, uma “viagem”
mágica entre a paisagem, os cheiros, o rocio, etc. Enfim, é
um lugar para consumir paisagem; um consumo de lugar e não um lugar
de consumo.
10-
Uma Favela poderá então ser um exemplo disso? Que experiência
pode retirar do programa Favela-Bairro desde o seu início?
R10: Acho que vem mesmo a calhar, como dizem vocês em português,
o facto de termos aqui na parede desta sala uma imagem do Parque Urbano
Metropolitano que estamos a projectar, ou melhor a acabar de projectar,
que implica um projecto de escala territorial como costumo dizer, no sentido
de que tem apenas no seu ponto central uma extensão de 1,9 km.
E é justamente para mudar radicalmente a imagem que o lugar tem
hoje que do lado de cada via de uma avenida que dá hoje pelo nome
de Av. Leopoldo Bulhões, e do traçado da linha-férrea
existente, que constituem uma barreira, um fosso que separa varias comunidades
de cada lado, comunidades que a proposta consiste em eliminar os muros
existentes, elevar a linha-férrea e integrar o que até agora
era desintegrado, mediante um Parque Urbano interativo que inclui nova
estação para os comboios, equipamentos desportivos e culturais,
camelódromo, ou seja equipamentos projetados para comércio
ambulante, funcionando 24 horas em pontos especiais determinados. Incluindo
também novas fachadas urbanas de cada um dos lados do que era considerado
“os fundos” das construções existentes, o tratamento
do rio existente que até agora era considerado um risco ‘a
saúde pública, munindo-o também de instrumentos que
propiciem o seu desfrute com vias pedonais, ciclo-vias, reflorestamento
geral, quiosques com mesas, etc.
Ou seja, é um parque complexo com múltiplas actividades
e que toma como referência numa espécie de homenagem, o Aterro
do Flamengo, desta vez num conglomerado de maior vitalidade de atividades,
mais povoado de opções diurnas e nocturnas, um um conector-articulador,
urnanístico-social.
_ Olhando para o projecto consigo visionar e compará-lo a um fecho
de vestuário, um unificador incondicional de dois mundos, enquanto
que o Aterro do Flamengo tenta e consegue de maneira muito particular
unir ou unificar o urbano e o mar!
Sim, existe claramente esta diferença; no nosso caso, mesmo não
tendo mar temos gente de cada lado e este “mar de gente” digamos
assim, é muito mais interessante que o mar ‘a noite que é
uma boca escura, um buraco negro. Aqui temos projectadas actividades interactuando
dos dois lados, gente que realiza actividades, que se movimenta e que
utiliza o parque e seus equipamentos em diferentes dias e horários;
trabalhadores a sair para os seus empregos ao tempo que outros chegam,
gente que vem pelo comercio e os serviços, o esporte, os cursos,
o café-internet, etc.
Nós pretendemos que estes equipamentos aqui projectados tenham
vida 24 horas.
_Mas voltando a pergunta inicial da qual nos deslocamos um bocado, que
experiência retirou do programa Favela-Bairro?
Bom, o que ensina o Favela-Bairro, ou que me ensinou a mim particularmente?
Antes de trabalhar no Favela-Bairro; ou seja, na cidade Informal, trabalhava
na cidade Formal, mas os códigos, as metodologias de aproximação
são completamente diferentes. Digamos que basicamente o grande
ensinamento que nos pode dar esse trabalho nas áreas Informais
é o respeito pelos outros. O querer aproximar mais, o querer saber
sobre essa forma de vida que está baseada na solidariedade, no
partilhar os problemas, no partilhar expectativas, no partilhar projectos
que são formulados de forma comum. Isso é um ensinamento
muito importante e gratificante; mesmo vindo de áreas de carência
promovem uma grandeza espiritual digamos assim, um gesto humano muito
maior que o da classe média e alta; ou seja, essa gente não
tem nada mas está sempre disposta a compartilhar o que tem, por
mínimo que fo, com o outro, com o visitante, com quem vem de fora.
Isto para mim foi um estímulo para pensar que o homem, apesar dos
seus problemas, apesar da sua face mais individualista, mais egoísta,
em muitos momentos é capaz de se desprender desse aspecto e pensar
com o mais próximo como fazer deste mundo um mundo melhor. E nos
nossos dias isso não é pouca coisa. Isto remete a algo de
que falava o sociólogo Michele Maffessoll a beleza, é “sentir
algo com o outro, sentir emoção estética”.
E o que significa “emoção estética”?
É o partilhar um estado de espírito, é algo que se
sente junto quando se está junto, compartilhando uma história
em comum, uma cultura comum, valores em comum.
Então é pertinente quando se trabalha nestas áreas
Informais da cidade e se convive com muitos interlocutores que não
estão aí para obter nenhum benefício particular ou
privado, mas sim pelo interesse comum, para que as coisas possam mudar
para o bem de todos, pensar que isto é uma lição
para o resto da cidade, para o resto das classes sociais em geral excessivamente
viradas para sí, para os seus interesses particulares, seu “terreirinho”,
sem visão de conjunto, sem consciência social. Pois, esta
gente tem muito mais visão de conjunto, visão de interesse
público que a classe média e alta por exemplo.
_Nesse caso, se tivesse que transmitir a quem nunca ouviu falar, como
trabalha no Favela-Bairro, qual a metodologia, de que maneira aplica os
pressupostos?
Claro, como isso se dá? Quando metemos o pé no lugar, a
primeira coisa que faço quando vou visitar uma comunidade para
a qual vou fazer um projecto é telefonar para a associação
de moradores, marco uma entrevista e encontramo-nos, primeiro na associação
onde existem uma série de interlocutores locais com os quais trocamos
informações úteis tanto para mim como para eles,
as suas expectativas carências, etc. Visitamos em seguida o local
e a intenção é partilhar com eles alguma coisa para
além de observar, fotografar, perguntar, conhecer melhor. A partir
desse intercâmbio se estabelece uma transferência quase psicanalítica
onde é determinante perceber e identificar na comunidade questões
como lideranças e hierarquias, mesmo que para isso seja preciso
de voltar inúmeras vezes, e a partir daí estabelece-se uma
relação de confiança mútua. Procuro então
a partir desse momento daí incessantemente desenhar mentalmente
e em registro gráfico, aquilo a que chamo “esquema de leitura
da estrutura do lugar”. Quando estou em condições
de desenhar este “mapa”, este desenho topológico que
marca as relações fundamentais entre as partes do lugar,
posso então dizer que “entendi esse lugar”; só
e somente depois disso estarei em condições de formular
o “partido urbanístico” ou “urban scheme”…
_ Já agora o que são os “Partidos Urbanísticos”?
È a formulação do plano de consistência urbanístico-social
geral; implica introduzir todos os elementos que faltam no lugar, reconectar
todo o que existe, repensar as centralidades existentes para potencializa-las,
e criar novas centralidades capazes de resignificar completamente o lugar
objecto de estudo.
11-
Que relação têm o Urbanismo e a arquitectura nesta
abordagem e que disciplinas mais poderão participar e de que maneira?
Porquê da paixão pela Psicanálise?
R11: Disse anteriormente que a formulação de um projecto
urbano, partido urbanístico, urban scheme, esquema de estruturação
urbanístico e social, como gosto mais de chamar, têm uma
função fundamental na medida em que permite fazer o nexo
entre as demais disciplinas que deverão fazer parte do projecto
urbano. São elas por exemplo, todas as engenharias, os aspectos
jurídicos, os aspectos sociológicos, aspectos geo-bio-ambientais,
aspectos ligados ‘a acessibilidade, circulação e transportes.
Todas elas juntas e acrescentando aquelas que também já
mencionei especialmente, que são a psicanálise e a filosofia.
Porquê a paixão pela psicanálise? Porque participei
em actividades de formação de uma instituição
psicanalítica que dá pelo nome de Letra Freudiana, que se
dedica a transmissão da psicanálise, e que é de orientação
Lacaniana. Eu coordenava nesta mesma instituição uma área
que se chamava “Interseções do Campo Freudiano“,
na qual eu promovia debates e convidava diversas perssoas de diferentes
disciplinas tais como directores de cinema, escritores, pintores, cientistas,
investigadores, que tinham directa ou indirectamente algo a ver com a
psicanálise. Ou seja, a maneira como eles escutavam/entendiam as
questões ligadas ao desejo humano.
Ora bem, a psicanálise debruça-se basicamente em torno de
tudo o que se estrutura em torno do desejo, desejo do sujeito, ou seja
o quanto o sujeito deseja atingir um fim, mesmo que este fim seja difuso.
O desejo é sempre difuso, é um “obscuro objecto do
desejo”; nunca se sabe ao certo realmente o que queremos; quando
pensamos estar a alcançar o que queríamos, o nosso desejo
já se alterou e deseja algo diferente. Resumindo, o desejo é
o motor da vida humana, é o motor do sujeito, o que o faz avançar,
o que o faz ir em frente, portanto, o desejo é algo que tem a ver
com todas as disciplinas, com todos os trabalhos e especificamente o psicanalista
é o indagador em torno do desejo do sujeito. A pergunta é:
- Qual o seu desejo?
Esta é uma questão muito importante e por isso em relação
ao arquitecto urbanista revela-se fundamental, e realmente muito pouca
gente no ramo da arquitectura trabalha nessa linha, traduzindo-se em questões
projetuais. Existem os que pensam mas não desenham, e os que desenham
mais não pensam; eu sempre fui ao encontro do pensar-desenhar e
do desenhar-pensar como um acto único. Creio que temos que tender
a isto, embora nunca conseguiremos completamente, mas é o que nos
move, o desejo de fazer confluir estes dois aspectos.
Portanto a psicanálise é um grande estímulo, vale
a pena ler sobre, é uma leitura difícil mas gratificante.
_Jáuregui, você realça a importância do desejo
para o sujeito, ora bem com a experiência que obtive no trabalho
consigo realizado nas favelas concluo que, se tivermos em conta que uma
das características do típico habitante de uma favela é
a forma particular em que se encontram as suas expectativas, ou seja,
as suas expectativas de vida estão reduzidas face a conjuntura
em que se encontra e o que a sociedade lhe oferece. Logo pode e residira
na psicanálise a chave para juntamente com a arquitectura e o urbanismo
reavivarem estas espectativas perdidas e devolver a este habitante a força
para lutar por mais e melhor para sí… Sem sombra de dúvidas!
Isto é fundamental, existe um papel didáctico, uma função
didáctica do arquitecto em relação não só
‘as comunidades como também com a classe média, enfim,
todas as classes sociais em contacto com ele.
O arquitecto deve estar alertado pela psicanálise sobre a questão
do desejo. Há uma função fundamental do arquitecto
que é mostrar ao sujeito beneficiador do seu serviço através
do diálogo, o que este tem direito a desejar e não tem conhecimento.
Esta é uma função social das mais importantes da
arquitectura e do urbanismo.
Lembro-me uma vez de ter um cliente da Globo (estação televisiva
brasileira), um jovem actor abastado que me veio procurar recomendado
por um amigo. Ele queria uma residência de influência mourisca,
ou seja árabe; soube ele anteriormente da minha paixão por
tudo o que é árabe vindo da península ibérica.
A questão que me trouxe era a de que queria a casa com um clima
árabe. E em que se reduzia o clima árabe? Ele trazia alguns
livros consigo de decoração de interiores, desses climas
entre pátios, galerias perimetrais, muita vegetação,
água, espaços bem ventilados, bem floridos, pés direitos
altos, paredes tratadas com muitas texturas, muito sensualismo, rodapés
enormes em madeira, etc. Mantivemos longos diálogos durante cerca
de seis meses nos qualis este cliente, que partiu do desejo de querer
uma casinha tradicional, passou a aceitar outros componentes e a mim permitiu-me
pensar na Casa Klein, que utiliza os conceitos mais recentes no que diz
respeito ‘a topologia, psicanálise, espaços não
lineares, uma geometria não Euclidiana, etc. Resumindo, durante
este percurso ele passou a querer ao invés de comprar literatura
baseada em conceitos bem tradicionais, a buscar outra baseada em conceitos
bem contemporâneos que lhe permitissem acompanhar o dialogo e não
só, opinar e estimular-me a investir nisso.
_Ou seja, ouve um intercâmbio de interesses que resultou numa alteração
dos desejos mútuos para uma convergência favorável
e benéfica para os dois. Mas mais importante que isso, aprendemos
juntos. Ou seja, o desejo impulsiona-nos sempre para frente, leva-nos
a querer mais do que o pretendido inicialmente.
12-
Se pudéssemos falar numa metodologia de abordagem a esta problemática
à maneira de “Jorge Jáuregui” ,ela estaria implícita
no concurso de Santa Cruz? Como descreve esta experiência?
R12: Poderia ser definida assim, ou seja, “Metodologia Jáuregui”!
Antes de me dedicar ‘as áreas informais da cidade, pouco
ou nada sabia sobre a matéria e muito menos sobre metodologias
de abordagem para tais áreas.
Como todo arquitecto com um mínimo de experiência, sabia
que qualquer projecto e em particular um projecto a desenvolver numa área
informal da cidade deve partir da leitura da estrutura do lugar para depois
formular a sua proposta. Na área informal não há
possibilidade de imposições, nenhum projecto deve partir
ou ser elaborado sem conhecer o lugar, sem caminhar, sem escutar, sem
vivênciar, sem observação atentamente o lugar. É
preciso ouvir as pessoas que nele vivem e inteirarmo-nos dos seus problemas,
expectativas, desejos, e daí detectarmos o potencial manifesto
e o oculto. Há que saber diferenciar a demanda latente da demanda
explícita ou manifesta. Esta é a metodologia básica
para qualquer projecto de intervenção na área formal
ou informal da cidade; ela reflete a sensibilidade da arquitectura e do
urbanismo contemporâneos no que se refere ao meio ambiente, sempre
muito ferido pela acção humana. Existe mesmo um conceito
aplicável que é o de ecogénese, ou seja, tentar reconstituir
as condições mais próximas das originais mesmo sabendo
da impossibilidade desse desejo. Isto explica a tendência da arquitectura
e do urbanismo contemporâneos que procuram uma convivência
mais inteligente entre a acção humana e o meio ambiente.
Santa Cruz é um projecto a “maneira Jáurégui”,
porque representa a nossa ideia transcendente desta possibilidade de repensar
uma nova urbanidade, que implica novas centralidades nas periferias da
cidade configurando um foco que pode e tem a ver com o “mitocondrial”
de que falavas. Como um elemento contaminador positivo, gerador de vida,
que possa regenerar tecido urbano ou condições de urbanidade
num entorno sem qualidade.
Nesse projecto pudemos explorar mais o conceito de “quarteirão
aberto”, que inclui diferentes volumetrias de diferentes densidades,
também diferentes tipos de espaços colectivos de escalas
mensuráveis e controláveis pelo homem e não como
propunha a arquitetura “moderna”, ou seja, espaços
verdes entre as edificações pertencentes a ninguém,
que se tornam em lugares de delito, com falta de tratamento e sem qualidade
nenhuma.
É interessante que nós conseguimos pensar o máximo
de condições de urbanidade, partindo do programa mínimo
que o poder público tem para pessoas de condições
económicas restritas. Com o suporte do Estado e do promotor do
concurso que solicitou ideias para a idealização de ambientes
e espaços com qualidade mas de baixa renda, conseguimos fazer o
que em muitos locais apenas se consegue com a disponibilidade de maiores
recursos econômicos. Acho que esta é a grande questão
e o melhor caminho não só na América Latina mas também
no resto do mundo. Como pensar espaços de qualidade para os que
tem menos condições? Pois estas pessoas são a maioria
no planeta…
13- Nos dias de hoje as preocupações com o ambiental
e ecológico tem se tornado algo cada vez mais presente no quotidiano
do arquitecto e na consciência Social em geral. Como perspectiva
esta tendência num futuro próximo?
R13: Acho que toda arquitectura deveria ser ambiental e ecologicamente
concebida. Se pensarmos um pouco, todas as obras que realmente representam
referências de qualidade na história da arquitectura e urbanismo
são ambientail e ecologicamente consistentes.
Prevejo pois num futuro próximo uma cada vez mais presente, mais
intensa, mais interrelacionada, mais implicada preocupação
por parte do arquitecto urbanista no que ‘a ecologia e ao ambiente
diz respeito nos seus projectos. Usaremos para este fim cada vez mais
ajuda tecnológica, tentaremos diminuir o consumo energético,
captar energias alternativas, proteger os edifícios, qualificar
cada vez mais a natureza com arquitectura e incorporar cada vez mais a
natureza na arquitectura, ao mesmo tempo que recuperar e atualizar antigos
saberes sedimentados ao longo do tempo, mas esquecidos pela vorágine
do “presentismo”.
- Acha que as novas tecnologias vão tornar-se num impulsionador
ou num inibidor desta consciência ou corrente arquitectónica?
Acho que vão ser um potencializador, um incentivador. Já
existe uma consciência cada vez maior da incorporação
de tecnologia menos submissamente, menos uma “tecnologia pela tecnologia”
e mais “tecnologia por selecção” ou seja, a
que mais aproxime os pressupostos arquitectura-tecnologia-ecologia-ambiente-homem.
14-
No concurso de Holcim apresentamos uma ideia inovadora, aquilo a que chamei
“mitocôndria” ou seja, um objecto arquitectónico
(organela celular) capaz de gerar energia capaz de transformar, regenerar,
desenvolver, dar vida a sua envolvente (célula). Como a apresentaria
muito rapidamente?
R14: Esta ideia permitiu-nos realmente juntar duas coisas até agora
separadas que são o aspecto social e o aspecto ecológico-ambiental.
Este concurso foi um estímulo para que pudéssemos pensar
em objectos numa escala variável, capazes ao mesmo tempo de requalificar
o lugar, que nesse sentido tem a ver com o mitocondrial (aquilo que é
capaz de introduzir um germe de transformação qualitativa
num meio sem qualidade, como é o da favela por exemplo), como também
ser uma arquitectura didáctica que visa mostrar de que maneira
podemos utilizar a tecnologia de uma forma positiva, que incorpore a demanda
social, a condição económica e cultural do meio,
representando sempre num passo em frente e não uma resposta ao
existente; apontando para o futuro.
Permite-nos pensar na transmissão de uma nova relação
entre o objecto e o meio, o usuário e o objecto, o objecto com
ele mesmo, buscando captar, transformar e reciclar tudo o que utiliza.
-O que mais há a realçar éa versatilidade conferida
a proposta, pois ecológico-ambiental já pedia o concurso.
É algo inovador pois utiliza-se ele próprio para como chamo
regenerar a favela, funciona como uma mais valia para o meio local e não
apenas para sí! Explique um bocado a ideia?
Esta afirmação é pertinente, de facto esta dimensão
do funcional é algo que na minha opinião sempre atrapalhou
a arquitectura, e em que sentido? Pois se “todos os edifícios
funcionam, mas nem todos os edifícios são arquitectura”,
subentende-se que a função não tem nada a ver com
a arquitectura. Jacques Lacan o psicanalista, diz por eu turno que “o
que diferencia a arquitectura do edifício é a potencia lógica
que ordena além do que o edifício suporta de possível
utilização”, por isso nenhum edifício (salvo
um casebre) pode prescindir dessa relação que o torna parente
da linguagem.
Até ao concurso Holcim, eu não havia trabalhado num projecto
com tal multi-funcionalidade diferenciada articulada; é um edifício
que pode servir como alojamento temporário, como escola básica,
pode servir como escritório, para produção e manufacturação.
Pode servir também de espaço de convivência, pode
integrar sabedoria e técnica provenientes de fora, com técnica
e sabedoria local, além de conter um valor simbólico muito
grande. É um marco, um mastro cravado no entorno.
Portanto, este diálogo das diferenças num ambiente esteticamente
elaborado, tecnologicamente contemporâneo e sustentável,
com o respeito ao meio ambiente, é um projecto que me permite pensar
os meus futuros projectos nessa linha de pensamento.
15-
Recomendaria e ou aconselharia o seu mais recente pupilo para um mestrado
na área?
R15: Eu não gosto de aconselhar ninguém, mas falando entre
amigos que desenvolveram uma relação ao longo desses seis
meses diria que sim.
Mesmo tendo os mestrados e doutoramentos se transformado numa indústria
e numa exigência de certo modo muito marcada pelo consumismo, acho
que tem um aspecto positivo que permite, depois da Universidade, indagar
algumas questões que são escolhidas pelo aluno afim de aprofundar
de acordo com o seu desejo e não como uma ideia transmitida por
alguém do que deve ser feito. Pode ser para ti um estímulo
intelectual junto ‘a prática profissional que se revelará
positivo para a tua formação; vejo que há um desejo
que se traduz na forma de colocar e colocar-se perante os problemas, a
forma com que te aproximas e pretendes indagar o que aqui se faz e como
se faz. Claramente existe um desejo de saber mais, querer mais, aprofundar
mais. O que pode levar-te a bom porto.
-Da minha parte e para concluir quero que saiba que estou muito agradecido
pela oportunidade e os ensinamentos que me deu, e com certeza que Jaurégui
há de ser sempre uma influência na trajectória da
minha carreira, no como olhar para a arquitectura, no projectar, no colocar-me
face aos desafios e problemas, fará parte da constituição
crítica-arquitectónica do meu inconsciente. Foi um prazer
tê-lo conhecido.
-Muito obrigado!
Topo
- Jorge
Mario Jáuregui on Favela's Urbanization, interviewed by Elisabeth Blum
and Peter Neitzke ***Copyright Rio de Janeiro, September 7 2002
Scheme of reading of the structure of the place: Complexo
do Alemão
Jorge,
last year the Harvard Graduate School of Design has awarded the Veronica
Rudge Green Prize in Urban Design to you. A committee that for years
has confered the prize on architects for this or that brilliant architectural
single object now has awarded the famous prize for a project that has
a tremendous social and political significance. Could you portray the
main ideas of your work and the background of your experiences as an
architect struggling for the realization of Favela-Bairro-Projects in
Rio de Janeiro?
My
first question always is this: What is the approach or the approximation,
what implies the strategy of reading of the structure of a given place?
From this approach you are opening the horizon from which you can get
into every new project.
It is this approach that "limits" a project, depending of the form in
which you are looking at a place, from which you interrogate a place.
To a certain extent, the form in which you interrogate a place defines
all your possibilities. Places need to be well and precisely interrogated.
You have to ask the right questions. The principal question in every
favela is how to connect my sketches of studies to the waste favela-land.
What is the main question of urbanizing a favela?
Urbanizing a favela means introducing the attributes of the formal city
in a non-structured areas. Which are these attributes?
The infrastructure, the ways that connect a favela with the surroundings
and the main buildings and spaces that permit a conviviality life (cultural
center, kindergardens, centres for generation of work and income, olympic
viallage, plazas, the treatment of residual spaces, etc).
The people living in the community have the right to enjoy the benefits
of the connections due to the infrastructure, which permits each place
to work, to have access to communication with the rest of the city but
simultaneously with this, to introduce plazas, spaces for profissionalizing
courses, ecumenical spaces, etc. And all enjoy the services that support
individual life.
Individual life means the endless addition of extra residences while
public life is related to common interests - public spaces and services.
Infrastructure includes the possibility to improve culturally: there
are spaces for physical activities and others for cultural activities.
The seat of the Community Association is the most important place in
the favela that I register in my reading of the structure of the place.
This Community Center always constitutes a strong centrality and the
question of central spots is one of the most important entity that can
regulate the intensities capable of articulating the relationships between
physical and social interdependences.
The
favela and its neighbourhood
The
plazas are conceived as an integration of favela and neighbourhood.
Some places in the favela work like "integrators", like "connectors"
with the neigbourhood areas. The urban equipment is not only made for
the favela but for the neighbourhoods and for the city as well.
Do
you know whether people of the neighbourhoods really use Favela-Bairro
attractions? Could you give us an idea by comparing situations before
and after an intervention?
Let
me give you an example: Fubá-Campinho is one of them. There is a football
field, a track, buildings for physical education activities, not only
for children but for people of all ages; they are also used not only
by favela dwellers but, by people from the surrounding neiborhoods,
principally on the weekends.
This building is the seat of the Community Association. This is the
Center of Professional Training, this is a bakery, and this is an Urbanistic-Social-Orientation-Station,
primarily a place to resolve problems, to discuss private and public
conflicts and all types of problems that emerge in community daily life,
after our job is finished.
This is the Center of Urbanistic Intervention, with the "samba school"
that has always been there. It is absolutely impossible to touch this
important parts of cultural community equipments.
You can modify everything in the favela unless you don't touch those
important elements of identification - the headquarter of the "Escola
de Samba" and the soccer field.
In this place [sketch showing the different points of interest] we constructed
the street, the new access to the seat of the waste disposal. Here is
a kindergarden.
All these elements of intervention generate a new focus, a new centrality
of the favela that did not exist before, that fonction like a kind of
articulator between the favela and the neighbourhood. The only focus
that existed before was the samba-school with many problems of access.
In this place [sketch] do not only play favela people but the residents
of the neighbourhood too. It is a meeting point, especially for the
young people of the favela and the neighbourhoods, a place of social
contacts.
Localization of Rio
What
about the parents of the neighbourhood's children? Aren't they afraid
of letting their children play with those of the favela?
Yes
and no. They are somewhat afraid, but the football and the beach are
two spheres socially accepted by both. You don't have to enter directly
into the favela. Both are in the periphery of the favela ... With the
urbanistic intervention there is a new sense of participation, of pertaining
to the community and to the society.
What
are you doing to convince the favela people of your ideas?
Your
question is very important. The favelados live in an absolutely precarious
situation. Any proposal for an improvement of their living conditions,
to give them a small place is better than the present situation, and
is welcome. But the most important question is to go further than to
introduce an infrastructure, ways and services. All this is necessary,
but the most important thing is to configurate with all these elements
a new "aura" of the place.
City
Politics, Urbanistic Party (Urban Scheme) and J.L.G.
In
the city of today the common sense or common politics isn't any longer
to push these people out of their places. If any of their houses has
to be erased for urbanizing the favela, the Town Hall offers them two
options: to accept money for their houses (the Town Hall has a committee
that evaluates the value of each of the houses) or to get a new house,
in the complex, and in the interior of the intervention area.
Since
when does the Rio Town Hall follow this politics of acknowledgement?
In
1994, when Cesar Maia was elected as Major, the Favela-Bairro program
was established. In 2000, he was elected once again as Major.
What
was the precise Town Hall strategy before 1994?
Its
politics was to make disarticulated interventions like in all Latin
America countries just to build some new residences, new pavements of
the streets, new contentions on the hillside or introducing some services
like kindergartens, posts of health, in a word: some services and improvements
- but without a clear concept of what I call "urbanistic party" or urbanistic
scheme. It's the "urbanistic party" that makes the difference. This
notion defines the basis of the intervention. All questions are based
on it: it regulates the whole of the variables that intervene - the
articulation between urbanistic, social, cultural, economic as well
as ecological questions.
The
articulation between all these aspects is fundamental, it is the basis
for the urbanistic project, which on the other hand is the basis that
establishes the coherence of every proposal. I have already told you
what I mean when I say that you have to read the structure of a given
place. Reading implies distinguishing the different layers: the layer
of central spots, the layer of physical and social limitations and possibilities,
the layer of the system of waste, the layer of environmental aspects,
etc. In my point of view, the most important question deals with all
those readings, with the relation between the physical, the social and
the cultural variables that defines the singularity of a place - clearly
there is no other place like the specific place you're working on. Its
physical characteristics, conditions and specific forms of social appropriation,
of interaction between the different places and the community actions,
and the community's occupation of the place.
In the favela each building acts like a monument. To me, even the smallest
building in the favela has a symbolic function - a vestuario, the garbage
post, the urbanistic and social orientation post for example has a important
function as representation of the public in the interior of the private.
In the favela, the public dimension did not exist before the intervention.
All is private except the football field, the seat of the Community
Association, and the kindergarten.
Most buildings have been constructed in a very precarious way. Nothing
is elaborated. Neither the pre-existing kindergarten nor the social
services. The responsibility of constructing anything in the interior
of a favela is very important - the responsibility consists in the right
of the favelados to acquire some benefits of the common life, of the
city, of urbanity. Without these projects, without all these kinds of
intervention, they wouldn't have any possibility to enjoy the advantages
of the normal formal city.
The olympic village in Fubá-Campinho may work as an example.
But more important than this, is the Center of Generation of Work and
Income in the favela. That was the most difficult program to be established,
for example in the favela of Salgueiro. The Center is a space
that covers many activities: there are spaces for craftsmen, for lots
of manual activities - repairing clothes, shoes, utensils, telephones,
electronic equipments …all that is made by hands. A place where people
repair all kinds of things which the urban middle class needs in their
everyday life and that can be attracted to the Center. This Center is
an "Favela-Bairro" articulator.
There are boxes of 4 to 4 meters in which one or two families work to
offer services to the middle class people living in the quarters surrounding
the favela. Those people arrive with their cars. There are many other
activities, spaces for samba music, for weekend-parties, workshops,
etc.
In the second floor of this house [sketch of Salgueiro] there
are services offered by the Town hall. A public space conceived as an
agora with entertainment, handicraft services, open until midnight,
constituting a focus of the community life. All those services are offered
by the Town Hall: for children, the elderly, for handicapped people
and activities for the young population.
There are also Community parties like birthdays, "fiestas", balls, specific
dancings which are connected to the favela culture like funk dancing
- not the black funk music you might know but more like American rap,
but American from our part of America ... to me America doesn't mean
North America. The US act as a thief, stealing Latin America's identity,
banalizing, pasteurizing Latin America. It's outraging … and the population
of Latin America is larger than that of North America.
As
told by Jean-Luc Godard in his movie Éloge de l'Amour:
"...de
quel Américain s'agit-il
l'Amérique du Sud
je ne comprends pas, quelqu'un
des États-Unis
évidemment
évidemment, mais le Brésil aussi
ce sont des États unis
les États-Unis du Brésil ..."*
* Jean-Luc Godard, Éloge de l'amour. Phrases, Paris (P.O.L.) 2001, 96-97
Exactly!
Godard is absolutely right.
"Urban
party" - methods & strategies
What
you can see in a place and what you can hear when you listen to the
people is completely different. You know Paul Klee distinguishes things
you can see from the ***ones you can feel …one eye looks, the other
feels.
So did the Spanish architect Enric Miralles, who once was invited by
the Rio Town Hall and myself, for a workshop in the city. Enric knew
nothing about favelas. But he had his own and very interesting way to
go to a place and to study it. He compared himself with a dog: the nose
close to the place to smell every detail, going around and smelling
everything, looking around, listening, smelling ... combining his eyes,
his ears, and his nose. A place needs to be interpreted in all its aspects,
in many layers, in all its plateaux, as Deleuze and Guattari said.
Perspective
of Manguinhos´s Metropolitan Park
Precisely
which plateaux are you speakingf?
I'm
talking about some of them. About a specific section of the reality:
urbanistic, social, political, cultural, economic, and ecological strata.
But there is one dimension that can only be interpreted by architects-urbanists:
the capability to transform all those variables in a consistent formal
and spatial configuration. No other specialist is capable of working
that out. An integrated reading of the complexity of the reality creates
the basis of an elaborated scheme of reading of the structure of the
place.
This scheme here [sketch: scheme of reading of the structure of Fubá-Campinho]
was the first sketch to start the Fubá Campinho Favela project, a scheme
that registers the form of access to the favela, the topological relationship
between the different parts of the favela. Clearly, it is an abstract
sketch of all the parts of the favela, without dimensions while registering
the position of the centers, identifying all of the central spots in
the favela. Central spots are very important topics. When you understand
where the centers are, you know how to connect and signify these different
centers as points of interest capable of generating other new significations.
If you understand how it worked before, you can find and develop the
necessary new connections. It is exactly that what I call the "urbanistic
party", that establishes the coherent basis of urbanizing or integrating
previously not integrated parts between them and the surrounding areas,
including the new social services.
So
the concept of the "urbanistic party" implies a structure composed of
multiple parts? Is it the urbanistic key to the formulation of the project,
the structural dispositive of coherence for all its different aspects?
Yes,
it is the coherent referential basis to formulate the central idea of
the whole intervention, that guarantees the consistence of the "composition".
The necessary connections between all parts and the introduction of
the attributes of urbanity that I have mentioned.
The
uses of philosophy and psychoanalysis
How
do you practice Enric Miralles' "technique" of sniffing, looking, and
listening? Do you speak to the people?
All the time I'm speaking with the favela dwellers! This way of working
derives from the influence of other disciplines, not only from urbanism
and architecture. Basically, from philosophy and psychoanalysis.
Why philosophy? The philosopher teaches us how to think. Thinking means
for him connecting things, ideas, and events. The philosopher helps
us to think about how to think about the connection of different elements.
For him, thinking is the work of interweaving a fabric. So, you need
a philosopher in the group, because it is always necessary to find new
answers to old questions, and to think about new alternatives. City,
society, the relation between society and the interior community of
the favela - a permanent work in progress. What interest me most is
Enric Miralles" attitude; the technique hails from psychoanalysis. I
once asked a Deleuzian philosopher: What does "city" mean for you? He
answered immediately: "The city is the fluxus of everything passing
through: architecture, sculpture, painting, music, information; the
movement, the time".
The architect has to capture, to understand, and to formalize these
different kinds of movement in a given moment of history for a specific
situation in a specific place.
And
why psychoanalysis?
We
learn from the psychoanalysis how "to listen" to a certain speaker.
In our case, how to listen to the people, how to respond to their "demands".
The psychoanalyst's questions are completely different from those the
sociologist formulates. Usually, the sociologist is interested in the
general average, not in the subjective implications of the demands.
The psychoanalyst is interested in the singular person, in all his or
her singularity or individuality. Similarly, architects have to listen
to every single person and every single problem, to their or her demands,
to what people desire, establishing the difference between latent and
manifest demands.
The demand itself is ambiguous! In a real relation between an architect
and a client the latter might be an individual, a politician, a group
of clients, a Community Association, even a banker. It is clearly necessary
not only to trust in what a certain client says by words, but also what
he does not say. There is always a certain hiatus between the speaker
and the spoken. In this "listening" the subject shows "errors", oppressed
thoughts, wishes, informations, non-rational arguments. In its discourse
you "listen" to the subject's non-rational dimension. As architects
we must especially listen to those parts of the client's discourse.
Sure, I am not a psychoanalyst (and I don't want to be one), so my responsibility
in this sense is limited, but I am a member of the Psychoanalytic Institute
of Rio - Letra Freudiana, a Lacanian school of psychoanalysis. It is
definitely somewhat "luxurious" to utilize a psychoanalytic methodology
- but a valid, a necessary and productive luxury in my point of view.
What
implies the psychoanalytical approach to us as architects? In which
way could this approach be useful for us?
A
very significative question!
Freud says that the subject is not a master in its own house. The subject
is not fully responsible for itself, the unconscious acts. Everything
the subject expresses has to be interpreted - a difficult job indeed.
What does that mean for our job? Infrastructure is necessary like the
pavement, a kindergarten, contentions ... very fundamental things demanded
by the favela people. But it is necessary to go beyond those demands.
It is necessary to go beyond the relationship between architect and
"clients", wich is normally limited to the level of only demands. It
is necessary to permit the"emergence" of desires, through that is a
didactic task of making it possible for people to understand what they
have right to desire.
The relationship between the architect and the favela-"clients" has
to be elaborated in such a way that possible desires emerge in the dialogue,
a discourse which always should try to go beyond "the possible" - not
to remain within what your interlocutor might consider as "the possible",
but to arrive at the area of the "non-expressed". A subject can wish
something without knowing it, without having any idea about it. So this
dialogue has to show to the "client" his right to desire and which he
or she did not know before the "psychoanalytic" relationship between
the architect and favela-"client" had been installed in a process. The
architect has to create an "atmosphere" in which the client' s true
desires have the chance to emerge. So I understand the architect's work
as never being previously definable. This desire emerges only in the
specific relation - like in a psychoanalytic process, in an "architectural
transference".
To me, the transferences in the sense of a psychoanalytic process are
valid - or work - in the relationship between the architect and the
"client", in relation with the processing of the demands, that is a
fundamental question in relation to the individual as well as the collective.
According to psychoanalysis, the question is not to respond but to interpret
the demands in a consistent configuration that requires the articulation
of ethical, aesthetical and political dimensions.
We could then say that the psychoanalytic part of the design process
is something like a kaleidoscopic instrument, which shows the pieces
of a puzzle of "the possible" and "the non- expressed" in different
constellations which could not been seen without processual movements,
which are introduced by the "talkings-cure".
Psychoanalysis
draws our attention to this question related with the ethic when - facing
all types of the determinations (economic, political, social, cultural
determinations) the "projectual act" implies an ethical position that
I would summarize as following: "Do what it is necessary to do". But
this right is not in a relation with moral or law. It is just a right
in which a certain "beyond the demand" is permanently working. It is
for this reason that the question is not to try to please, like a manner
of seduction or harmony. However, this is clearly not the fundamental
issue.
We can say that the ethics of an architect is related with the intangible
that sees behind the curtain, that is to say behind the articulations
that he made between the project ("dessin") and the intentions ("dessein").
So it is necessary to know that the question of the "interpretation"
of the demands implies "listening" beyond the declarations. This signifies
establishing the difference between what the client asks for, and doing
what he desires, what he needs - which almost never coincides with what
he had asked for.
If we act according to the client's requests, we do not get to understand
him. We only obey him, merely responding to his manifest demands but
not to his latent demands.
The question is not that "the client does not know what he wants", but
to hear, to try to understand, to establish the hierarchies and to organize
the ensemble of dreams, problems, limitations, potentialities and expectations
around the - overt or covert - demands.
On
beauty as demand
Normally
favela-people are totally excluded from the "right to beauty". But this
right is as important as the right to infrastructure, to social services
or to education.
Do
you speak of beauty as of a category of objects or as of a category
of thoughts and thinking?
I
speak in the sense of a category of thinking and as an ethical issue.
The responsibility for the "right to beauty" is the specific responsibility
of an architect. Not all professions are capable of responding to this
fundamental demand.
The architect will not be useful in social terms, if he does not synthesize
ethics and aesthetics in a consistent formal and spatial configuration
in each space and dealing with each object, whether isolated (architecture),
or in a group (urbanism). When he does not understand his work in this
way, he does less than he could and should do. Beauty is a question
of spiritual necessity! And an essential component of the architectural
task. Beauty is always something that makes the difference. It is a
central question, always a challenge related to creativity, the new
and truth.
You
have spoken of your philosophical and psychoanalytic approach to your
work. What about an ethnopsychoanalytical approach, which would let
us understand different meanings of terms like "normal" or "normality"
as well as "strange" or "strangeness" and which - as a consequence -
would demonstrate us that our "standard" understanding of these terms
is just the consequence of our way of being socialized. This approach
could install the interest for different kinds of "being normal" as
well as reducing the prejudices against them. A better understanding
for different "normalities" seems to be of high interest in the relationship
between favelados and the other citizens.
You're
right, but actually I don't have a specific dialogue with an ethnologist.
However, I recognize that the architect has to be open to all types
of external stimuli and contributions from other disciplines to be able
to think. The model of attitude is the surfer, who has to study the
characteristics of the waves, he has to find his specific way of "connection"
with the wave. He has neither to dominate - which is impossible - nor
to submit himself to the wave "that is coming" towards him - which could
kill him. But he has to find the best way to go for it. It's a political
question. Not to be submitted but to find the best interactions with
the existing forces.
This is a form-image to me, given by the philosopher: What kind of interactions,
intersections and articulations necessarily have to be done in any part
of the work between the existent and the new in order to produce the
desired "activated fabric"? in the case of the urban problems.
The idea is to find new articulations capable of joining the physical,
the social and the cultural, with the specific idea of the architecture
and urbanism as activator mechanism.
War-methodology:
from S- to XL-scale
What
is the difference between one proposal and another? Between a certain
"urbanistic party" and another one elaborated by other interdisciplinary
teams?
It's
like comparing different poetics. Different poetics imply different
approaches to the world. What is in play when you go to a place to make
a project?
It is a permanent work in thinking, never resolved. No project resembles
the other. We have done more than twenty projects of favela urbanization
in Rio in eight years. To refer to Rem Koolhaas' vocabulary: we had
made the passage through all the urbanistic scales - from the S to the
XL-scale of projects. What does this imply?
In a Favela-Bairro-Project (M and L scales) and in the Bairrinho-Project
(S scale) the problem is to conceive a specific urban party. It is about
urban design, the challenge of urbanizing medium or big size favelas.
Extrapoling a large to the extra-large scale means to distinguish between
urban design and urban planning or strategic planning. The problem we
have to deal in this moment is the formulation of an urbanistic plan
of actions for an important sector of the city called Complexo do Alemão
- a favela that once was the place of a big ancient farm ("fazenda")
of German people, the name of which remained in membrance for the whole
area. The area of intervention includes eleven favelas forming the "German
complex" including three quarries, an enormous green area covering the
top of the hills, two districts, and a powerful industrial surrounding.
In this case, the problem is not to elaborate an urban party but to
develop guidelines for this important sector of the northern city, aiming
to establish clear references for the urban evolution and to indicate
some exemplary points of intervention to provoke a process of re-generation
in the existing urban and social fabric, searching for an articulation
of the "formal" and the "informal" city.
The XL-scale implies different methodologies in which intervene with
more relevance juridical questions, problems of regional planning including
road systems, different means of transportation, trains, subway, busses,
and including informal means like "vans", moto-taxis, "kombis", etc.
Where
does the money for these big interventions come from?
Well,
it depends principally on the public sector on the Town Hall scale,
but also of the dialogue between the federal domain and the State Government
- of the articulation between the three levels of the public sector,
and the agreements with the private forces of the neighbourhoods and
with enterprises, NGOs, and the support of the Community Associations
that act in the surroundings ... many instances and diversified interests.
I'm working now for a favela in Caracas of one million inhabitants.
You can overlook this favela only from the helicopter. When you go around
by feet it is impossible to have the slightest idea of its dimension,
and configuration.
I thought that I would know all about favelas from my Brazilian experiences.
But in Caracas I found new problems! Two favelas with one million people
each. The one in which we are working is Petare. We made a contract
with the public sector. We form a consort together with a firm from
Caracas. The consort will realize the project. First the masterplan
has to be done, then, the specific projects will be developed. In the
case of a XL-scale we have to use a sort of "war-methodology" - acting
with a general idea about what the area signifies for the city, and
recognizing the impossibility to intervene in all the places at the
same time.
So we have to establish many "commands of actions" co-ordinated by urban
architects with a series of commanders established by transdisciplinary
groups - architects, lawyers, geologists, sociologists, engineers, people
of specific knowledges, experiences and methodologies that are articulated
by an intersection between strategic planning and urban design.
Clearly the methodologies for a huge project like this one cannot be
the same as for a normal Favela-Bairro-Project. We have to construct
a form of thinking, a scheme of approach including many other variables
completely different from those adopted in the Favela-Bairro-Project.
Plan
of the Metropolitan park of Manguinhos
What
about the term war within urban planning?
It
is a risky comparison from my part, I know. It implies that this work
and this scale of intervention demand a centralized command and a series
of subcommands at each "front" of intervention. I know that it might
be dangerous to speak in this way - speaking in terms of military strategies
is likely to be misunderstood. But what I would like to say is this:
a big favela like Petare, in Caracas, establishes clear and strong
and not tranferable responsibilities for each area of intervention interacting
withing the interdisciplinary fields. Such a coordinated work must avoid
the current dispersion, for me it is the only form to execute this task,
a huge challenge.
The necessary approach will be developed by urban readings of the structure
of the place derived from the interaction between the physical configuration
and the form in which each community is established in its territory.
In this case, there are further problems beyond economical and social
questions: there are problems of nationality, of religion etc., because
in this favela live many Columbians, and refugees that provokes other
additional connotations.
Favelas
and drug traffickers
Who
is your main partner, when you start a new favela-project - is it the
Community Association?
Yes.
We never work without discussing with the Community Association. Its
existence implies an important level of popular organization and representativeness.
How
many people work for or in a Community Association?
You
mean how many representatives? There are representatives of many different
favela-groups: women, different sectors of work, of religions, of guards,
children, the elderly , handicapped and young people etc. - usually
between fifteen and twenty persons in each Community Association and
usually very well organized groups. All this does not imply that the
drug traffickers are not present. They are present too, but implicitly
through certain individuals.
Drug traffickers do exist in every favela, there is no favela without
drug traffickers. In some of them their presence is very ostensive,
in others rather discrete: they don't appear in the public meetings,
but they don't make impossible the works.
But
they are themselves not members of the Community Association?
Not directly. The members of Community Associations are more or less
related to the traffickers. There are communities where the representatives
are directly representatives of the traffickers. In those cases it is
difficult to discuss, to establish a certain continuity, because these
representatives change very quickly.
Why
do they replace their representatives so quickly?
Because
the commands of the differents groups or "drug associations" are permanently
in war among each other - a fact that leads to a substitution, according
to the winner.
Schedules,
time-budgets and again the drug traffic
Which
time do you normally need from the first sketch until a favela-project
is finished?
My
contracts with the Town Hall - from the moment I win the competition
up to the final works - vary from six to nine months, depending of the
dimension of the favela: six month for a small or medium, nine month
for a big favela.
Are
you still involved in a project when the enterprises start to realize
it?
There
are different circumstances. Normally a competition needs one to three
months work, in exceptional cases six months. In this time I go to the
favela very often, as much as necessary. In some cases a construction
starts when the basic project is finished, that is before the final
project is completely finished, detailed, but in other cases the execution
starts with the basic project only.
Are
you then officially introduced to the Community Association by the Town
Hall?
Not
at the first moment. During the competition I go by myself. I call the
Community Association to make the first appointment in the favela and
normally, when I arrive, there are always people waiting for me. I don't
go to the favela without having fixed a date with some of the Community
Association's representatives.
When I win a competition, the Town Hall makes a formal presentation
of my team that will be working in this community in the following months.
During the period of elaboration of the project I don't go to the favela
as often as before, because the more important work has to be done in
the office. But representatives of the favela-people come to my office
to create the ambience of confiability. They have to know the office.
Of course we have an external office-post in the favela itself - not
during the phase of elaborating the project but immediately when the
construction works begin. In this moment I need by contract this post
in the favela, to establish a delegation of my office at the building
site to supervise the construction. The delegation consists of an architect,
two trainees and the necessary technological infrastructure: a computer-base
working in net with my central office, including a plotter, printer,
etc.
We are permanently there during the construction-phase to supervise
the works - normally eighteen to twenty four months. The relations between
the architect and the building contractor are always tense because the
latter intends always to reduce the costs - and this could imply to
substitute specific materials. So you have to control everything like
everywhere - but even more in a favela. It is much more problematic
there because even the public sector is not very interested in high
quality and there can be important changes in the execution if you are
not very observant.
When the construction works are finished there is a urbanistic and social
orientation post where an architect of the Town Hall and representatives
of the Community have to regulate possible conflicts. Within my eight
years of favela-experience this institution rarely has worked. But sometimes
the public sector is not capable to maintain the post, respectively
to expulse the traffickers, it's exactly the opposite way around: the
traffickers expulse the representatives of the public sector in some
cases.
What
exactly is - or was - the function of this urbanistic and social orientation
post? Is it or was it intended to be a permanent institution?
It
has to regulate contradictions, to listen to the community, to register
problems, to co-ordinate the maintenance of the executed work. This
post is conceived to be a delegation of the Town Hall in the favela
to regulate the relations between public and private interests and to
canalise complains.
How
would you characterize the difference between the normality of daily
life lbefore and after the intervention compared to the quality of a
normal quarter of the city?
There
is a great difference. The most important one is the chance to move
in and through the favela. Before the intervention there is no - or
no easy - public access. The regular presence of the police is not possible
before, because the ways do not allow vehicles to go through. Before
an intervention a favela is a ghetto without any public access or only
reduced access. Normally the drug traffickers retire from an urbanized
favela.
Do
they really disappear or do they only become invisible?
They
disappear not at all. They retire from the principal parts of the favela
because the urbanized favela is not longer safe for them.
Do
they move to the favela's periphery?
No,
first they move to other favelas in the surroundings.
The
drug traffic is still ongoing, but the traffickers are not permanently
there?
Sometimes
they come back after the interventions, but not permanently, because
the police can use the public access now.
Would
you say that an urbanized favela has what it needs to become a bairro
free from the drug trafficker's rules and their violence?
Urbanism
has never solved any problem due to the fact that problems involved
are socio-economic issues as a whole. But urbanization policies are
powerful instruments to combat the drug traffickers' existence combined
with security and socio-economic development policies. They have a great
real and symbolic significance.
In
which way are the favela-people normally related or otherwise connected
to the drug traffickers?
Let
me give you an example: In the favela of A Pedreira representatives
of the Community Association have told me that the situation becomes
more and more complicated and that boys and girls from one favela better
do not meet any longer young people from another favela in the neighbourhood
unless they would like to risk their lives. Drug traffickers don't hesitate
to kill. The different groups are in a real war. The situation resembles
more and more the one in Israel and Palestine. A grave social situation.
Is
this a normal situation in almost every favela?
Each
favela is a single case with no similarity with any other. The corrosive
existence of drug-traffickers is due to the absence of the public sector
or to its very fragile presence. This is a reality that has endured
for a long time. To change this dramatic situation you need a long-term
social policy. Urbanization combined with other policies related to
education, generation of work and income, health, security, strategic
planning articulated with urban design, are the only way to resolve
the intrincate current situation.
Would
you say that the favela dwellers - in spite of all those dramatic aspects
- are happier about the interventions from the start?
Today,
starting from the experience of the work already executed, when you
set foot in the favela, everyone wants the urbanization. There is really
a great demand for the program, and the civic attitude changes very
much. They come to have a proud attitude regarding the favela; in this
sense I can say that they are happier after the urbanization, without
any doubt! Compared to their dependance on the current negative conditions,
they certainly do. The issue is always about the necessity to introduce
services, to improve physical spaces, to introduce cultural equipments
and to create conditions to provide jobs. According to the urban upgrading,
the latter aspect is very important.
Do
you know favelas whose inhabitants are so strongly connected to the
drug traffickers that they do not want any intervention?
I
don't know any case. Normally, they need to have the support of the
local population and then they aren't opposed to the urbanization, even
knowing that they will stay much more vulnerable. In some cases the
traffickers work for the people supporting the absence of a public sector
like in the case of transport to the hospital for the sick, economic
support for families in difficulties, etc.
They
help them?
Yes,
they do. In my experience I never met traffickers who were against the
program. They need the approval of the Community to establish good relations
to the people in the favela in order to not be denounced.
I remember a very special event. It was a very hot day in the favela Fernão Cardim. I was there nearly without any clothes, only with
pants like on the beach, in a place without any shadow. All the architectural
plans were humid because the people touched them with their hands. It
was about high noon, many people were there and it was very noisy. There
was music and I spoke through the microphone presenting our project.
Suddenly somebody touched my shoulder telling me: "Jorge I would like
to present to you ‚João'". I was just discussing with many people who
asked me for details of the project. Suddenly I remembered having read
in the newspapers the name I was told as the name of the big boss of
that favela. Then I saw him: a young man between twenty and twenty five
years, very well dressed, with shirt and tie, in a perfect suit, very
elegant - and I was nearly naked, like a beggar in front of a winner.
I looked at him and said: "You want to look at the project?" He answered:
"No. All that is approved by the Community Association is approved.
Your project is totally approved. Here nobody is going to bother you!"
Strange feeling: I felt that nobody would ever touch me - I felt to
be in the most secure place of the world!
You
were under the personal protection of the big boss?
Yes,
indeed. I didn't know what to say. I could have said to him: "If you
have something to suggest, just let's have a coffee." But I didn't.
We shook hands and he turned around and went away through all these
people. I never saw or met him again. It never happened anything that
made our work difficult or impossible.
What
happens when people refuse to serve the traffickers? We have read reports
dealing with the brutality and the violence exerted on people who refuse
to cooperate.
Like
you, I only know about these cases from the newspapers; I know that
they exist, but I don't know anything more specific.
To
whom does an occupied territory belong?
The
question of private property everywhere is one of the main problems
of the ruling classes. As in many parts of the world in Brazil hundreds
of thousands people have occupied public ground and built houses on
it. Are the favela people interested to transform their juridical non-position?
Are they interested in regular contracts? Would they be proud to say:
"This is my ground, this is my own house?" And do the Rio City Authorities
want those people to become legal users respectively owners of the ground?
This
was one of the initial questions to face. At the end of our work of
urbanization we needed to give the authorities the plan containing the
differentiation between private and public space domains. This is the
basis for the legalization of each residence that receives the property
title. While works of urbanization come to an end the law and its practice
needs a long time for a fundamental change. The favela dwellers are
profoundly interested in legalizing the situation because they depend
on their inclusion in the formal social net of relations, that to give
an example permits to get credit in normal commerce of the city that
demands a formal address, for example.
We
have read that after five years of occupation the territory belongs
to the occupier. Does a law exist that regulates all juridical questions?
Yes,
it's called "uso capião", but this law is not applied to the case of
the favelas. The whole situation related to the law administration is
characterized by complicated processes and procedures that demand a
strong group of lawyers working permanently for this purpose. The "Estatuto
das Cidade" (Statute of the City, see www.polis.org.br/publicacoes)
has not been aproved yet. Amongst other things the law establishes that
those parts of favelas which imply danger for their inhabitants or others
(like in case of inundations, terrain liable to slips etc..) are not
safe from removals. *
Does
Rio's Town Hall wish to legalize the situation?
Yes,
that is one of the principal questions to be solved. To permit the transition
from illegal to legal, from informal to formal conditions of citizenship.
Would
you say, that the favela inhabitants are highly interested in getting
those contracts?
Yes,
they are. Before the intervention the property has a certain value and
after the intervention it has a higher value - one of the reasons for
the people to be very interested in the urbanization project.
Did
the favela people pay any taxes before the intervention?
Not
taxes, they only paid certain charges for electricity - but there are
many illegal derivations. The pre-existent infrastructure was made by
themselves with some irregular support by the public power.
Kindergarten
in Rio das Pedras favela
Do
the favela people have to pay taxes after the intervention?
Yes.
But in proportion to the conditions of an "area of special social interest".
There is a declaration of the condition of "area of special social interest"
by the "Cámara dos Vereadores" in the Town Hall's law. This implies
to freeze the situation that permits to elaborate the proposal of urbanistic
structuration and a little law applied to the specific situation
of each urbanized favela. This little law is derived from the
general law of the City and adapted to the specific favela situation.
A
special set of laws especially made for favelas?
Yes,
and this special law is entitled "Leizinha".
Is
this law valid only for a specific situation in a specific favela? And
who has formulated that law?
The
law was suggested by the multidisciplinary team responsible for the
elaboration of the project. The law or "leizinha" was submitted to the
municipal authorities and approved by them. It has been adapted to the
general law of the city considering the specific condition of each favela.
What
does "Lezinha" exactly mean? And precisely what does it establish?
"Lezinha"
rules the occupation and the use of the ground: for example the different
zones of a favela, the number of floors of a building, the limits between
private and public areas.
So
"Leizinha" has nothing to do with the juridical definition of the property?
In
principle "leizinha" establishes the delimitations between public and
private domains. The property title will be prepared by the Town Hall
later.
Is
"Lezinha" something like a Zoning-plan?
Yes,
in some sense, because it implies a plan fixing the right to build in
this or that sector; the right of people to live or to stay there. It
establishes the coefficients of construction for each street , each
sector, etc.
Without
any contract?
These
contracts are made through the legalization of the property of the ground
as a whole by the Town Hall, on the basis of our project that defines
the dimensions of each alotment.
So
an additional aspect of the "urbanistic party" is juridical?
Yes.
It is the reference to defining a new legal condition for the favela's
dwellers - and this is a very significant part.
Did
the authorities formerly follow the strategy of "tabula rasa" in Rio?
They
did so before the Favela-Bairro-program was launched, in the period
of the military dictatorship.
Is
the Favela-Bairro program typical only for Rio?
Yes,
it is still the only initiative in this ample vision in the whole country.
The
strategy is so exemplary that it should work as a model for other cities
or regions.
I
think so. For example for the rest of Latin America, or Egypt or India
or Africa too. The reason that this project is limited to Rio, that
it is has not even been practised in other cities of the country has
to do with the fact that such a program needs a certain amount of money,
a counterpart of the Town Hall on the one hand, and on the other it
needs a Federal approval to get the loans from an international agency.
Who
gives and from where comes the money?
The
program gets the necessary money from the Bank of International Development
- 70 %, the rest, 30 %, comes from the Town Hall of Rio.
Did
the Favela-Bairro program influence the urban politics of other countries?
Argentina,
Venezuela, México and Uruguay for instance. Those countries did not
adopt the program or the methodologies themselves, they started forms
of co-operations and common initiatives. I'm in contact with municipal
authorities in Cordoba (Argentina), in Caracas and in Montevideo, to
carry out studies and projects to establish a similar program of interventions.
Would
you say that the Rio Town Hall administration acts like an urbanistic
and social avant-garde?
Sure,
it does. I would call it an avant-garde laboratory! The situation of
Rio is unique and very complex. The United Nations have programs in
Egypt, in India and other countries, but not in the way we do it here
in Rio. Not in such all-embracing way. For me the essential difference
is this: Rio has established a strategy to understand the logic of configuration
of these places, to decipher this logic and to intervene in order to
accentuate a new centrality in a given configuration, to introduce new
facilities, etc. In one word: to establish the principles of a real
sociourbanistic intervention in a given structure, to create a nucleus
that transforms the favela into a normal district ("bairro") in a process,
a nucleus that expands its influence transforming all spaces of the
favela in a non-ending process. Rio has established a procedure that
generates a consistent process of transformation.
In the majority of the existing projects in other cities of Brazil,
in Argentina, Chile, Egypt, or in India, the administrations principally
construct new houses, they establish mere housing programs. But constructing
residences is completely different from building a city! Transferring
people from one place and from an existing net of social relations to
another is the worst solution possible.
It's
exactly what the administrations do in Shanghai and Peking today: erasing
complete quarters in city centers and forcing people to live somewhere
in the outskirts in multi-storey-residence-towers.
There
was a similar situation in São Paulo during the government of Paulo
Maluf, ten years ago.
Kindergarten
in the favela of Fubá
Is
there any "urbanistic-tourism" in Rio because of the Favela-Bairro-Program?
Not
in a well organized manner still. But the possibility really exists.
My own interest is to establish forms of co-operation, forms of interchange
with international organizations, for example in Europe, because the
experiences of European cities are rather related to ours and our history
through Spain and Portugal than to the ones of the United States. Today
the United States are the reference to all the bad things that afflict
our cities: shopping centers, gated neighbourhoods and all kinds of
"garbage spaces" as Rem Koolhaas calls them. The "garbage space"-concept
is interesting for me. It includes all the calamities happening in our
contemporary mega-cities ... It is this dramatic transformation of the
city that makes it necessary to establish other forms of co-operation
- co-operations of thinking and acting. We have to create specific programs,
special urban cells capable to propose small transformations growing
in a continuous process. What succeeds would be important and would
have a symbolic significance. It is necessary to establish relations
with contact organizations of the European Union, NGOs, universities
and research centers, in order to develop specific programs of co-operation.
Outlines
of an architect's biography
Jorge,
how did you feel after having received the Veronica Rudge Green Prize
in Urban Design from Harvard?
Just
great. My "visibility" before and after is very different, new possibilities
to establish new international collaborations are now ameliorating very
much.
Is
seems important not only for yourself that Harvard has awarded your
projects for this prize. It revalues this kind of work and lets the
world know that the Favela-Bairro-Program exists - it's the very
reason because we've asked you for this meeting - and that there are
architects and urbanists who begin to feel their social responsibility
...
In
this sense, I think that this prize has a symbolic value too, because
it signalizes a new attention that understands the necessity of restart
the social engagement of architects and urbanists and to open the way
not only for many other architects and urbanists but also for further
programs and approaches in the world to work in this direction. It is
impossible today not to recognize the precariousness of the relationship
between social and urbanistic questions in the world, between aesthetic
and ethic dimensions of any urbanistic and architectural work. The Harvard
Prize people were very smart to understand the need of this kind of
work and to understand the need to award this type of projects.
How
did you start your work? Could you tell us some details of your biography?
With
pleasure. I was politically engaged. I was a political militant in Argentina.
After the military and political coup d'état, I had to leave the country
in 1978, and Brazil was the next country to stay for a short period.
Clearly I hoped to return as soon as possible. But then I transformed
myself from a political-technical militant to a technical-political
subject in Brazil, from a militant in politics I transformed myself
to a militant of architecture and urbanism. And like all Argentinian
architects in the world I formed a group of study after having arrived
in Brazil. It is a vice. Argentinians form groups of study in all parts
of the world where they arrive. I soon knew many Brazilian architects.
There is a profound difference between Argentinian and Brazilian architectural
practice: Argentinian architects like to think too much and have opportunities
of construct too little, whereas Brazilian architects construct too
much and prefer to think too little ...
Now, starting from this group of study I founded a space of reflection
called Center of Architectonic and Urbanistic Studies in Rio. I founded
a group that made projects about Guanabara Bay, the district of Botafogo,
the Waterfront of Rio de Janeiro. We presented the project to the autorities
and many other studies about specific places of the city. At the same
time I started to write and to publish in Brazil in the two existing
magazines: "Projeto" and "A & U, Arquitetura e Urbanismo".
I was first known in Brazil as an architectural thinker than as a project-maker.
When the opportunity of participating in competitions occured in Rio,
public competitions of the formal city in the urban scale in 1994, with
Rio's mayor Cesar Maia - he was the principal animator of this debate
from the political point of view -, I reorganized my office towards
the participation in public competitions.
I'm working in this direction, even more and more.
Meeting
with the communitarian association in City of God
*(The
law applied to the favelas is the "Estatuto da Cidade" - The Statute
of the City, but it hasn't been approved yet. This law establishes that
the favelas shouldn't be remove, except in the case in which it's presence
implies danger to them or others (like in the case of inundations, landslides,
excessive proximity to greater infrastructures, etc).
Topo
- En la Argentina todavía se puede resolver el tema de las
villas
Mirante en la favela de Salgueiro
En gran parte de América latina los asentamientos
precarios son endémicos. En nuestro país hay soluciones,
siempre y cuando existan a mediano plazo políticas integradoras
que no se basen en el uso de la topadora.
--------------------------------------------------------------------------------
Claudio Martyniuk.
cmartyniuk@clarin.com
En
las ciudades de América latina están creciendo los asentamientos
precarios, las villas miseria, las favelas. ¿Qué rasgos
y consecuencias tiene esta tendencia?
—Los
problemas son graves. Hay una expansión sin límite de los
bordes de la ciudad y, a la vez, un vaciamiento del centro. Este es un
proceso paralelo que se da en la mayoría de las grandes metrópolis.
Vaciamiento y extensión son un contrapunto de movimientos contradictorios,
pero resultantes de una estructura socioeconómica que produce desigualdad.
El desarrollo en los países de nuestra región se concentra
en pocos sectores y acompaña la exclusión de muchos, que
quedan en condiciones muy precarias de vida. No veo un fin cercano para
esto.
¿Por qué?
—Miremos por ejemplo Brasil y México. Tienen
entre un 30 y un 50% de su población urbana en áreas informales.
Río de Janeiro tiene un 30%: un millón y medio de personas
viven en favelas. Y Lima está peor: tiene un 70% de su población
en áreas informales. Es decir, lo formal es casi una anécdota;
lo que realmente determina la estructura urbana es la condición
de informalidad. Pero la informalidad no es un atributo solamente de la
cuestión espacial: domina las relaciones de producción,
las relaciones sociales y las relaciones políticas.
¿Qué soluciones se vislumbran?
—Hoy no existen recursos como para poder integrar
a todo el mundo al mismo tiempo. Por lo tanto, tiene que haber una política
pública que sea capaz de actuar ante las urgencias, al mismo tiempo
que haga planeamiento estratégico de tipo prospectivo, formulando
varios escenarios y posibilidades de evolución, con medidas a veinte,
veinticinco años.
Entre nosotros, eso parece imposible.
—Pero es necesario pensar a largo plazo. Para actuar
en estos contextos hay que conjugar los planes y las fuerzas del poder
público con las iniciativas privadas y de la sociedad civil.
¿Resolver el problema de vivienda es, simplemente, proveer
un techo?
—No, sin duda. Además de hacer unidades residenciales
verticales o desparramadas horizontalmente, se debe "hacer ciudad",
que es bien diferente a construir casitas o departamentos. Eso implica
que, al mismo tiempo que hay que responder a las necesidades, hay que
hacerlo de forma tal de crear un ambiente estimulante para la vida, para
el contacto y la evolución social.
¿Se puede "hacer ciudad" con el millón
y medio de pobladores de las favelas en Río de Janeiro?
-Sí. No se trata de hacer todo desde cero, demoliendo
todo para rehacerlo. Justamente, de lo que se trata es, a partir de lo
que existe, introducir atributos urbanos que sean capaces de generar un
efecto contagiante positivo y, a través de la inversión
pública, desencadenar un proceso de mejoramiento de lo privado
desde lo privado, o sea, desde los propios habitantes. Y esto porque todos
se benefician, tanto en términos de valorización cuanto
de mejoramiento de la calidad de vida y del ambiente.
La Villa 31, de Retiro, ocupa tierras fiscales frente a departamentos
de los más caros de la ciudad. La última dictadura militar
buscó erradicarla. ¿Qué se podría hacer ahí?
—La política de la topadora es típica
de actitudes poco inteligentes y poco sensibles, que piensan que ante
un problema lo mejor es arrasarlo, borrarlo del mapa. La actitud racional
es pensar qué puede obtener de beneficio la ciudad por la existencia
de algo que ya adquirió su derecho a existir. La Villa 31 debe
tener hoy una población de alrededor de 20 mil habitantes. Esa
gente puede no sólo no ser un problema, sino que puede estar disponible
para prestar servicios en el barrio del entorno.
¿Cómo lo imagina?
—Puede configurarse un mercado de prestadores de
servicios, no un mercado para vender artesanías, que ya hay varios
en otros lugares, sino un mercado de servicios de mano de obra específica,
que es lo que la gente tiene como capital social. Deben usarse los tres
grandes articuladores socioespaciales: trabajo, esparcimiento y deporte.
Radicando y urbanizando con inteligencia se resuelven problemas. Se enriquecería
la situación social de ese entorno, incorporando grupos populares
a los sectores históricamente privilegiados de Puerto Madero y
Recoleta —los cuales tienen necesidad de mano de obra—. Hay
una capacidad ociosa no utilizada, que tiene gran potencial y que si es
bien dispuesta en el territorio, con la intención de lograr calidad
espacial y estética, puede representar una contribución
para transformar el problema en solución.
¿El traslado no es una solución posible?
—Para mí no hay ninguna razón para
trasladar y tampoco para que no se encare esta situación postergada
desde hace 60 años. Hoy hay una precariedad de la configuración
y de la instalación, porque como todo está en permanente
duda, lo que se hace no está concebido, desde el inicio, para durar.
Si se encara y se planifican los diferentes problemas que hay que resolver
—ambientales, de circulación, de tenencia de la tierra—,
creo que esta villa podría ser un caso modelo de solución,
a partir de una intervención pública basada en una concepción
general integradora, que busque conectar lo informal con lo formal de
la ciudad.
¿Hasta dónde una ciudad puede asimilar o formalizar
la presencia informal?
—Sería deseable que no se hubiera llegado
a la gravedad del problema actual. Pero, en ese sentido, Argentina, Chile
y Uruguay tienen una condición bien diferente del resto de América
latina, que es dramática. En la Argentina todavía se puede
resolver el problema de las villas; se pueden tomar medidas preventivas
para evitar que se expandan y lleguen a los niveles de los otros países.
Desde lo público hay que apuntar hacia una sociedad integrada y
hacia una ciudad no partida. A partir de ahí, existen las posibilidades
y los medios técnicos. Con un planeamiento estratégico,
el poder público puede tener diferentes alternativas a elegir,
en función de su orientación ideológica, pero en
base a directrices a las cuales tomar como referencia.
Así como lo plantea usted, las soluciones están a mano,
pero cuando se confronta con la realidad...
—Mire, Caracas tiene una única villa con
un millón de habitantes. En mi primera visita sólo la pude
recorrer en helicóptero. Por tierra necesité varios días.
Los problemas en Argentina son de escala pequeña: los 300 mil villeros
que se supone que hay en la Ciudad de Buenos Aires son apenas la tercera
parte del problema de Caracas. La cuestión es integrar, no transformando
brutalmente y destruyendo lo que existe sino entendiendo su lógica
e incorporándole elementos que permitan una evolución.
No se trata, como a veces se hace, de edificar monoblocks.
—Hoy hay una evaluación crítica de
ese urbanismo de los bloques, de los grandes conjuntos habitacionales.
Esa estrategia demostró su fracaso. Induce a la refavelización,
por la descalificación de la relación entre lo edificado
y el espacio que queda en medio de todo eso, que nunca se transforma en
espacio público sino en espacio donde se instala el peligro, la
violencia, la descalificación física. O sea, se transforman
en lugares desagradables para permanecer y utilizar. Ni siquiera funcionan
áreas de deportes. Jamás se plantan árboles. Entonces,
lo típico de estos bloques en Caracas, en Río, en Buenos
Aires, es que no fueron capaces de generar un sentido de pertenencia.
No se deben hacer tiras repetitivas ad infinitum de lo mismo; hay que
enriquecer las tipologías y diferenciarlas cuanto sea posible,
dentro de costos razonables, haciendo pequeños condominios —que
pueden ser más o menos densos, más o menos verticalizados—
pero siempre rodeados de algo existente. La inserción de lo nuevo
en lo existente es una operación cuidadosa, que demanda una capacidad
de lectura de la estructura de lo que existe, de escucha de las demandas
para interpretarla desde el punto de vista arquitectónico urbanístico
en configuraciones consistentes, inclusive en términos estéticos.
La arquitectura no tiene que considerar estos proyectos como se si tratara
de asistencialismo o de construcciones pobres.
Copyright
Clarín, 2006.
http://www.clarin.com/suplementos/zona/2006/11/19/z-04015.htm
Centro de generación de trabajo y renta, Villa 31
- Elisabeth
Blum and Peter Neitzke
-
How long have you known Jorge Mario Jáuregui?
We
contacted Jorge Mario Jáuregui after the German architectural weekly
magazine »Bauwelt« (http://www.baunetz.de/arch/bauwelt/archiv/)
had published as an important news that in December 2000 the Harvard Graduate
School of Design had awarded Jorge Mario Jáuregui the »Veronica
Rudge Green Prize in Urban Design« for a series of projects implemented
through the program »Favela-Bairro«, a collaborative initiative
that has transformed impoverished favelas in and around Rio de Janeiro
into functioning bairros (quarters).
As authors / editors we immediately understood the importance and significance
of this special award and the basic necessity to make Jáuregui’s
activities and projects known in the German speaking world.
We made a first appointment with Jáuregui in order to interview
him. The interview entitled »Rio ist so etwas wie ein Zukunftslaboratorium«
(»Rio as a Future Laboratory«) became a significant part of
our book later on published as »FavelaMetropolis. Berichte und Projekte
aus Rio de Janeiro und São Paulo« (»FavelaMetropolis.
Reports and Projects in Rio de Janeiro and São Paulo«, Basel
(Birkhauser) 2004, see:
http://www.springer.com/dal/home/birkhauser/architecture+&+design?SGWID=1-40463-22-34425332-0).
For the book’s complete contents see: http://www.amazon.de/gp/reader/3764370637/ref=sib_dp_pt/302-4450164-9682411#reader-link
Our first discussion with Jorge Mario Jáuregui (2002) was so impressive
and evidentiary in its arguments that we decided to return to Rio de Janeiro
(2003) in order to meet him a second time and not only to have a several
hours during interview with him to engross the thoughts but also to visit
the places of his urbanistic interventions together with him.
- In what capacity have you known Jorge Mario Jáuregui?
As
an extraordinary socially dedicated architect Jáuregui represents
for us all the ideas and activities Rem Koolhaas basically misses in the
architectural profession (see his essay “What ever happened to Urbanism?”).
Koolhaas accuses architects of having withdrawn themselves in the »parasitic
security« of architecture instead of acting in sociopolitical contexts
concerning urbanistic tasks and thus having brought down the whole profession
to total meaningleessness. Particularly seen from an European viewpoint
Jáuregui is an outstanding person. Committed to the social and
political tasks of the architect’s work he is practicing quite the
contrary of the ordinary architect’s attitudes and activities inasmuch
he is demonstrating the positive results of social engagement in the field
of urbanism.
- What is your opinion of Jáuregui´s contribution
to research, thinking and practice in the human settlements?
Jorge
Mario Jáuregui is not only a practicing architect designing urban
projects but likewise a genuine theoretist finding clarifying terms that
are adequate to his challenging urbanistic interventions.
As a creative thinker Jáuregui has for example developed the term
»partido urbanistico«, a kind of key or structural coherent
dispositive through which he formulates every particular project, combining
urbanistic, social, cultural, economic, and ecological aspects in a unique
conceptual formal and spatial configuration. What makes his theoretical
and practical methods intriguing, sophisticated as well as coherent is
their interdisciplinary coaction in the “reading of the existing
site”. His first and most important approach to a new favela urbanization
project always is the question how to »read« the different
»strata« and their correlations:
UN-HABITAT_Lecture_Award_Blum_Neitzke.doc
central
places, physical and social limits and possibilities, waste management,
further ecological aspects etc.
Above all Jáuregui’s urbanistic interventions benefit from
psychoanalysis as science and practice. Jáuregui applies its methods
by distinguishing manifest and latent needs of the favela people as clients.
Thus he emphasizes the traditional relationship between the architect
and his clients by developing the possible options of the latter.
Jorge Mario Jáuregui is an architect who is dedicating his work
– and, as we might add, his life – to a social task of utmost
significance and priority: upgrading, that is to say humanizing life conditions
in Brazilian favelas through urbanistic and architectural interventions
of sustainable quality. Both his activities and his writings show that
and how architects can do more than to design brilliant objects. Internationally
accepted through the Harvard prize Jáuregui demonstrates that architects
can broaden the professional horizon, and that there is always a way to
seize the chance to intervene in given urban and social situations - combining
social commitment, creative methods including forms of cooperation between
planners and clients, and spatial solutions.
Elisabeth
Blum and Peter Neitzke
Topo
- Urban Explorer - Transforming Rio: New Urbanization Projects in the Most
Unlikely Places
by Noah Lewkowitz
|
If
you are looking for gorgeous beaches, beautiful people and a nightlife
that never ends, there are few destinations more suitable than
Rio de Janeiro, Brazil. The Marvelous City offers all of this
and more, yet there is a side to Rio many visitors never see.
Scattered throughout Brazil are the favelas, poor ghettos riddled
with crime, drugs and poor sanitation. While most people avoid
favelas, Argentinian-born architect Jorge Mario Jauregui devotes
his practice to organizing, rehabilitating and community-building
in these impoverished areas.
The first favelas built on the scenic hillsides of Rio are nearly
100 years old. There are over 600 of these districts. Families
reside in the cramped quarters of tiny shacks with no plumbing.
One in five Rio residents live in the ghetto and are deemed lower-class
citizens of the state. Further complicating the situation, most
favelas are under the control of drug traffickers. These armed
soldados, usually between eight and seventeen years old, guard
the ghetto entrances. Violence makes upgrading these districts
extremely difficult.
Fortunately, residents of these favelados are finding hope in
new urbanization projects from Jauregui. Not only is Jauregui
winning favor with Rio locals, but his efforts have even been
noticed in the United States. In 2001, he received the Veronica
Rudge Green Prize from Harvard University for his work on the
“favela-barrio” project, a collaborative initiative
to transform these poor districts into modern communities.
Jauregui’s designs contain a quality of innovation and simplicity
critical for the development of the area. Money for such projects
is scarce, so efficiency is important. For some, this would present
a roadblock, yet Jauregui embraces this challenge, making modern
forms from meager materials. For instance, in Vidigal, a once
desolate area is transformed into a public square with flowing
walls and stairs seeming to echo the dramatic, undulating coastlines
of Rio. The form is not only beautiful, it reminds favelados that
they, too, are a part of the city. Instead of leaving this area
desolate and dirty, it is now a thriving symbol of hope for the
city.
In Fuba Campinho, a new school was needed. Located on a difficult
sloping site, the building embraces simple reddish-orange brick
material used in construction in many favelas. The material sweeps
across the lower part of the building, using curvilinear rather
than orthogonal forms, distinguishing it from the surroundings.
These broad gestures are docile and inviting, a pleasant change
from the existing decaying dwellings.
Extruded window boxes, turned on an angle, watch over the street
as if the building itself is concerned with public well-being.
This simple move connects the structure to the community, evidence
of the sympathetic understanding Jauregui brings to each favela
project.
In a recent proposal for the Cidade de Deus or “City of
God” (made famous by the movie of the same name) Jauregui
demonstrates the connection between community space and architecture
in an urban housing scheme. Instead of simply placing houses on
either side of a constricted street, the space between homes is
transformed into park area. The wide, shared communal areas encourage
social gathering and leisure activities in a close-knit neighborhood
setting. This contrasts starkly with the stacked, dilapidated
housing and unfriendly, narrow streets that are more commonplace
in the city. A similar scenario in a commercial context is in
the favela of Manguinhos, where a central park area is inserted
between major traffic routes through the district.
Jauregui’s buildings in these sites display bright colors,
distinguishing his interventions as progressive landmarks for
a better future. In his project in Vidigal, the walls are purple,
accented with green stairs, reminiscent of evening colors found
when gazing at the mountainous landscape that pervades Rio and
the numerous favelas that reside in the hillsides.
In his kindergarten building in Fuba Campinho, the bright yellow
color adds to the welcoming nature of the entire structure. The
radiant shade represents a progressive modernity rising out of
the cold, unkempt streets—a symbol that people can overcome
social, economic and political difficulties connected with favela
living. The bright contrasting colors associated with the new
projects in Cidade de Deus and Manguinhos express the dynamic
Brazilian culture. It is through such methods—relating architecture
to culture and context—that gives Jauregui’s work
a tangible relationship to the people it serves.
Jorge Mario Jauregui’s work is more than architecture. It
seeks not only to create beautiful objects, but to develop a new
ideology. When asked about his work, he replied, “The favelados
live in an absolutely precarious situation. Any proposal for an
improvement of their living conditions, to give them a small place,
is better than the present situation, and is welcome. But the
most important question is to go further than to introduce an
infrastructure, ways and services. All this is necessary, but
the most important thing is to configure with all these elements
a new ‘aura’ of place.”
What separates Jauregui’s architecture from others is more
than art, it is culture; the goal is not a building, but the promise
of an improved way of life. For many residents of Rio it’s
an overdue, yet desired, change.
|
Topo
- Alegria
dos Casebres
Porquê
os bairros pobres do Rio de repente são considerados chiques e como um
arquiteto celebra sua beleza.
Favela
Chic. Esse é o nome de uma boutique em Paris que parece mais chique que
favela e onde na dúvida se trata de um pneu estourado quando há estouros
em algum lugar. No Brasil a situação é um pouco diferente e certamente
não estouram seis pneus de uma só vez. O morro, dizem os brasileiros,
quando eles fogem de volta para casa, sempre está mais perto do que se
imagina.
O morro, e o morro e a favela no morro, e o traficante da favela, e a salva
de balas, com a qual esse traficante estoura o início da noite em baixo
no velho quarteirão. Na realidade, a favela fica em cima do Rio de Janeiro,
mas nessa cidade sempre tem em cima mais um morro que joga a sua sombra
- e também na noite que clientes culturais da classe media passam olhando
as fotos assustadoras que um fotógrafo da polícia fez durante uma batida
nas favelas.
Tem-se
a impressão de que a favela é o avesso inseparável do Rio e é como se
o Rio fosse a vitrine de todas as comunidades miseráveis deste mundo.
Sempre
Rio. Nunca cidade do Cabo, Cairo ou Calcutá. Nem Caracas que está sendo
quase estrangulada pelos "slums" cuja força recentemente pôde ser observada
no "caso Chavez". Ao lado do catastrófico, somente as favelas do Rio têm
também um mito positivo - sua fertilidade cultural: moda, samba, estrelas
do futebol. Nos morros do Rio revistas como o Stern deixam pousar seus
modelos para fotos. De lá e de nenhum outro lugar os Ronaldinhos tem que
tratar de se driblar para cima nas ligas européias, porque sem essa mágica
de Cinderela eles não seriam para nós os verdadeiros brasileiros do futebol.
Tanta
febre de favela como agora era raro até mesmo no Rio. E é de chamar a
atenção de quantos alemães existem entre os que no momento descobrem a
"cultura da favela", como se no caos dos casebres crescidos naturalmente,
estivesse o reservatório cultural, a bateria de reserva que a Europa cansada
sempre esperou dos EUA - e talvez a última oportunidade de olhar pra si
mesmo, de uma certa maneira na própria infância.
"Cultura
da favela" é o nome de uma grande exposição de arte produzida pelo instituto
Goethe no Rio e que será levada depois também para a Alemanha.
O instituto Bauhaus de Dessau teve a sua primeira intervenção no exterior
na favela Jacarezinho, e é isto que eles vão fazer lá a partir de maio
e mais ou menos parecido com o que os modernos da Bauhaus faziam no seu
inicio: colocar luz, ar e sol em bairros escuros de trabalhadores. O centro
do projeto é uma célula urbana que será implantada como uma ágora simbólica
e que busca incentivar a cultura nessa união com a residência utilitária.
Isso acontece dentro do contexto de um programa de construção de cidades
sem igual que está sendo realizado desde meados dos anos 90 e que até
agora foi moldado principalmente por um homem que trabalha de maneira
diferente que a Bauhaus. O argentino Jorge Mario Jáuregui "interveio urbanísticamente"
até agora em quase vinte favelas, e sempre parece que para ele o mais
importante é que depois a favela tenha a mesma aparência que tinha antes,
ou quase. Que os centros esportivos, creches, construções comunitárias,
praças, estejam colocadas tão naturalmente na confusão de casebres como
se elas tivessem crescido sozinhas ali. E o mais importante que pode ser
construído para os favelados não se vê de qualquer maneira: as canalizações.
Antigamente
na favela do Vidigal que fica na encosta em cima da praia do Leblon, qualquer
um que morasse em baixo era privilegiado por caminhos curtos - mas para
os que moram na favela são necessárias uma duas horas e meia para chegar
até o cume - em compensação sua casa ficava no delta de todos os rios
de esgoto desta montanha. Uma vista como aquela é comparada a uma categoria
de luxo.
E as casas coloridas, otimistas, que Jáuregui constrói nestas áreas, com
uma desculpa humilde por que ele teve que tirar uma casa para um alargamento
de rua, essas casas seriam extremamente caras sob outras circunstancias.
Porque algumas delas estão lá como se Frank O. Gehry as tivesse projetado
para uma pessoa importante na costa da Califórnia. São muitas vezes exatamente
aquelas cores fortes, formas de concreto atrevidas, grades de alumínio
colocadas de maneira dramática, com as quais o deconstrutivismo internacional
satisfaz o tédio da riqueza de uma clientela exaltada. Dessa estética
do fragmento e do processo, Jáuregui tira como que uma seqüência lógica
das formas da favela em si. O fato de que isso se encontra com a atitude
aristocrática de cima de maneira tão surpreendente, nâo deixa de ser importante.
Quando Jàuregui foi premiado no ano passado pela Universidade de Harvard,
os jornais americanos estavam de novo basicamente admirados porque no
Rio os mais pobres vivem nos melhores terrenos.
Posto de orientação
urbanístico e social da favela do Campinho
O
arquiteto Le Corbusier já achou isso admirável, ele que era de qualquer
maneira obcecado por vistas de longe e que fez numa visita ao Rio nos
anos 30, teve reações dignas de Rousseau. Ele celebrou a subida ao morro
como "promenade architectural", a pureza primitiva dos negros lá em cima,
sua vida honesta não falsificada, sua música, sua beleza, a beleza de
quartos pequenos e simples com vista para o mar, ao contrario da Europa
degenerada. Ele estava completamente fora de si. A historia da arquitetura
supõe que nesse momento Le Corbusier se transformou do funcionalista severo
num criador orgânico. E uma outra historia supõe ainda que isso foi por
causa da companheira de viagens na volta, Josephine Baker, que causou
uma impressão tão forte no homem que ele a projetou a partir desse momento
sempre nas encostas do Rio. Talvez ele tivesse ficado feliz em saber que
os casebres de madeira se transformaram em esqueletos de concreto, preenchidos
de tijolos que se parecem com suas casas Dominó.
A
vista de cima é, na experiência européia, uma vista da nobreza. O camponês
mora ao pé da fortaleza. Mas na América Latina é geralmente ao contrario.
Lá, durante os últimos cem anos, um sub-proletariado cercou nas encostas
à classe media e a colocou num medo traumático de que pudessem descer
unidos a qualquer hora e buscar o que lhes falta. Uma vez, no início dos
anos 90, isso realmente aconteceu. Foi em Caracas e a cidade não parecia
bonita depois.
Mas
em nenhum outro lugar os pobres da cidade e os sem-terra que fugiram do
interior colocaram seus casebres de maneira tão central, tão perto dos
centros econômicos e turísticos como no Rio. Quando Jáuregui fugiu 24
anos atrás da ditadura militar Argentina para o Brasil, ainda se usava
de violência contra essas favelas. A construção de cidades modernísticas
que todos os regimes da América Latina usavam, só conhecia soluções de
tabula rasa. Mas não sucessos duradouros.
A
transparência e a contundência do problema, forçaram a mudança de paradigma.
Enquanto estrangeiros romantizavam a favela no estilo Lê Corbusier, os
moradores do Rio simplesmente a ignoravam, o que demonstra uma capacidade
de ignorar quase impossível quando se trata de 1/3 da cidade e uma população
que corresponde à de Munique. Essas pessoas e seu mundo são uma mancha
branca nos planos da cidade do Rio. Elas não têm endereço, portanto não
têm crédito, estão excluídas da vida da metrópole capitalista. Isso elas
o compensam pela criatividade e pelo espírito de comunidade que agora
atrai todas as Philippe Starcks e Asian Dub Foundatitons do mundo. Que
a pobreza econômica é compensada principalmente com o tráfico de drogas
é por sua vez o motivo pelo qual a Prefeitura resolveu legalizar esses
quarteirões surgidos de maneira ilegal, para buscar transformá-los em
parte da cidade normal e, portanto, também torna-los controláveis.
Onde
agora finalmente o bombeiro e a ambulância podem chegar, também podem
chegar os carros da policia. Jáuregui precisava de construtores de caráter
bastante forte por causa dos traficantes, um tanto resistentes ao saneamento.
Por esses motivos qualquer intervenção é combinada em longas reuniões
com os moradores. Ele ouve, às vezes durante meses, se familiariza com
a área e sua historia, analisa "com os pés e com os olhos", dá a volta
em torno das casas como os favelados, sem camisa, fareja como um cão em
todos os cantos e imagina a favela como um "rizoma deleuziano", como um
tecido com vários centros que já sabia o que estava fazendo quando cresceu.
Basicamente, apenas se trata de continuar construindo o crescido naturalmente,
encontrar sua lógica, reforçar sua identidade - e paralelamente expor
uma estética da favela e espelhar as construções novas: uma beleza arriscada,
anárquica, vista de baixo. Ela poderia ser um modelo. Jáuregui já tem
os primeiros pedidos em outros paises. O mais importante numa favela é
a beleza das relações sociais, diz Jáuregui, e quem disser que no meio
de tanta miséria existe algo mais importante que a beleza, é um bárbaro
arrogante.
Levantamentos
em campo na favela dos Macacos
Peter
Richter
Frankfurter
Allgemeine Sonntaszeitung, 21 April 2002, NR. 16, Fevilleton 25.
Tradução:
Antje Hansen
Topo
- GSD
Prize awarded for transforming Rio Slums
- Ken Gewertz
A
massive project that is transforming Rio de Janeiro's squalid shantytowns
into functioning, integrated neighborhoods has won the graduate School
of Design's Veronica Rudge Green Prize in Urban Design.
Argentinean-born
architect Jorge Mario Jáuregui, whose firm has materialized this transformation
- known as the Favela-Bairro Project - received the award in a special
ceremony at Gund Hall on Dec.6. An exhibition of large-scale color photos
of the project by Jason Schmidt, along with maps and drawings, can be
seen in the Gund Hall lobby through Jan. 12.
Rodolfo
Machado, professor in practice of architecture and urban design, and chair
of the jury that selected Jáuregui's project, said that the Rio-based
firm has "demonstrated the power of their urban design to realize social
change and engage marginalized people in the revitalization of their own
communities. This diligent and ethical professional team models a progressive,
more holistic approach to urban design, one that recognizes the value
of social research and reinvestment in neighborhoods, rather than the
outmoded practice of demolition and displacement."
Long
considered a blight on the urban landscape, Rio de Janeiro's shantytowns
differ from those of most other South American cities in that many of
them occupy prime real estate, often within the city itself rather than
on its outskirts.
The
reason is that in the early days of settlement, wealthy inhabitants laid
claim to sites near the harbor, leaving the steep, inaccessible hillsides
to the poor. Many of these communities command spectacular views of the
ocean and the city below and such famous Rio landmarks as the Sugarloaf
and the mountaintop statue of Christ.
Aerial
view favela of Vidigal in context.
Some
of these shantytowns, or favelas, are more than 100 years old. Others
are much newer. In total, they contain about a third of the city's inhabitants,
many of whom work as doormen, and domestic help. Most of the favelas lack
adequate infrastructure or drivable roads, and what electricity they have
has been stolen from city power sources and brought into the favela via
tangles of improvised cable.
In
the past, city authorities have tried to eradicate the favelas, which
have been seen as breeding ground of crime and drug dealing. But these
attempts, based on a traditional "slum clearance" model, have failed to
have any lasting effect.
Rather
than doing away with the favelas, Jáuregui's approach has been to integrate
them into the city fabric by transforming them into real neighborhoods
or bairros. This has meant replacing muddy dirt paths with paved walkways,
creating streets capable of sustaining vehicular traffic, building sewer
systems and cleaning up polluted streams and rivers, and providing communities
with social centers, clinics, daycare centers, and athletic complexes.
These changes have allowed the disenfranchised inhabitants of the favelas
to participate in the life of the city.
The
work was preceded by a long period of research that addressed geotechnical,
economic, and land ownership issues, as well as sociological, psychological,
and aesthetic concerns. The team kept their focus on the specific project
rather than trying to apply universal formulas for urban improvement.
According
to Machado, who visited these sites along with other members of the prize
committee, the Favela-Bairro Project "appears to be soaked in kindness
and respect for the inhabitants; the opposite of misanthropic, it exudes
a warmth that comes from genuine understanding of the real conditions
in the favelas plus a deep, rare communion between the team and the people
with whom it works."
"Favela-Bairro"
has impacted an estimated 450.000 people in 105 shantytowns to date. Now
in its fifth year, the program has been recognized through several international
awards, including the prestigious "Habitat Award" from the United Nations,
and has received funding from numerous international agencies. Program
sponsors include the Inter-American Development Bank and the European
Union.
A
native of Rosario, Argentina,, Jáuregui studied architecture at the National
University at Rosario, where he served as a professor from 1973 through
1976. He went on to earn a graduate degree in architecture and urban planning
at the Federal University in Rio in 1991.
The
Veronica Rudge Green Prize in Urban Design is the foremost award recognizing
achievement in this field. The award was established in 1986 on the occasion
of Harvard University's 350th anniversary, and the 50th anniversary of
Harvard Design School. The prize is awarded biannually to recognize excellence
in urban design with emphasis on projects that contribute to the public
realm of a city and improve the quality of urban life.
To
be considered for the prize, projects must be larger in scope than single
building, and have been constructed within the last 10 years. Nominations
are submitted by a panel of distinguished critics, academics, and practitioners
in the fields of architecture, landscape architecture and urban design.
Prize recipients are presented with a monetary award and certificate.
Articulation Square
Favela-Neighbourhood of Vidigal
Topo
- Freude
den Hütten
Warum Rios Armenviertel plötzlich als chic gelten und wie ein Architekt
ihre Schönheit zelebriert
Kidengarten
in the favela of Rio das Pedras
Favela Chic. So heisst
eine Boutique in einem Pariser Viertel, das eher nach chic aussieht als
nach Favela und wo es im Zweifel an einem geplatzten Reifen liegt, wenn
es irgendwo knallt. Das ist in Brasilien etwas anders. Und schon gar nicht
platzen sechs Reifen auf einmal. Der Morro, sagen die Brasilianer, als
sie zerück ins Haus flüchten, der Morro ist immer näher, als man denkt.
Der
Morro ist der Hügel, ist die Favela auf dem Hügel, ist der Drogenhändler
aus der Favela, ist die Kugelsalve, mit der dieser Drogenhändler den lauen
Abend unten in dem alten Villenviertel zerschiesst. Dabei liegt es eigentlich
hoch über Rio de Janeiro, aber in dieser Stadt liegt überall oben drüber
noch ein Morro und wirft seinen Schatten - also auch auf diesen Abend,
den eine mittelständische Kulturklientel damit verbracht hat, sich die
beklemmenden Bilder anzuschauen, die ein Fotoreporter von den Polizeirazzien
in den Favelas gemacht hat.
Es
scheint, als sei die Favela die untrennbare Kehrseite von Rio -und als
sei Rio die Schauseite aller Elendssiedlungen dieser Welt.
Immer
Rio. Nie Kapstadt, Kairo oder Kalkutta. Nicht einmal Caracas, das fast
erwürgt wird von den Slums, deren Macht soeben im Fall Chavez zu begutachten
war. Neben dem katastrophischen haben einzig die Favelas von Rio auch
einen positiven Mythos - ihre kulturelle Fruchtbarkeit: Mode, Samba, Fussballstars.
An den Hängen von Rio lassen Illustrierte wie der "Stern" für Fotostrecken
ihre Modelle posieren. Von dort und nirgendwo sonst haben sich gefälligst
die Ronaldinhos in die europäischen Ligen hochzudribbeln, denn ohne diesen
Aschenputtelzauber wären sie uns keine richtigen Fussballbrasilianer.
So
viel Favelafieber wie im Moment war allerdings selbst in Rio selten. Und
es sind auffällig viele Deutsche unter denen, die im Moment die "Kultur
der Favela" entdecken, so als liege da im naturwüchsigen Chaos der Hütten
das kulturelle Reservoir, die Ersatzbatterie, die sich das müde Europa
ja immer von Amerika erwartet - und die vielleicht letzte Chance, sich
gewissermassen selbst bei der eigenen Kindheit zusehen zu können.
Kultur
der Favela" heisst jedenfalls eine grosse Kunstausstellung, die das Goetheinstitut
jetzt in Rio ausgerichtet hat und demnächst auch nach Deutschland bringen
will. Umgedreht hat die Bauhausstiftung aus Dessau ihren ersten Auslandsauftrag
in der mörderischen Favela Jacarezinho - und das, was sie dort ab Mai
tun wird, ähnelt ziemlich genau dem, was die Bauhausmoderne in ihren Anfängen
schon umgetrieben hat: Licht, Luft und Sonne in dunkel verwinkelte Arbeiterquartiere
pflügen. Kern des Projekts ist eine "urbane Zelle", die als symbolische
und kulturstiftende Agora in diesen Zweckwohnverband planiert werden soll.
Das geschieht im Rahmen eines beispiellosen Städtebauprogramms, das seit
Mitte der neunziger Jahre läuft und bislang vor allem von einem Mann geprägt
wurde, der etwas anders vorgeht als das Bauhaus. Der Argentinier Jorge
Mario Jàuregui hat inzwischen in fast zwanzig Favelas grundlegend "urbanistich
interveniert", und jedesmal scheint ihm das Wichtigste gewesen zu sein,
dass es hinterher im Grunde so aussieht wie zuvor. Dass die Sportplätze,
Kinderkrippen, Gemeinschaftsbauten, Platzanlagen so selbstverständlich
indem Hüttengewirr liegen, als seien sie von allein dort gewachsen. Und
das wichtigste, was sich für die Favelados Überhaupt nur bauen lässt,
sieht man ohnehin nicht: die Kanalisation.
Früher
war es in der steil über dem Strand von Leblon gelegenen Favela Vidigal
so, dass derjenige, der unten wohnte, durch kurze Wege zwar privilegiert
war - man braucht zu Fuss zweieinhalb Stunden bis ganz nach oben -, dafür
lag sein Haus andererseits im Delta aller Kloakenströme dieses Berges.
So etwas wie die Aussicht ist dagegen eine Luxuskategorie, die von aussen
an die Favela getragen wurde, aber für ihre Karriere entscheidend geworden
ist.
Und
die bunten, optimistischen Häuser, die Jáuregui in diesen Gegenden baut,
und zwar wie zur demütigen Wiedergutmachung, weil er irgendwo bei einer
Strassenverbreiterung eines wegnehmen musste, diese Häuser wären unter
anderen Umständen bestimmt wahnsinnig teuer. Denn manche von ihnen stehen
da, als habe sie ein Frank O. Gehry für einen wohlhabenden Werbemenschen
an die Küste von Kalifornien projektiert. Es sind oft genau jene kräftigen
Farben, kekken Betonschwünge, dramatisch eingesetzten Alugitter, mit denen
der internationale Dekonstruktivismus die Wohlstandslangeweile einer exaltierten
Kundschaft befriedigt. Diese Ästhetik des Fragmentarischen und Prozesshaften
schält Jàuregui allerdings wie eine logische Folge aus den Formen der
Favela selbst. Dass es sich mit der aristokratischen Attitüde von oben
teilweise so verblüffend trifft, ist dabei eine nicht unwesentliche Pointe.
Als Jáuregui für seine Arbeit im vergangenen Jahr mit dem Städtebaupreis
der Harvard-Universität geehrt wurde, waren die amerikanischen Zeitungen
wieder einmal grundsätzlich verwundert, wieso in Rio eigentlich die Allerärmsten
auf den allerbesten Grundstücken wohnen.
Das
fand schon der Architekt Le Corbusier bemerkenswert, der ohnehin von Fernsichten
besessen war und bei einem Aufenthalt in den dreissiger Jahren in geradezu
rousseauistische Schwärmereien ausbrach. Er feierte den Aufstieg auf den
Berg als Promenade architecturale, die primitive Reinheit der Schwarzen
da oben, ihr, im Gegensatz zum degenerierten Europa, ahrliches, unverfälschtes
Leben, ihre Musik, ihre Schönheit, die Schönheit kleiner, karger Zimmer
mit Seeblick...Er war regelrecht ausser sich. Die Baugeschichte vermutet,
dass in diesem Moment aus dem strengen Funktionalisten der eher organisch
formende Le Corbusier wurde. Und eine andere Geschichte vermutet, dass
das daran lag, dass auf der Überfahrt die Mitreisende Josephine Baker
so heftigen Eindruck auf den Mann gemacht hatte, dass er sie nun ständig
an die Hänge von Rio ptojizierte. Vielleicht hätte es ihn gefreut, dass
aus den Holzhütten inzwischen mit Ziegeln aufgefüllte Betonskelette geworden
sind, die seinen Domino-Häusern ähneln.
Der
Blick von oben ist in der abendländischen Erfahrung ein herrschaftlicher
Blick. Der Bauer wohnt am Fuss der Burg. Aber in Lateinamerika ist es
meistens genau umgekehrt. Dort hat im Laufe der letzten hundert Jahre
ein Subproletariat auf den Hängen den Mittelstand umzingelt und in die
traumatische Angst versetzt, jederzeit gesammelt herabzusteingen und zu
holen, was ihm fehlt. Einmal, Anfang der Neunziger, ist das sogar wirklich
geschehen. Das war in Caracas, und die Stadt sah nicht gut aus danach.
Aber nirgends haben die städtischen Armen und die landflüchtigen Landlosen
ihre Hütten so zentral, so dicht an den wirtschaftlichen und touristischen
Zentren aufgeschlagen wie in Rio. Als Jáuregui vor rund zwanzig Jahren
aus der argentinischen Militärdiktatur in die brasilianische floh, da
wurde gegen diese Favelas noch mit Gewalt vorgegangen. Der modernistische
Städtebau, den alle lateinamerikanischen Regimes pflegten, kannte nur
Tabula-rasa-Lösungen - aber keine dauerhaften Erfolge.
Die
Sichtbarkeit, die Präsenz des Problems führte dann zum Paradigmenwechsel.
Während Auswärtige die Favela im Stile Le Corbusiers romantisierten, ignorierten
die Bewohner von Rio sie schlichtweg, was eine Kaum zu bewältigende Verdrängungsleistung
ist bei einem Drittel der Stadtfläche und einer Bevölkerung, die etwa
der von München entspricht. Diese Menschen und ihre Welt sind weisse Flecken
in den Stadtplänen von Rio. Sie haben keine Adressen, folglich Keinen
Kredit, sind ausgeschlossen vom Leben der Kapitalistischen Metropole.
Das kompensieren sie durch die Kreativität und den Gemeinschaftsgeist,
der die Philippe Starcks und Asian Dub Foundations dieser Welt jetzt alle
anlockt. Dass die wirtschaftliche Not vor allem mit Drogenhandel kompensiert
wird, ist hingegen der Grund, weshalb das Rathaus sich entschlossen hat,
diese illegal entstandenen Viertel zu legalisieren, zur normalen Stadt,
also kontrollierbar zu machen.
Wo
jetzt endlich Feuerwehr und Krankenwagen hinkommen, passen aber auch Polizeiautos
durch. Jáuregui brauchte wegen der deshalb etwas sanierungsunwilligen
Drogenhändler schon sehr charakterstarke Bauleiter. Er plant auch wegen
solcher Sachen jede Intervention in langer Abstimmung mit den Anwohnern.
Er hört manchmal monatelang erst mal nur zu, erschliesst sich das Viertel
und seine Geschichte mit den Füssen und den Augen, zieht wie die Favelados
mit freiem Oberkörper um die Häuser, schnüffelt wie ein Hund in allen
Ecken und denkt sich die Favela wie ein Deleuzesches Rhizom, wie ein Gewebe
mit mehreren Zentren, das schon wusste, was es tat, als es wuchs. Es geht
im Grunde nur darum, das naturhaft Gewachsene weiterzubauen, Identitäten
zu verstärken - und nebenbei nicht zuletzt eine Ästhetik der Favela freizulegen
und den Neubauten zu spiegeln: eine riskante, anarchische Schönheit von
unten. Sie könnte ein Modell sein. Jàuregui hat schonerste Aufträge im
Ausland. Das wichtigste in der Favela ist die Schönheit von unten. Sie
könnte ein Modell sein. Jáuregui hat schon erste Aufträge im Ausland.
Das wichtigste in der Favela ist die Schönheit der Beziehungen diese Geseleschaft,
sagt Jáuregui, und wer behauptet, inmitten so viel sozialen Elends gebe
es wichtigeres als die Schönheit, der ist ein arroganter Barbar.
Aerial
view of the urbanization of Fernão Cardin
Peter
Richter
Topo
- Brazilian
Heatwave
- Helio Hara
Aerial view of the
core of the intervation in Campinho
Rio's
legendary favelas aren't a place you'd want to visit - let alone live
in. but Jorge Mario Jáuregui, one of the main archictects behind the award-winning
Favela-Bairro project, is transforming the landscape of Rio's most neglected
slums with an idea so basic, it's revolutionary
Rio's Favelas have been glamorized in film and in song. The infamous neighborhoods,
which first cropped up and arround the city in the 1920s, are the birthplace
of Samba and continue to play a vital role in art and national culture.
Lately, the Favelas have even become fashionable. Brazilian designers
are taking ideas, inspiration, and actual clothes and putting them in
their collections. Way on the other side of the equator, in Paris's 10th
arrondisement, there even stands a popular nightspot called Favela Chic.
But when it comes right down to it, the Favelas, translation: slums ,
are anything but chic. They are the Brazilian hotbed of poverty, crime,
and drug traffic. In a country that prides itself on Oscar Niemeyer's
precision modernism and Roberto Burle Marx's manicured gardens , these
areas were festering uncontrollably, often without electricity or running
water, and trash and raw sewage dumped into the streets. Irronically,
many of the Favelas are situated in areas of prime real estate, and until
recently, the most practical-and widely practiced-soluction was simply
to bulldoze them and kick out the residents. But for the past five years,
the Favela-Bairro project has been working to transform the slums into
functioning neighborhoods. The idea, which is a basic as it is revoluctionary,
is to provide the communities with the means, both practical and aesthetic,
where before there were none. Roads are being built, plumbing and electricity
installed, and innovative public buildings dressed in bright colors sprout
up like totems. Already a model of urban planing and design in Latin America,
Favela-Bairro received the International Architecture Biennale Grand Prize
in São Paulo in 1999, and this past year, the Veronica Rudge Green Prize
in Urban Design from the Harvard Graduate School of Design. Here, Helio
Hara talks to Jorge Mario Jáuregui, one of the main behind the project,
who is now tackling his eighteenth slum.
HELIO HARA Over a million people live in more than six-hundred slums in
Rio in extremely poor condictions. The goal of Favela-Bairro is to upgrade
all the medium- sized slums by 2004. Is there a real revolution going
on?
JORGE MARIO JÁUREGUI In 1995, Rio as a whole was really deteriorated and
the crimerate and segregation were obvious signs of the problem. In Latin
America, the response had always been the same: Bring tap water and sewage
sistems to the slums, plant a tree...Favela-Bairro was the first attempt
to come up with an integrated solution. We build schools, sports centers,
open roads making them acessible to ambulance and garbage collection,
and plant trees where possible. Slums become neighborhoods. What we realized
is that once you interfere in public areas , there's an immediate change
in the way the residents feel. Before they were ashamed to tell others
where they lived. It was a sort of lost, forgotten area. Now, there is
pride. Favela-Bairro also works on land tenure regularization and that
makes people feel more responsible. Obviously we cannot solve the problem
of drugs trafficking, which would require broader action.
HH The drug cartels
are incredibly powerful in Rio's slums: they dictate opening hours, control
the entrance to their territory...have you ever been threatened?
JMJ Drug traffickers have an ambiguous position towards favela-Bairro.
On the one hand, they know that the same roads that now allow ambulances
to reach the slum will eventually open the way for police cars. On the
other hand, they absolutely need the support from the community that want
the changes. In the future, conflict will arise, demanding a combination
of housing and security policy. In the six months we developed the project
in Fernão Cardim, for example, there was an actual war between rival groups.
Power changed hands four times . Once a severed head was left at the bar
where e used to have coffee. I remember the first time I presented the
project: It was summer. It was burnning hot. I was talking to the residents
bare -chested, covered with sweat. Suddenly, someone touched my shoulder
and introduce me to a young, well dressed guy, wearing four-hundred-dollar
Japanese trainers. I was busy, so I didn't give him much attention. Then,
I suddenly recognize that face, I had seen it in newspaper. He was the
new traffic baron there! He openly said he supported Favela-Bairro. But
that was unique.
HH The slums look random and chaotic, there's never been any sort of planning.
Now we are starting to see innovative buildings painted loud colors. Wath
is the role of aesthetics in an environment still deprived of the most
basic of needs?
JMJ Modernism decreed that it was important first to raze and than to
build up again from zero. We have a different approach; we have a lot
of respect for what is already there . We first try to understand how
the slum is organized. We can see they grow from central points like squares
and health care units. Them they try to avoid the expansion of the slum,
relocating families to the center and creating limits. In one case, we
built a sort of short "Chinese Wall" which is now used by residents as
a street. The right to beauty is as important as the right to drainage.
The loud colors are part of the popular heritage - think of Carnival.
Colors had been absent due to poverty, people work on the inside, but
cannot afford to work on the outside. And when a new, planned building
rises in the slum - be it a public toilet or a sewing co-operative - it
immediately becomes a monument. It was conceived by an architect, it indicates
things are changing: People understand they now have the right to what
was only available in the so-called "formal city"[ordinary neighborhoods].
The philosopher Felix Guattari once said that aesthetics are fundamental
and revolutionary!
HH Brazil was heavily influenced by modern architects like Le Corbusier.
There are monumental buildings in the capital, Brasilia, but poorer districts
were most often neglected.
JMJ Modern architecture really tried to make popular houses monumental
like the famous "Unité d'habitation"in Marseille, France, a project by
Le Corbusier. He tried to create a vertical, urban environment, but it
never really proved to be effective. In Brazil, there's a good example
of such monumentalism, "Pedregulho"[a sinous building in a suburb of Rio,
by architect Affonso E.Reidy]. It is really well-integrated with the environment.
But that is an isolated case. Usually, monumentalism equals high density
and low quality of life. Residents feel anonymous. We think less of vertical
towers and more of low buildings and high density.
HH You have quite controversial ideas like openning slums to tourists.
JMJ If you go to Vidigal [a slum in a hill between exclusive areas facing
the Atlantic Ocean], you have a fantastic view of the sea. It is sourronded
by five-star hotels and tourists do want to see how people live, specially
after slums are glamorized in films and songs. Such potential cannot be
ignored. In particular case of Vidigal, we have the project of a funicular
that would take people from the beach straight to the core of the slum.
Young boys would be trained as guides. Residents like to talk and are
open to people. More than once I visited a slum without giving previous
notice and I was very welcomed.
HH In the future, be it utopic or not, how do you foresee slums in Rio?
JMJ I recently visited a smaller city called Volta Redonda. There are
no slums there. What we see are popular, poorer neighborhoods. If the
country's economy improves, services and aesthetic features will also
improve in these areas. I think to give slums urban services and quality
is the most intelligent way to fight social exclusion. Before, the army
would burn shacks and raze slums. Now, it's time for a totally different
approach.
Urbanistic
and social orientation center, in the favela of Campinho
.........
Helio
Hara
VISIONAIRE Magazine, N.Y.
Jul/Aug 2001
Topo
- Entrevista a Cafe de las Ciudades
Es desde todo punto de vista inadmisible que autoridades responsables por la conducción de las políticas públicas del Estado y de la Ciudad de Rio de Janeiro, hagan demostraciones públicas de su desconocimiento de cuestiones básicas relativas a los graves conflictos socio-económicos que la sociedad carioca viene evidenciando desde hace ya mucho tiempo. Pienso que la sola mención de la idea de "amurallar" las favelas es de avergonzar a cualquiera, mucho mas a quien fué uno de los impulsores del programa de urbanización denominado Favela Bairro, que consiste basicamente, justamente en buscar articular las áreas informales (favelas) con las áreas formales de la ciudad. Lo que implica basicamente la idea de construir canales de conexión (no de desconexión, como seria un muro) entre las partes excluidas de los beneficios de la urbanidad y el resto de la ciudad.
Como sabemos, y como vengo haciendo en ya mas de 25 favelas de la ciudad de Rio, esta conectividad se da a través de la extensión de las infraestructuras básicas (cloacas, agua , iluminación pública); reformulación del sistema vial y de accesos; introducción de edificaciones para la generación de trabajo y renta; edificaciones para la prestación de servicios de interés social (guarderias, puesto de salud, centro de atendimiento para la obtención de documentación, centros de capacitación educacional y de mano de obra, etc); plano de tratamiento de la basura; regularización de la propiedad de la tierra y justamente relacionado con esto, la delimitación de lo público y lo privado, que tiene que ver con la cuestión de los "límites" de cada favela.
Los proyectos de urbanización que he realizado hasta ahora, siempre consideran la cuestión de la formalización de los límites una tarea de las mas relevantes del punto de vista de la creación de "pasajes" de lo informal a lo formal. Tratase no solo de identificar los límites existentes, sino, en la medida de lo posible, reducir las áreas ocupadas a través de medidas como la concentración de edificaciones de realojo dentro del área de la propia comunidad. Por este motivo, la definición de marcos de referencia claros, visibles e "inmodificables", es un factor muy importante de la intervención de urbanización. Estos marcos visibles pueden ser en ocasiones, como ya hemos hecho en algunos casos, especies de caminos bajos de piedra, de mas o menos 80 cm de altura y entre 80 a 100cm de ancho que sirven para hacer el recorrido de fiscalización pos-obras. Esto es, en ningun caso deberia tratarse de "ocultar" lo que está por tras de las áreas urbanizadas sino, por el contrario, de permitir la permeabilidad visual y funcional entre la favela y su entorno, a partir del estudio minucioso de la topografia, de las condiciones del suelo, de las formas de acceso al local y de los usos establecidos por la población residente, todo lo cual debe ser sintetizado en el "esquema de lectura de la estructura del lugar". Es a partir de la realización de estos estudios que se está en condiciones de elaborar la "propuesta urbanística", esto es, el esquema organizativo que estructurará toda la intervención a ser realizada, que lo que busca es justamente articular lo que está desarticulado y nunca separar, como seria el caso de la construcción (acto brutal) de muros estilo Israel, Berlin y del gueto polonés.
Es claro que las políticas de urbanización de áreas carentes deben ir acompañadas de políticas de creación de empleo, sobre todo focalizadas en los jóvenes y madres solteras y junto con eso articular programas de seguridad ciudadana que enfoquen el problema de la violencia y el tráfico de drogas desde una perspectiva amplia, no solo como una cuestión de represión sino sobre todo de prevención. Lo que implica tener programas de corto y medio plazo en las áreas de educación (inclusive ambiental), generación de empleo y financiamento habitacional adecuado a la realidad. Cosa que casi nunca sucede, pués la desarticulación entre las diferentes instancias del poder público (federal, provincial y municipal) bien como dentro y entre las propias secretarías municipales, responsables directas por el control del uso del suelo dentro del municipio, constituyen un serio obstáculo.
Aún así, con todas estas restricciones, jamás puede pensarse (si es que eso puede llamarse "pensamiento") en proponer aislar lo que ya está absolutamente aislado; por el contrario, lo que es necesario es encontrar y materializar los puntos de anudamiento, aquello capaz de hacer lazo social y que desde mi punto de vista solo puede pasar por la estructuración en torno de los intereses comunes entre la favela y su entorno, que consiste en la prestación de servivios de la población de la favela a los barrios y juntamente con esto en llevar los atributos de la urbanidad al interior de la favela. Estos centros de generación de trabajo y renta pueden constituir especies de "faroles" urbanos, de "mojones" orientadores, promotores y atractores de convivialidad.
Mas allá de los traficantes hay en las favelas de Rio una rica urdimbre social y organizada, que forma ya parte de la historia de la ciudad. Es preciso respetar esta población específica, con tantos derechos al uso de los beneficios de la vida en ciudad como cualquier otro sector. Y además, contribuyentes fundamentales de su "construcción".
Por eso es absurdo pensar que un pedazo de material (un muro) dará "solución" a la cuestión del tráfico. Aislar el problema no es solución, es preciso encararlo de frente en todas sus vertientes. Cercar las favelas con muros bajo la disculpa de la destrucción de la Floresta de Tijuca es ridículo. No es la Mata Atlántica lo que está en cuestión sino la vida de personas.
Declaraciones "trasnochadas" y apresuradas, sin reflexión, de autoridades culposas o intereseras politicamente (prometerle a la clase media cosas que por otra parte nunca podrán realizar) no son nunca un buen referente. Es verdad que al estado en que han llegado las cosas en Rio no pueden ofrecerse soluciones milagrosas, que de un dia para el otro resolverán los problemas. Durante mucho tiempo no se quiso reconocer la gravedad de la exclusión social que se habia producido y el profundo malestar que se estava incubando del lado de los excluidos. Hoy las soluciones serán caras y a largo plazo pero no pueden dejar de encarase y eso no es una cuestión militar. Es una cuestión de tener las políticas públicas adecuadas a las exigencias del momento, que es muy grave por cierto .
Por lo tanto la cuestión es: derumbar todos los muros (a traves de una ecologia mental, social e ambiental) que impiden el pensamiento y el tratamiento consistente (y desde nuestra disciplina, el approach proyectual) de nuestra sociedad dividida.
Topo
- Intervista
Topo
- Entrevista con Paulo Mendes da Rocha, São Paulo
Reunión en el estudio
de Paulo Mendes da Rocha en San Pablo, para conversar sobre la ciudad contemporánea.
Durante el encuentro, la arquitecta Lilia Sodré Pereira registrba todo,
ambiente, proyectos, maquetas... El local del encuentro está localizado
en la zona central de la ciudad de San Pablo, con un gran ventanal que
mira para el edificio Copan, obra emblemática de la arquitectura y del
urbanismo modernos, proyecto de Oscar Niemeyer de los años 1953-55. A
continuación, una síntesis de lo abordado en esa ocasión.
Jorge
Mario Jáuregui- ¿Cómo concibe hoy usted el trabajo de arquitecto, en una
escala de variaciones entre atelier y estudio de producción de proyectos
detallados para ejecución? ¿Cómo funciona su estudio?
Paulo
Mendes da Rocha- Yo hace algún tiempo que trabajo en un esquema de atelier,
con tres estudios que realizan los detallamientos de mis proyectos, según
los casos, lo que me permite dedicar mas tiempo a la captación de trabajos.
Yo funciono como un atelier y con eso quiero decir que institucionalicé
mi "vagabundaje"; hago mis croquis y se los paso al calculista y a los
detalladores.
En 1969 yo gané el concurso para hacer el Pabellón de Brasil en Osaka,
fui allá con el proyecto y una empresa japonesa detalló todo en 40 días.
Ahí aprendí que uno no tiene que tener estudio. Mas tarde descubrí que
Niemeyer trabajaba así. Si uno funciona con consultores para cálculo estructural,
aire acondicionando, instalaciones eléctricas e hidráulicas, ascensores,
etc, entonces se forma un grupo y se trabaja en conexión.
Hoy el sistema de trabajo hace con que principalmente en el caso de obras
públicas aparezca un constructor y proponga modificaciones, sobre todo
cuando hay necesidad de empleo de técnicas no muy usuales. En el caso
de uso de estructuras metálicas es muy común; se substituye algo que había
sido pensado para ser atornillado por algo que va a ser soldado, por ejemplo.
Entonces se vuelve al cálculo estructural y se reevalúa el detalle; el
proyecto es el mismo, pero eventualmente puede haber modificaciones del
tamaño de las piezas.
Yo hice una obra que tenía una estructura metálica delicada y el propio
calculista dijo, "voy a hacer una consulta con el fabricante", lo que
a veces obliga a adaptar el proyecto a las técnicas viables y estas deben
ser además compatibles con los tiempos establecidos, para no atrasar los
plazos de entrega.
JMJ-
Me acuerdo de un comentario de Alvaro Siza donde se quejaba de que hoy
en día estamos cada vez más atados a un engranaje de producción de la
arquitectura que limita la posibilidad de hacer modificaciones y adaptaciones
en obra (que en el caso de él fueron siempre muy importantes para la materialización
de sus proyectos) en razón de la gran complejidad que fue adquiriendo
el proceso de producción de proyectos al envolver una serie de participantes
complementarios tales como consultores de ingenieria, de instalaciones,
acústica, aire acondicionado, sistemas de cerramientos y vidrios especiales,
ascensores, pisos elevados, sistema de comunicaciones, etc.
PMR-
A veces, en el caso de licitaciones, puede ser necesario inclusive rescindir
un contrato de adjudicación de obra, en función de la no-viabilidad de
ejecución de una técnica constructiva especificada. Y mismo con el uso
del computador hoy en día, no es que no se pueda volver atrás por ejemplo.
Hoy esa complejidad del proceso de viabilización de una obra a que usted
se referia es muy grande (coordinación con los múltiples participantes,
especialistas, consultores, etc) pero aún así a veces es necesario volver
atrás en un detallamiento.
En ese sentido es necesario contar cada vez mas con cierta imprevisión
como parte del proceso proyectual, a pesar de, paradójicamente, contar
con instrumentos de control y previsión cada vez mas sofisticados.
Interior casa Paulo Mendes da Rocha
JMJ-
¿Cual es su concepción con relación a lo que es público, obra pública,
por ejemplo? ¿Cuál es la distinción entre obra pública y obra privada.
¿Cómo funciona eso para usted?
PMR-
Siempre trabajé con obras públicas; hice el estadio Serra Dourada y la
estación de ómnibus ambas en Goiania, el Pabellón de Brasil en Osaka que
ya mencioné, la Pinacoteca de San Pablo y muchas otras. La primer obra
pública la hice cuando tenia 29 años y gané un concurso. A rigor, yo siempre
trabajé con obra pública; la obra particular es solo una excepción. Por
ejemplo, un caso típico, la sede de Forma. Forma es una empresa privada,
pero el local es público, cualquiera puede entrar. Aún en el caso de una
obra promovida por la iniciativa privada, Museo de la Escultura de San
Pablo por ejemplo; no hay diferencia. Lo que yo creo es que no existen
obras que no sean públicas. Por ejemplo, un edificio de departamentos,
al ponerlo a venta se torna un producto público, cualquiera entra y compra.
La Kibon (cadena de heladerías) puede no ser pública; los directores pueden
pelearse entre ellos e ir a la quiebra, pero el producto "helado" es público,
tanto que lleva inscripto "no tire el papel a la calle".
En relación con el tema de lo público y lo privado referidos a la arquitectura,
para un arquitecto, la arquitectura en relación con lo público exige más
de él, a punto de merecer otras consideraciones en el sentido de poder
decir: ¿"espacio? Solo existe espacio público". A rigor, no existe espacio
privado. Espacio privado es solo el de la mente. ¿Pero que sucede por
ejemplo con el sujeto que trabaja con esa mente tan privada, cuando esa
mente elabora un poema? Lo torna público inmediatamente; un poema es una
cosa pública. El lenguaje por ejemplo, es una cosa pública.
JMJ-
Entrando en el tema candente de las favelas, y con relación a su declaración
de que "tal vez la dimensión más monumental del urbanismo en Río de Janeiro
esté en las favelas, porque expresa la voluntad de vivir en la ciudad
cueste lo que cueste", que yo considero una excelente caracterización
de la razón de la existencia de las favelas, no solo en Rio, me gustaría
comentar eso.
PMR-
Si, eso tiene que ver con la idea de que es la existencia de la ciudad
lo que atrae a un individuo; la ciudad existe antes de que usted construya
en ella. Lo urbano es una idea y la favela es eminentemente pública. En
ella todo es de uso colectivo. Y eso que se dice de las drogas en las
favelas... las drogas se producen en otro lugar, fuera; ninguna favela
"produce" drogas.
JMJ-
En relación con eso de que en la favela todo es de uso colectivo,;es verdad,
todo se usa colectivamente. Las lavanderias son comunitárias por ejemplo;
las mujeres lavan ropa en grupos mientras los chicos juegan alrededor,
pero al mismo tiempo no existe la dimensión pública del espacio. En la
favela lo que no es privado (de las paredes de la habitación para adentro)
no es de nadie y por eso se tira la basura en cualquier lugar por ejemplo;
no se tiene el menor cuidado con lo que no es privado. Los espacios "no
son de nadie", tanto los espacios principales cuanto los secundarios,
residuales; no existe la noción de "bien común" y eso es una de los principales
aspectos que los proyectos de urbanización deben instaurar, la noción
de espacio público. En este sentido, que haría usted si tuviera la oportunidad
de intervenir en una favela aquí en San Pablo por ejemplo, donde también
hay tantas?
PMR-
La cuestión es muy compleja, pero mi aproximación seria algo brutal, sobre
todo en el sentido de lo esencial, de lo fundamental, las infraestructuras.
Usted ve, esa idea de que la favela es la expresión de la más monumental
conciencia urbanística en Brasil... principalmente en Río de Janeiro se
puede ver eso.
La especulación inmobiliaria quiere vender lo más caro posible invirtiendo
lo mínimo; o sea, un territorio difícil ella no enfrenta, por eso abandonó
los morros y con eso aquellos lugares de la ciudad quedaron vírgenes,
en lo alto de la ciudad y por eso fueron ocupados por las favelas. Y no
es por acaso que existe toda esa leyenda; que desde la favela se ve el
mar, que los compositores populares crean música en los morros, etc. La
favela tiene, por contradicción, una situación de carácter "encantador"
como lugar de residencia; cuando la canción de Tom Jobim dice: "de la
ventana se ve el mar que es lindo", él en realidad quiere decir, si usted
estuviera como Robinson Crusoe, el mar no seria apreciado como lindo,
porque usted seria un desgraciado desesperado en la playa. Para ver el
mar lindo hay que construir la cuidad y una ventana. Para nosotros el
mar solo tiene gracia desde la ventana. Ninguno de nosotros tiene vocación
para explorador. Porque desde la ventana si uno retorna al interior, ahí
esta el omelet siendo hecho en la cocina, etc. La naturaleza es un horror;
si no se consigue ver el mar desde la ventana, el mar es asustador, porque,
"ahí por las tantas", si viene la tempestad, uno puede cerrar la ventana.
Por lo tanto, es la ciudad que es encantadora, y retornando a su cuestión
en relación con la intervención en las favelas, yo construiría ciudad,
compondría edificaciones con la naturaleza y construiría residencias de
un modo que podemos llamar de Moderno, porque sabemos lo que quiere decir,
o sea, inteligente.
Si las mujeres y los niños en la favela tienen que cargar la lata da agua
en la cabeza, entonces uno tiene que canalizar el agua y construir edificaciones
y colocar canillas. Es eso ahí, no veo alternativa. El edificio vertical
puede ser también una favela; técnicamente, la diferencia es que hay un
ascensor.
Las ciudades son hechas mayoritariamente con casas; una ciudad de 500.000
habitantes por ejemplo, considerando cinco habitantes por casa, tiene
que tener por lo menos 100.000 unidades habitacionales.
La ciudad es hecha con casas, los edificios institucionales son siempre
una minoría y la dimensión que la ciudad va adquiriendo es cada vez más
en el sentido de transformar la casa, porque uno vive en la ciudad considerada
como la casa contemporánea; lo que interesa es la casa en la ciudad, no
la casa de cualquier modo. Es una contradicción estúpida esa cuestión,
no son los edificios institucionales los que hacen la ciudad, ellos surgen
de la existencia de la ciudad. Las lámparas, las luces que se encienden,
son las luces de las casas. De ahí la estupidez de hacer zonas exclusivamente
residenciales. "Yo vivo exclusivamente residencial", es una estupidez
pensar eso como piensan algunos en relación con los "condominios residenciales",
los condominios cerrados, por ejemplo, pues, al contrario, es la mezcla
de funciones lo que enriquece una ciudad.
Interior Pinacoteca de São Paulo
JMJ-
Antes de venir para su estudio pasamos por el edificio del "Conjunto Nacional"
(David Libeskind, 1955), en la Avenida Paulista. Uno de los grandes ejemplos
de "arquitectura urbana" del continente; un complejo de actividades con
la planta baja comercial, un gran atrium con un espacio muy calibrado
y una rampa monumental, a escala de todo el conjunto. El "embasamiento"
comprende 3 niveles conteniendo oficinas, servicios, halth- club, etc,
mas la terraza-jardín de acceso público y después el gran cuerpo conteniendo
las residencias. Un espacio y una ambiencia realmente estimulantes de
la vida agregativa. San Pablo tiene algunos muy buenos ejemplos de "edificio-ciudad",
además del Conjunto Nacional, el edificio Copan, algunos edificios de
Artacho Jurado, etc.
PMR-
El Conjunto Nacional es la única manzana decente de esa área y la idea
inteligente ya está ahí; los accesos a los garajes en la calle secundaria,
la fachada total para las 4 calles, una racionalidad de los accesos a
los ascensores (disminuyendo el gasto ridículo de ascensores en función
de la construcción lote a lote de la especulación inmobiliaria, que es
un despilfarro a pesar de hablar de costos controlados, etc). Si todo
esto hubiera sido pensado, eso daría una imagen bién diferente de la Avenida
Paulista, con todos los núcleos circulatorios iluminados y conectados
por ejemplo. Con la mitad de los ascensores se puede resolver muy bien
todo y reducir enormemente los costos. No se puede aceptar el inmediatismo
en urbanismo.
La habitación urbana es una novedad, históricamente no había nada de eso
antes. El edificio vertical no existía, con una canilla en el piso número
20. Hay que darle expresión a lo que somos hoy y poder disfrutar de la
urbanidad para todos.
JMJ-
Al respecto de eso y tomando el Conjunto Nacional como referencia, cual
seria el nuevo paso que es necesario dar en relación con la creación de
urbanidad, ¿como usted piensa esto?
PMR-
El gran error de las transformaciones en la ciudad es justamente no prever
las transformaciones. Usted toma por ejemplo la matriz anterior, del loteamiento
hecho para las casitas y luego saca las casitas y va poniendo edificios;
es claro que así no se hace ciudad. Pero tampoco cuando se toma un terreno
entero, una manzana por ejemplo, y se pone el edificio en el medio con
un jardincito, se ponen las cercas, etc; el que pasa por la vereda pasa
por donde, ¿que es eso que se genera? Obviamente, no se genera nada. El
edificio se cierra al peatón; es una estupidez. El edificio contemporáneo
en la ciudad ya fué inventado; tiene 5.000 residencias, 4 teatros, 3 cines,
comercios, acceso a los subterráneos, etc. La casa contemporánea no es
más la casita en el jardín.
JMJ- En relación con la arquitectura latinoamericana hay un concepto que
me interesa que es el de "trayectoria" (elaborado por Alain Badiou, filósofo
francés, en el libro editado en portugués "Para uma nova teoria do sujeito")
para hablar del arte contemporáneo. Este concepto de trayectoria, tomado
de la física, le permite considerar que en arte existen trayectorias;
que existe un ejército de productores de objetos de arte, de realizadores
que están ahí produciendo dentro de un determinado campo, por ejemplo,
lo latinoamericano, que van produciendo marcas, con puntos altos que se
destacan funcionando como balizadores constituidos por la producción de
los maestros. En la arquitectura por ejemplo, la producción de Barragán,
Niemeyer, Reidy, Lina Bo Bardi, Testa, etc, va configurando un territorio
donde lo Ibérico, conteniendo de un lado lo que viene del lado español,
produce una síntesis, Barragán por ejemplo, con la articulación que realiza
entre lo hispánico, lo pre-hispánico y lo moderno. Y Brasil hace otra
síntesis, integrando lo portugués y lo africano. ¿Para usted, que es lo
Latinoamericano?
Vista parcial edificio Copan, Niemyer, São Paulo
PMR-
Tu ya lo has dicho, es lo que tu dijiste.
JMJ-
¿Pero usted se siente latinoamericano? Porque usted sabe, vamos a colocar
las cartas sobre la mesa, existe una vieja cuestión, de que los brasileros
no se sienten latinoamericanos, culturalmente y políticamente.
PMR-
¡Ah! Bajo ese aspecto me siento absolutamente latinoamericano! Es mas,
yo estoy condenado a ser Latinoamericano! ¡Cada vez más! El desastre (que
es una imagen horrible) la conciencia, el vislumbre de algo que seria
un desastre, seria Brasil imaginarse suelto de América Latina, independiente
de América Latina, o peor todavía, otra cosa que no América Latina. Los
países son arbitrarios (principalmente en América Latina). Tomando la
geomorfología del continente, nosotros estamos condenados aquí al Atlántico,
o al Pacífico, cuando lo que seria lógico es la conexión directa de los
dos. Nos interesa a todos pensar en nuestro futuro para que no se produzca
un desastre en esa desintegración territorial; unirnos no por la via de
la conquista de otros países. Perú, Bolivia, Chile, Brasil, Argentina,
tenemos que unirnos. La navegación en la región por ejemplo, depende de
la reunión de muchos países. Las moléculas de agua no saben si pertenecen
a un país o al otro. Entonces, considerando la naturaleza como un pasaje
y el hombre como parte de ese pasaje, ni el planeta Tierra está definitivamente
configurado; pierde calor interno, se va a enfriar, es una transformación.
Por lo tanto, la única esperanza que puede alimentar nuestra existencia
es la de que haya un género humano eternamente en el Universo y eso presupone
unir, construir, transformar nuestra posibilidad de existencia real, material,
corpórea. Por eso tenemos que unirnos en América Latina, pero, a pesar
de todo, ya hemos constituido esa trayectoria de que tu hablabas. Nosotros
todos somos mas que latinos, somos americanos, porque lo que hay de interesante
en la historia de la humanidad en cuanto a eso, es usted estar obligado
a enfrentar, en cuanto intelectual, la experiencia individual de quien
está en un territorio virgen. Y nosotros, en cuanto arquitectos, estamos
mas que cualquier otro profesional, delante de la naturaleza; nada había
antes aquí. Por lo tanto, construir una ciudad en este continente implica
hacer una revisión crítica del pasado colonial, de la estupidez de la
destrucción que fué hecha aquí. Nosotros tendríamos que ser idealmente
los constructores del mundo. Eso debe marcar de algún modo la experiencia
peculiar que nosotros tenemos, o mejor, esa experiencia peculiar debería
marcar nuestros emprendimientos con relación a la conciencia sobre el
espacio, sobre el territorio, etc. Nosotros somos eminentemente geográficos,
a no ser que seamos estúpidos. Así, la ocupación de estos territorios
y su expansión de modo moderno es una demanda eminentemente de arquitectura
y hoy en día ella no remite mas a un hecho aislado. Por eso, la cuestión
de la decisión es una cuestión ética y política. Y si los arquitectos
no piensan en la necesidad de la transformación de las relaciones entre
los hombres y con la naturaleza, si la arquitectura no contempla estas
preocupaciones, ella se torna una banalidad imbécil; los arquitectos serán
tan idiotas como los costureros de moda, que acaban teniendo que producir
una mujer para poder usar la estupidez que diseñan, que es muy diferente
de diseñar ropas para mujer.
Nosotros podemos ser tan horribles y miserables cuanto queramos. Ese es
el dilema. Una cuestión interesante para arquitectos es que el arquitecto
es puesto delante de una situación en la cual tiene que hacer algo (un
edificio, etc.). Yo creo que debemos pensar más en lo que no hacer hoy
en día, en como evitar el desastre.
Detalle
Museo de la Escultura
JMJ-
Retomando el tema de la ciudad contemporánea; como piensa que podría ser
esa ciudad?
PMR-
Yo quiero construir la hipótesis de casas para todos, por ejemplo; Eso
implica que debería haber un trazado de vías circulatorias que permita
ir para distintos lugares y también, que permita elegir, que posibilite
una cierta imprevisibilidad de la vida. Uno puede estar yendo a trabajar
y en la mitad del camino decide no ir, porque entrò en un cine, etc. Por
lo tanto, la arquitectura no determina el modo de vivir, ella construye
aquello que imaginamos que sea la mejor manera de vivir. Por eso es bueno
habitar arriba de los bares, de los comercios, de la diversión y el subte
tiene que estar accesible a una distancia razonable, etc.
Consideremos el edificio Copan, por ejemplo; eminentemente un edificio
de habitación popular. Hay 8 tipos de departamentos, duplex y no duplex,
de 40 a 120m² y el habitante puede ir a pié al teatro. Yo ya habité en
el Copan en una cierta época de mi vida y en ese momento yo frecuentaba
la piscina y el bar del Hotel Hilton, que quedan exactamente enfrente.
Desde mi ventana yo tenía vista sobre el área de la piscina y la empleada
me llamaba con un gesto por la ventana, cuando la comida estaba lista
en mi casa. Yo tenia un amigo (que todavía está ahí) que era el jefe de
la "gambuza" (el responsable de todo lo que entra en el hotel para consumo)
y a veces combinaba encuentros con mis amigos en la piscina, éramos atendidos
por él, y después comíamos en casa. Esto es un ejemplo de la riqueza de
posibilidades de la ciudad; ella es mucho más de lo que se imagina. La
ciudad puede ser una maravilla. La arquitectura como forma de conocimiento
implica pensar en todo eso, en no hacer un edificio aislado.
¿Qué puede ser esa casa popular vertical? Evidentemente, lo que nuestro
deseo sea capaz de indicarnos.
Porque la naturaleza sola es un estorbo y la arquitectura como mercadería
es un desastre.
Edificio SESC Pompéia, Lina Bo Bardi, São Paulo
JMJ-
En relación con la cuestión del deseo, en lo relativo a lo arquitectónico-urbanístico,
el psicoanálisis nos enseña que el deseo se articula a la demanda. En
ese sentido, parecería no haber una demanda por calidad arquitectónica
y urbanística hoy en día, como si no se consiguiera formular ese deseo...
PMR-
Creo que eso tiene que ver con la cuestión de la ciudad en que vivimos
y tiene que ver también con lo que queremos que ella venga a ser. Considerado
desde nuestra disciplina, construir ciudad implica construir una nueva
geomorfología, pero sabiendo que el problema de las transformaciones necesarias
no es un problema solamente técnico. Técnicamente nosotros sabemos hacer
las cosas, poseemos los conocimientos necesarios; de lo que se trata es
de otra cosa.
Hoy, el 82% de la población del país es urbana y hay un déficit de 7.000.000
de habitaciones. Por qué no tenemos un Ministerio de la Ciudad por ejemplo?.
La gran desgracia de la ciudad actual es no ofrecer condiciones de acogida
para todos, con acceso a los servicios.
JMJ-
Piensa que hay una falta de debate sobre la cuestión urbana contemporánea
en el país?
PMR-
Hay una falta de ideales sobre la ciudad, una falta de deseo de ciudad.
Verificamos una falta de reivindicación de urbanidad de parte de la sociedad
y, sin lugar a dudas, una parte de la población no desea la ciudad y se
dirige para fuera de ella, se excluye. Es el caso de los condominios cerrados
que configuran guetos de no-urbanidad. Hay también un diseño desastroso
de ciudad, abertura de túneles, construcción de countrys, shoppings, etc,
lo que significa claramente construir una ruta de desastre. Y principalmente,
hay una pérdida de perspectiva de nosotros como sociedad, que va mas allá
de la cuestión de la ciudad y de la arquitectura. América Latina toda
está en una falta de perspectiva contra la cual es necesario reaccionar.
JMJ-
Como le parece que puede buscarse el pasaje del nivel de reflexión urbano
para la solución de problemas puntuales, específicos?
PMR-
Nuestro trabajo tiene que ver con esa cuestión de lo indecible de nuestra
existencia. Uno quiere contribuir para la transformación del mundo, pero
al final de cuentas tiene que conformarse con actuar a través de acciones
ejemplares. Pero también sabemos que en una simple casa podemos pensar
la ciudad entera. Por otro lado, no se puede planear una ciudad de 4 en
4 años (período establecido para la renovación de autoridades políticas)
de acuerdo con la voluntad de cada Intendente. Es necesario tomar posición
sobre lo que uno quiere ser como sociedad.
Topo
Entrevista com Clorindo Testa, Buenos Aires
Torre
do edifício Rocatagliata, projeto de 1920 do arquiteto italiano
Mario Palanti, localizada na esquina de Santa Fé e Callao, sob cuja
cúpula foi realizada a entrevista transcrita a continuação. |
|
Numa
tarde bem fria e chuvosa do mês de Julho, em Buenos Aires, nos reunimos
no 10º andar do edifício da Avenida Callao 1003, numa das torres
mais belas da cidade, um grupo de arquitetos para participar de um diálogo
que eu propus a Clorindo Testa, um dos mais importantes arquitetos Latino-americanos
da atualidade, dono de uma poética pessoal muito forte e com uma aura
muito contemporânea.Tínhamos iniciado uma interlocução em santo Domingo,
República Dominicana, poucos meses atrás, a partir de uma convocação que
a Prefeitura daquela cidade fez a um grupo de arquitetos do Continente,
entre os quais estávamos Clorindo e eu. Dando seqüência ao diálogo iniciado
naquele momento e continuado em Buenos Aires, são sintetizados a seguir
alguns dos tópicos abordados.
Jorge
Mario Jáuregui: Em relação ao tema da ordem na arquitetura e referido
especificamente à sua arquitetura, que tem sempre um traço muito jovem,
um impulso realmente muito fresco (não no sentido popularesco desta expressão,
que significa algo bem diferente...) senão no sentido clássico, isto é,
no sentido de uma grande liberdade, de quase casuístico, mas que, como
sabemos, para se conquistar a liberdade houve que passar antes pela ordem,
para poder encontrar depois uma ordem livre composta. Como o senhor pensa
isto?
Clorindo
Testa: Referente a isso da frescura, muitos anos atrás havia uma revista
que se chamava "La Codorniz", da qual eu fazia parte e uma vez me suspenderam
dela porque tinha feito um comentário tomando como referência a metereologia,
no qual dizia que estávamos governados por um fresco que nos tinha a todos
muito incomodados... Mas em relação com o tema da ordem de uma composição,
eu vou organizando as coisas em função do que me tem sido solicitado e
confrontando-as com o que o lugar me permite e me condiciona (pré-existências
naturais ou construídas, por exemplo) sempre numa tensão entre o que desejo
e o que existe; cria-se como que um "problema produtivo" onde intenção
e pré-existências vão estabelecendo um contraponto. O projeto vai se "encaixando"
entre o existente e passa a formar parte da realidade. Mas tudo é sempre
muito ordenado; por exemplo, no Banco de Londres um dos fatores exigidos,
uma das pautas para que pudesse ser escolhido um projeto, era que à distância
a ser percorrida pelos funcionários até as circulações fosse a menor possível.
No projeto elaborado havia uma ordem bem clara e forte nesse sentido,
que foi um dos fatores determinantes para que ganhássemos o concurso.
O traçado regulador das fachadas corresponde também com uma modulação
precisa dos apoios que constituem os grandes pórticos que nascem da estrutura
do teto. A forma das colunas e o diafragma das fachadas se imbricam constituindo
uma coisa só, o que reforça a ordem e a unidade do conjunto. No caso da
Biblioteca Nacional, os quatro grandes pilares em forma de tubos que suportam
o corpo do edifício alojam as escadas e elevadores, permitindo configurar
um grande espaço coberto aberto como uma espécie de praça pública que
constitui o acesso à Biblioteca. No volume superior se encontram as funções
administrativas, as salas de exposições, o foyer do auditório, a cafetería
e as salas de leitura com vista sobre a paisagem. Os livros que são a
parte pesada do programa, estão no subsolo. Desta forma, a ordem funcional
se manifesta na composição do edifício.
JMJ:
A cor tem uma presença muito forte na sua arquitetura. Para os Maias era
coisa dos Deuses e portanto, algo transcendente. Como funciona isso para
o senhor, como se relaciona com a sua busca plástica?
CT:
Desde o início a gente já sabe como vai ser isso; faz parte do processo
projetual e de alguma maneira tem a ver com algo genético.
CT:
A gente pensa numa cor real. A cor é uma coisa genética, vem com você;
o homem tem a cor. E a arquitetura é um instinto. As crianças desenham
as casas todas iguais; os homens das cavernas também desenhavam todos
de maneira semelhante. Depois, as crianças deixam de desenhar, mas algumas
continuam porque tem uma certa condição que outras não tem. Acredito que
a habilidade com a cor também é genética. Mas o uso da cor vai mudando
dentro de uma determinada cultura e acontece que a partir de um dado momento
algumas questões não interessam mais. A arquitetura moderna na Argentina
não estava interessada na cor, mas agora passa a se interessar.
JMJ:
Em relação às referências para a arquitetura, no sentido do corpo como
modelo de capacidade de adaptação e resposta a soluções diversas (não
como medida de proporção como era para Le Corbusier, por exemplo), como
referência de inteligência, como organismo altamente sensível capaz de
dar respostas a múltiplas solicitações; como você acha que a arquitetura
pode ser pensada nessa via, inclusive introduzindo a questão do tempo?
CT:
Na medida em que mudem as coisas com as quais você pode construir, a arquitetura
poderá ser mais sensível e maleável. Hoje, ainda continuamos construindo
como há mil anos atrás (com pedra, com tijolo) mas em outras áreas (o
desenho de uma Ferrari, por exemplo) as coisas mudaram muito. Na nossa
área não. Uma casa atual não se diferencia muito construtivamente de uma
casa romana. A indústria da construção não está acompanhando ainda, não
está no nível do que as coisas avançam em setores mais dinâmicos, e na
maneira de fazer as coisas em nossa área de atuação. Um edifício continua
durando 70, 80, 100 anos enquanto um carro ou um avião duram de 5 a 10
anos.
JMJ:
Qual é sua visão de cidade hoje... por exemplo, em relação com Buenos
Aires?
CT:
Eu acho que as cidades são como as pessoas, vão crescendo. O mais que
se pode fazer é tratar de arrumá-las um pouco. Ordenar os acessos, as
áreas residenciais, as áreas que não são residências (comércios, serviços,
etc.) porque, além disso, são atividades naturais, ou seja, os negócios
se juntam e se distribuem por vários setores da cidade, mesmo que agora
se tenham mais complicações pela escala, mesmo que as coisas tenham ficado
mais complexas. Mas as pessoas continuam preferindo estar umas ao lado
das outras, estar todas juntas, ter a possibilidade de se encontrarem
em espaços de qualidade. È isso que devemos pensar e favorecer com as
nossas intervenções.
JMJ:
Mesmo que existam algumas vantagens ao se distanciar do centro, como víamos
hoje no processo que se está dando aqui em Buenos Aires, em Vicente Lopez
por exemplo, onde se instalam sedes de empresas na margem da área nova
ganha mediante aterros sobre o rio da Prata, e que alguém me dizia, "os
yuppies estão vindo para cá". (Clorindo: e não só os yuppies); é um movimento
que tem a ver com a qualidade do lugar por estar localizado às margens
do rio e do verde, pela existência dos clubes, porque não tem engarrafamentos
e porque é um lugar atraente. Mas se a tecnologia permite esta dispersão
(poder estar comunicado através das redes informáticas, por exemplo) está
também o social que condiciona...
CT:
Eu acho que os empregados e os funcionários, as pessoas que trabalham,
em geral preferem se encontrar com os outros. Os que trabalham em lojas
são amigos dos que compram nessas mesmas lojas e vivem na mesma área.
Saem à rua e se encontram. E geralmente acontece que os pintores são amigos
dos pintores, os arquitetos dos arquitetos e freqüentam os mesmos lugares
da cidade. Desta forma, devemos evitar o isolamento, evitar a formação
de guetos.
JMJ:
No livro que Manuel Cuadra fez sobre sua obra, da NAi Publishers, editado
por Kristin Feireiss em 2000, "Clorindo Testa Architects" e também na
excelente publicação da revista Summa+Libros, da Donn S.A., editada por
Fernando Diez, "Clorindo Testa", de 1999, são comentadas as relações entre
vida pública, tecido urbano e arquitetura. Para o senhor, de que forma
a arquitetura pode contribuir para facilitar as relações da vida pública,
ou acolher, ou provocar, ou contribuir para fazê-la mais amistosa?
CT:
É claro que a arquitetura condiciona e favorece, no sentido que quando
os projetos estão bem, possibilitam esse tipo de relações. Da mesma maneira
que uma casa pode ser melhor que outra e te dar mais opções e permitir
viver melhor também; o mesmo com os edifícios de escritórios. A arquitetura
em sua configuração urbana deve contribuir para favorecer as relações
sociais, a conexão do diverso; permitir que os diferentes usos mantenham
uma continuidade e possibilitem uma sensação de pertença, de fazer parte
de algo maior.
JMJ:
Em relação com isso também, me ocorre pensar que, por exemplo, em Buenos
Aires ou em qualquer outra cidade, Rosário, Córdoba, etc, existe um valor
da vida pública, do estar fora e da transparência entre o público e o
privado, que é muito próprio da cultura Argentina. Eu me lembro da sensação,
quando em Rosário você vai caminhando pela calçada e vai vendo os bares,
que tem muito "clima", e você vai passando pela calçada, sempre a pé,
porque no centro pode-se caminhar, então você vê, olha quem está, vê se
estão seus amigos, desde fora, desde o público vendo o privado. E isso
me faz pensar em Borges quando contava que no verão as pessoas colocavam
as cadeiras na calçada e saiam para conversar, e que então quem passava
via o corredor e o pátio iluminados, com essa transparência entre o público
e o privado, sem uma ruptura. Isso é o melhor da Argentina neste plano
(e não há crise que o elimine, felizmente). Então, uma das questões que
interessa pensar é como se pode fazer com que parte das cidades seja,
ou volte a ser, ou não perca a sua "caminhabilidade", sua condição de
espaço público integrador na escala do pedestre. Comentando os edifícios
da Universidade que estão construindo em San Luis, o senhor dizia que
é assim como isso funciona, nesse sentido de buscar que as partes se conectem,
que as pessoas caminhem e se encontrem na cidade.
CT:
Nesse lugar (em San Luis) estão construindo agora uma parte da urbanização;
tem cinco edifícios com atelier, depois tem um centro de estudantes com
bares, está o centro de artes, estão as residências, os equipamentos desportivos,
e está também a praça e a galeria que são como uma cruz onde se localiza
a reitoria, com a biblioteca e o auditório, e tem uma coisa como uma incubadora
que vai buscar favorecer o surgimento de empresas. Então o edifício foi
todo pensado como uma espécie de célula urbana onde suas diversas partes
configuram diferentes opções de atividades e de percursos, com seus também
diferentes pontos de atração e convivência. É um edifício que busca contribuir
para fazer cidade.
JMJ:
A rampa sempre foi um importante elemento de expressão tanto em relação
com o objeto arquitetônico quanto com o espaço urbano... É um elemento
que sempre permite fazer um gesto em contraponto e que você utiliza muito
em suas composições; é um conector que permite uma passagem, que leva
do público ao privado e do exterior ao interior. Além disso, é um objeto
manipulável no sentido da expressão, permite um gesto de caráter paisagístico...
CT:
É, deixa tudo como mais... lindo. Agora estamos projetando uma casa para
fora da cidade, com os quartos embaixo e a sala de estar emcima para aproveitar
a vista da paisagem e tem um terraço que permite ver mais longe ainda
essa paisagem. A casa tem rampa porque é para um deficiente físico e neste
caso a rampa se expressa no objeto, é uma parte muito importante dele.
JMJ:
Como o senhor me comentava em Santo Domingo, as viagens e os desenhos
de viagem cumpriram um papel muito importante na sua vida de pintor e
arquiteto. Como foi isso?
CT:
Comecei desenhando paisagens por puro prazer de desenhar e em 1949 quando
estava na Europa com uma bolsa da Universidade para ficar por 3 meses
na Itália, acabei ficando por dois anos percorrendo outros países e sempre
desenhando. Durante esse período um dia conheci Frans van Riel em Roma,
quem se entusiasmou com meus desenhos e me convidou para apresenta-los
numa galeria que ele tinha em Buenos Aires. A exposição foi em 1952 alguns
meses depois do meu regresso da viagem, e eu apresentava paisagens com
pontes, máquinas e estações ferroviárias. No ano seguinte me convidaram
de novo e assim iniciei um trabalho que realizo até hoje, acompanhando
a arquitetura. Desde aquele momento, pintura e arquitetura estão sempre
juntos. Desde pequeno gostava de desenhar; desenhei muitos modelos de
barcos e aviões. Mas os dois anos que passei na Itália, viajando e desenhando,
absorvendo tudo que via, foram fundamentais na minha formação. Eu gosto
de desenhar e é algo que me diverte; eu transmito as minhas idéias através
dos croquis.
JMJ:
O senhor tem alguma obra preferida?
CT:
Sempre nos interessam todas, mas o Banco de Londres, a Biblioteca Nacional
e a Sede do Governo da Pampa, são obras importantes.
Outros: No concurso de Córdoba do ano passado sua solução para o edifício
me pareceu brilhante. Encantou-me o tema de como você re-elaborou a fita,
onde, por programa, exigia-se que fosse um edifício, mas com a fita você
consegue articular com as outras peças... Além disso, era um dos poucos
projetos que tinha uma proposta de relação com o entorno, porque muitos
plantavam um objeto isolado.
CT:
Era um edifício-fita com os núcleos de circulação com escadas e elevadores
bastante próximos um dos outros. Porque no programa pediam que fossem
espaços, locais fáceis de transformar, pois não se conheciam as necessidades
futuras de aumento ou diminuição (às vezes é necessário aumentar, mas
outras vezes pode ser necessário diminuir). Depois havia uma rampa para
público e a Casa de Governo estava em frente, com a planta baixa livre,
e estavam os acessos às circulações verticais; podia-se subir, ver a paisagem
e descer ao terreno natural. O edifício funcionava como passeio de fim
de semana para a população do entorno; rampa para público, planta baixa
livre para circulação dos visitantes, constituindo um passeio público.
JMJ:
Como lhe parece que as relações sociais (familiares ou no comportamento
dos indivíduos na cidade) funcionam para pensar os espaços coletivos e
individuais? E como tema de investigação em relação com a experiência
docente, por exemplo?
CT:
A docência me divertia quando o aluno era bom, senão era muito chato.
Quando o aluno é bom você se diverte confabulando com ele, pondo a imaginação
para trabalhar intensamente, repensando os espaços tanto em relação ao
uso dos locais privados como dos ambientes públicos. A relação com um
bom aluno é um estímulo à criatividade.
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Urbanização de favelas é obra de arte na "documenta" 12
A arte subiu o morro na "documenta" 12. DW-WORLD.DE entrevistou o arquiteto Jorge Mario Jáuregui, convidado pela "documenta" deste ano para expor seu trabalho de urbanização de favelas no Rio de Janeiro.
A obra de Jorge Mario Jáuregui é uma das poucas obras de arquitetura presentes na "documenta" deste ano. Em Kassel, DW-WORLD.DE conversou com o arquiteto sobre seu trabalho de urbanização de favelas no Rio de Janeiro, considerado obra de arte pelos curadores da "documenta" 12.
DW-WORLD: Como você está participando da documenta 12?
Jorge Mario Jáuregui: Eu participo, aqui, com este espaço em que apresento registros do processo de concepção de como se gera uma idéia em termos espaciais, urbanos principalmente, mas também arquitetônicos. Depois participo, juntamente com a Faculdade de Arquitetura de Kassel, de um workshop. Aí vai se definir um grupo de estudantes que participará da construção do meu objeto, que é o terceiro momento da minha participação na "documenta". Vamos construir um objeto em frente à estação central de trens.
O que este objeto tem a ver com seu trabalho nas favelas do Rio?
É um ambiente de 3 por 5 metros, com altura de 2,26m, que eu "li" há alguns anos atrás em uma favela do Rio, o Vidigal, quando um jovem casal me convidou, à sua casa, para me mostrar um vídeo que fizeram sobre a vida na favela. Nesse espaço, eu me senti muito bem. Íamos subindo a escadaria do Vidigal e ele abriu uma porta, a única abertura do ambiente, e disse "É aqui".
Ele me falou que havia construído isso embaixo da casa da tia. Lá havia uma cama, como que japonesa, móveis baixinhos, e, em um cantinho, um módulo de 1x1m onde estava o banheiro. Com a porta de sua vizinha aberta do outro lado, ele falava, sentado na cama, comigo e com a vizinha. Era um espaço contínuo, o público e o privado fluindo facilmente. Eu comecei a pensar na questão de que tamanho não é fundamental, mas como se faz a percepção do espaço de forma racional e corporal, ou seja, como você interage com o espaço.
E a relação do objeto com a documenta?
Comecei a pensar nos temas da documenta: A Migração da Forma, a Relação com a Modernidade e a questão "O que é a 'mera vida'"? – temas que eu interpreto da minha maneira. O espaço que me interessa é o espaço que não tem nem interior nem exterior, mas um contínuo.
A construção tem a ver com a Migração da Forma, e minha relação com a modernidade é através da busca do essencial, que vi naquele loft da favela que tinha tudo o que precisava na sua essência. A terceira questão, "O que é a mera vida?", tem a ver com a vulnerabilidade com a vida na favela. A carência da saúde, da segurança, a vulnerabilidade no espaço físico. É difícil andar pelas escadarias com suas diferentes alturas de degraus.
Como um projeto urbanístico pode restaurar as condições de convivência na favela?
A vida na favela é de alta insegurança, provocada, primeiramente, pela arbitrariedade da polícia, depois, pela do traficante. Tudo isso fruto da ausência e negligência, durante várias décadas, do poder público, que deu no que deu, ou seja, o surgimento de uma autoridade paralela por falta da autoridade real do poder público. Para restaurar as condições de convivência na favela é necessário instaurar a trégua social.
Um projeto urbanístico funciona como um instrumento para a trégua, para depor as armas, através de uma atitude muito mais inteligente de negociar o conflito entre o público e o privado, o comunitário e o individual.
Mas isso não lembra a idéia de Le Corbusier Arquitetura ou Revolução, ou seja, de que a arquitetura poderia modificar o social, hoje muito contestada?
Hoje, somos bem menos pretensiosos em relação à idéia que tinha Le Corbusier. Não se trata mais de Arquitetura ou Revolução, mas da transformação do que existe. A revolução não há mais. O que hoje podemos é recompor as diferenças, criar uma condição de diálogo dentro da hibridação cultural, estética, econômica, ideológica que o campo contemporâneo determina.
Até que ponto os habitantes da favela aceitam sua condição urbanística. Será que eles não prefeririam os padrões do urbanismo oficial – a rua, a praça, a casinha com jardim?
A questão não é somente a favela. A questão é da sociedade contemporânea, tanto para um habitante do Leblon ou Ipanema, como para um da Rocinha ou do Complexo do Alemão. A questão é de que forma se pode sair do modelo mercenário imposto pela especulação imobiliária que controla aquela desgraça urbanística e social que se chama Barra da Tijuca, por exemplo, com um mar de carros dividindo o espaço entre os edifícios.
No diálogo instaurado por um projeto urbano, temos que permitir que os modelos que se trazem carregados na memória de cada sujeito possam ser modificados. Entre a favela e a Barra da Tijuca, temos que ser capazes de construir um espaço que permita uma nova idéia de habitabilidade no planeta, em particular em um local ainda mítico como o Rio de Janeiro, onde ainda se pode viver dentro da natureza, porque sempre o perfil da natureza ainda está por cima daquilo que o homem é capaz de construir.
Parece que o símbolo de sua exposição, aqui na documenta, é Brasília e Rio juntos. É o traço de Lúcio Costa com a paisagem do Rio de Janeiro. O que você quer dizer com isto?
Lúcio falava de massa verde e massa construída, de que tinha-se que buscar a relação entre as duas. A minha leitura disto é que o Rio continua sendo um modelo "ideal", onde ainda é possível construir lugares, onde se possa viver em uma relação inteligente, não predatória, com a natureza.
#s#
Em que favelas você já atuou?
Eu já fiz 25 favelas no Rio de Janeiro. Desde a primeira, Fernão Cardim, em 1994, depois Salgueiro, Vidigal, Rio das Pedras. Hoje, estão muito maltratadas e eu nem vou visitar. O poder público que as construiu não colocou nenhum tostão em sua manutenção. A população da favela não tem meios econômicos para sua manutenção. O dinheiro que têm é para manter sua precária residência e para comer, obviamente. É função do poder público garantir que o bem público seja bem conservado.
Como você vê a função dos novos edifícios que projeta para as favelas?
O projeto urbano busca articular a diferença entre o formal da cidade e o informal da favela. É a função de cada edifício que introduzimos, como os edifícios habitacionais para a relocalização de pessoas retiradas para se abrir ruas. Quando você introduz um novo edifício, cria-se um novo espaço de convivência e uma nova porta de entrada para o morro. Cada edifício introduzido funciona como um monumento, porque tem a função de representar a dimensão pública dentro do privado.
Na favela, há de tudo, menos o público. Tudo é privado e o que não é privado, não é de ninguém. A rua é para jogar o lixo e eu posso avançar e construir como quiser.
Mas a Quadra do Salgueiro não é um espaço público?
Sim, mas é um espaço interiorizado. Na favela, não há o conceito de espaço público. Existem pontos onde está o baile funk, a escola de samba, a escola, etc. que não constituem parte de um território que se pode chamar espaço público. Espaço público é um contínuo que permite várias atividades. Isto está bem claro na planta do Salgueiro, onde o coração da vida comunitária era tomado pelos traficantes, porque o poder público não chegava aqui, nem lixo, nem ambulância, nem a polícia.
Com a extensão da rua, a acessibilidade e a formalização deste espaço com atividades esportivas, culturais, comerciais, isto se transforma e se abre para a chegada da cidade formal, articulando a comunidade com a cidade e tornando este lugar acessível, aberto para outras possibilidades de vida.
Não há resistência contra tais projetos por parte dos traficantes?
A população sempre quer melhorias, urbanização. Os traficantes são uma força paralela que não quer que este lugar seja acessível, mas que também não pode ser opor à comunidade. É uma luta de poder entre os traficantes e a comunidade.
Como você estuda a favela antes de intervir?
O ponto de partida é a leitura da estrutura do que já está lá, reconhecendo os locais onde as pessoas se encontram ou um lugar que tem potencial para se transformar em praça, onde há serviços importantes como o núcleo da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), já que o lixo é um problema gravíssimo a ser resolvido, junto com as novas vias de circulação para veículos, e senão para veículos, pelo menos para pessoas em escadarias agradáveis, bem dimensionadas, incluindo o verde.
Como em uma cidade grega ou italiana, onde não há circulação de carros, mas é muito agradável andar pela escadaria com uma paisagem maravilhosa como a do Rio de Janeiro.
Sua forma de lidar com a favela lembra a intervenção de Brunelleschi, em Florença, ao introduzir a cúpula da catedral em um tecido medieval dando início ao Renascimento?
Sim, é possível estabelecer este paralelo. O que é o monumento? É aquilo que a comunidade define como sua máxima representação, como síntese de sua condição de vida conjunta. É aquilo que tem a presença simbólica e material na mesma coisa, símbolo e matéria juntos. Na favela, qualquer edifício que introduzimos, mesmos pequenas intervenções como banheiros e vestiários comunitários junto a um campo de futebol, tudo se transforma em monumento. Por quê?
Porque é feito pelo poder público, em nome do poder público. Quando ganho um concurso, eu sou a mão que viabiliza a intervenção do público no privado. O gesto do projeto é de absoluta responsabilidade, porque vai introduzir um monumento em um lugar que vai representar o poder público. Mesmo muito pequenininho, um quiosque, um abrigo de ônibus, não é qualquer edifício, isto já é um monumento.
O que você quer dizer quando escreve "Sublinhar a dignidade do público, cenário aberto à vida civil. Fundamento igualitário da democracia. Dignidade representativa, condição coletiva e solene"?
Isto é que é um projeto de intervenção urbana em uma comunidade carente, em uma favela, mas não só nela.
E isto é arte?
Isto tem a ver com arte, sem dúvida. Isto é uma forma de entender a arte e eu estou, realmente, muito feliz de que a favela tenha ganho um lugar numa exposição de arte internacional.
Redator(a):Carlos Albuquerque
© Deutsche Welle
Interview
with Anna Holtzman for Architecture Magazine
QUESTION
ONE: In beginning your design process, what were some of the issues you considered,
relating to the idea of "public space"? (What kind of public space did you
hope to create? what are the important issues that your design addresses?)
R.:
The question of the configuration of public space continuous to be a central
issue, because it is intimately related with the singularity of a city. It
is the collective image of a city.
How
can we define a public space? Before anything, like a place! Because it is
not a simple complement of architecture, it is mainly a challenge. The challenge
to conceive space in harmony with the contemporary life.
An
intervention in the public space can not be considered unless focus it as
a globality, because is not only a question of urban furniture, but of treating
the ground. The public space today is the number one factor of the present
city fabric regeneration, and the field of expression of all the imaginary.
Presently, the comprehension of public space is in complete reformulation.
Well configured in the past, the public space design today demands the interpretation
of a complex, multicultural and extremely diversified society, that must find
its translation.
We
could say, in a psychoanalitic point of view, that the emptiness is the reason
of being an "urbanchitecture" of the public space. Configurating this vacuum,
modeling its edges, is the challenge. We are aware that public space comprehends
a visual side (all that emerge from the ground, and another invisible (the
invisible infrastructures, that adsorbs practically half of the investments).
When
I have to design a public space (the reurbanization of a street, or a new
square, or an olimpic village, or a center of generation of work and income,
or a "school of samba", etc), firsts I go to the place several times and walk
it in all directions. I observe how the people uses the place. I observe primary
its limitations, but above all, look for potentialities. I try to interpret
the "spirit of the place", its "vocation".
Walter
Benjamin said that a place come to us through our eyes and feet.
Superpositions
of uses, ambiences, necessities and ambitions, allow us to use its potentiality
and recompose it in a new order.
The
objective is a projectual structuration of public space, of the articulation
of the designer desire intercepted with the various restrictions that interact
in a concrete circunstance. Economical, cultural and political restrictions
demands us to put into play the total arsenal of ideas and images, utilizing
notions like velocity, fluxes and frequencies of flow.
The
public space has a great responsibility of becoming a fundamental place for
learning the values of civility.
QUESTION TWO: The idea for the "Open" exhibition grew out of the question
of how New York City should address the site of the former World Trade Center
towers. The exhibition brings together public spaces from a variety of countries
with differing socio-economic contexts, in the hope that these projects can
inspire ideas for ways of treating public spaces in New York. Do you think
that there are issues raised in your favela project that could be used in
thinking about public spaces in other parts of the world, and specifically
in New York City?
R.:
There are public spaces that have a "symbolic extention", that go further
than the real constructed space. This is the case of the Manhattan island
as a whole, and, in particular, of the vacuum left by the twin towers.
We
can't stop to think what type of space will be desirable, democratically,
capable of expressing the "spirit of the place" of this negative beginning
of the XXI century.
From
my point of view, considering my continuous experience during the last ten
years, searching for configure spaces in the "devastated land" that are, urbanistically
the Rio's "favelas", the emptiness of the towers challenges us to think. Think
about how to articulate the public and the private, the collective and the
individual, the open and the closed, where popular and "erudite" could be
intercepted in a congregative space of all the "differences".
New
York is a "world-place" and, in this sense, it belong to the humanity and
not only to the new yorkers.
For
this reason it must involve an open and flexible esthetic and spaciality,
in process of permanent reconfiguration. It should look for a balance between
of permanent character components (dimentions and infrastructure) and those
of ephemeral character (design of surfaces, urban furniture, signage, illumination,
etc) capable of permanently regenerate sense.
Basically,
my projectual approach, based the "listening of the demands", of one hand,
in an knowing detailed of the site on the other hand, and in a transdisciplinar
work (cross-articulation of various disciplines), constitute a way totally
applicable to the N.Y. issue, and not only to the W.T.C space, but, to many
others problematic areas of the "big apple".
It
will be a pleasure (and a challenge) to design a proposal to the city that
I devote much love.
QUESTION THREE: Did you attend the exhibition? If so, what did you think
of it?
R.:
Unfortunately, I have not yet been able to go and see the exhibition. I have
only seen it in the internet site of the Van Alen Institute, and I red material
published about the exhibition.
From
what I have seen, it is a serious tentative to confront points of view, experiences
and ideologies of public space in this historical moment.
It
works like a type of transversal section showing options and thoughts around
the world, and in this sense, accomplishes a didactical function, beyond the
specialized ambits. I hope that the exhibition can came to Rio de Janeiro.
Mais de cem anos de favela
Elas estão lá há mais de cem anos. No fim do século XIX, ex-combatentes da Guerra de Canudos foram para o Rio com a promessa de receber moradias do governo federal. Nada ganharam. Uniram-se às centenas de despejados de cortiços recém demolidos no centro da cidade e foram morar em barracos improvisados atrás da Central do Brasil. Era o início do que hoje é o Morro da Providência, a favela mais antiga da cidade. Mas a disseminação das favelas pela paisagem aconteceu mais intensamente a partir da metade do século XX, como um reflexo do crescimento desordenado das cidades brasileiras, e não apenas do Rio de Janeiro.
“A favela é o resultado de anos e anos de ausência de política de habitação social, e a sociedade tem de arcar com isso”, avalia Gerônimo Leitão, diretor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. “Evidentemente”, prossegue, “nenhum de nós é favorável à ocupação de encostas. Mas a grande questão de hoje é o que fazer para integrar a favela à cidade. Um em cada cinco cariocas mora em favelas, e não podem mais ser ignorados”.
Nos últimos 40 anos, a relação do poder público com a favela mudou. Na década de 1960, o governador do Rio, Carlos Lacerda, com apoio dos militares que tomaram o poder, promoveu traumáticas remoções de favelados da zona Sul carioca em direção à zona Oeste da cidade. Nascia a Cidade de Deus, cuja história de abandono e violência ganhou o cinema e o mundo com o sucesso do filme homônimo, dirigido por Fernando Meirelles.
“Essa política se esgota no fim da década de 1970, quando o Banco Nacional de Habitação muda de estratégia e tira as palafitas da Maré, mas mantém os moradores no local”, diz Leitão.
No início dos anos 1980, o governador Leonel Brizola assume o compromisso de levar água e esgoto para as favelas. Um projeto emblemático tem início no morro do Cantagalo, mas, como infelizmente se tornaria a praxe, não há continuidade nas obras. Ao mesmo tempo, o fortalecimento das quadrilhas de traficantes de drogas, encastelados nos morros, aumentam rapidamente o abismo entre a favela e o “asfalto”.
No início dos anos 90 é aprovada uma lei que proíbe novas remoções em favelas, a não ser caso de risco de desabamento. A mobilização contra as remoções vem acompanhada da elaboração do Plano Diretor da Cidade, aprovado em 1992. Estava criada a base para o Favela-Bairro, que a partir de 1994, com 300 milhões de dólares do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), iniciaria intervenções urbanísticas em 18 comunidades. Sem, no entanto, solucionar a maior parte dos problemas locais.
A lição dos erros do passado
“Obras do Favela-Bairro, feitas há 10 anos, estão em situação precária, há uma ausência total de manutenção e de atuação do poder público”, diz Leitão, e menciona outro problema: “Se não há legislação nem fiscalização do uso do solo, as favelas urbanizadas começam a sofrer com verticalizações e isso compromete toda a infra-estrutura implantada”. Para se ter uma idéia, na Rocinha hoje há prédios de até nove andares, e a média da maioria das edificações é de três pavimentos.
O sociólogo e pesquisador da PUC-RJ, Marcelo Baumann Burgos, considera o Favela-Bairro um projeto “exitoso, mas com problemas”. E explica: “Algumas áreas de intervenção se tornaram cidadelas do tráfico, e isso desmoraliza os resultados. De um lado, a prefeitura levava benefícios, creches, postos de saúde. De outro, o governo estadual, responsável pela segurança pública, mantinha-se indiferente”.
Burgos vê com bons olhos o formato do PAC para as favelas. Ele destaca como novidades bem-vindas a volta da questão “favela” à esfera estadual e o ineditismo, no período democrático, de ser tratada também pelo governo federal. Apesar disso, vê problemas e desperdício de oportunidade na questão da segurança: “O governo estadual poderia articular a política habitacional com a da segurança pública. Hoje, a fronteira entre a favela e a cidade está na forma de ação dos agentes de segurança. Pelo que fez nesse primeiro ano de governo, Sérgio Cabral mostrou que não vai mudar essa política”.
Entre os três locais que receberão a maior parte dos investimentos do PAC na cidade, Rocinha, complexo de Maguinhos e complexo do Alemão, este último tem marcas recentes da violência institucional. Um mês antes da realização dos VX Jogos Pan-Americanos, em 27 de junho passado, uma mega operação policial no Alemão matou 19 pessoas. Peritos da União identificaram sinais claros de execução sumária em dois casos, e criticaram a impossibilidade de reconstituir as mortes, por adulteração dos locais e dos corpos. A operação teve repercussão internacional e gerou troca de acusações entre o governo federal e o estadual.
“Tem de haver uma forma mais inteligente e mais eficaz de lidar com a segurança pública. A retórica da guerra só piora tudo. O que não pode é tornar vítima toda a população das favelas. A operação no Alemão valeu para quê?”, questiona Burgos.
Intercâmbio com a Colômbia
A intervenção do PAC no complexo do Alemão (formado por 13 favelas) custará 495 milhões de reais e prevê ações como saneamento, contenção de encostas, calçamento, iluminação pública, e construções de quadra poliesportiva, coleta de lixo, escola de ensino médio, centro de saúde e biblioteca.
Mas a estrela do projeto é um teleférico. Tão surreal aos olhos do carioca quanto o elevador Cantagalo-Ipanema, o teleférico do Alemão prevê a construção de seis estações ligando a linha férrea (estação de Bonsucesso) até o alto de cinco morros, num trajeto de 3,1 km. Estima-se que o teleférico, que terá 152 cabines com capacidade para dez pessoas cada, transporte 30 mil passageiros por dia. O percurso, do pé ao alto do morro, hoje feito em uma hora e meia, deverá levar apenas 19 minutos.
O teleférico do Alemão é totalmente inspirado em um similar construído em Medellín, na Colômbia. A equipe técnica do governo do Rio viajou ao local para conhecer o Metrocable e receber assessoria de arquitetos colombianos. O Metrocable é, como o teleférico do Alemão pretende ser, a obra-vitrine de um denso projeto de assistência social e urbanização de comunidades carentes colombianas.
“O projeto que revolucionou as favelas da Colômbia foi inspirado no Favela-Bairro. Agora, nós fomos até lá aprender com eles e reaplicar o que deu certo no Rio de Janeiro”, explica Jorge Mario Jauregui, idealizador do Favela-Bairro e responsável pelos projetos do PAC para os complexos do Alemão e de Manguinhos. “O teleférico do Alemão foi projetado melhorando problemas que aconteceram em Medellin, como no estacionamento das cabines ou no ângulo do traçado das linhas”, diz o arquiteto.
Para construir as estações do teleférico será preciso demolir as casas que ocupam o alto dos morros, densamente povoados. De acordo com dados do governo estadual, 3.482 moradias virão abaixo, enquanto 2.620 novas serão construídas dentro do Alemão. Quem for removido também poderá optar por receber indenização em dinheiro ou instalar-se em casas já existentes na favela. “No início, os moradores ficaram aflitos ao saber das remoções. Mas, quando viram as opções de relocação, alguns até pediam para ser removidos”, garante Jauregui.
O arquiteto admite que o Favela-Bairro não alcançou os objetivos “sem dúvida, pela falta de manutenção do investimento público”. Argentino radicado no Rio de Janeiro há quase duas décadas, Jauregui sabe tratar-se de uma cidade partida, e que este é o maior desafio dos projetos para as favelas. “Não existe integração, o que é preciso encontrar são pontos de articulação nesta sociedade dividida em que vivemos”, filosofa, em busca de respostas para o impasse da violência urbana. “Um bom caminho é integrar o problema da segurança pública com o cidadão, em vez de uma política apenas repressiva. O PAC é um tremendo argumento para uma trégua social”, conclui, e destaca: “Talvez o melhor”.
A estratégia do confronto
Infelizmente, o governo do estado mostrou não ter planos de integrar uma nova política de segurança pública às intervenções do PAC nas favelas. Pelo contrário, a estratégia será a da ocupação militar. A Secretaria de Segurança Pública anunciou que um efetivo de 3 mil homens será deslocado ao complexo do Alemão nos próximos para “garantir a execução das obras”. Blindados e coletes à prova de balas estarão à disposição dos policiais. O uso de soldados do exército na operação chegou a ser cogitado, mas a idéia foi descartada.
“Intervenção em favela é trabalho de bordadeira, tem que articular, mobilizar e envolver a comunidade, senão, não dá certo”, adverte Ricardo de Gouveia Corrêa, coordenador executivo da Fundação Bento Rubião, que trabalha há anos no mapeamento para a regularização fundiária da favela da Rocinha. “Fico preocupado com as obras mirabolantes do PAC porque, geralmente, os poderes públicos chegam de pára-quedas nas favelas. Este é um erro constante”, diz Corrêa.
Durante a elaboração do projeto no Alemão, de acordo com Jauregui, assembléias gerais e parciais foram realizadas para apresentar o trabalho à comunidade. Além disso, entrevistas com amostragens da população ajudaram a estabelecer as diretrizes do projeto, diz o arquiteto.
Tanto no Alemão como em Manguinhos, a discussão sobre o espaço urbano não chega a ser uma novidade. Os dois complexos tiveram seus Planos Diretores encomendados pela prefeitura carioca em 2004 e 2005, respectivamente. “Esses estudos foram reavaliados e adaptados para a realidade atual, em uma perspectiva dos próximos 20 anos”, explica Jauregui.
Logo após o anúncio das obras do PAC no Alemão foi criado o Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia para, de acordo com o que o coordenador Alan Brum Pinheiro disse ao Ibase, “aprofundar a participação social nas intervenções públicas na região”. Será um desafio e tanto levando-se em conta a complexa estrutura sociológica de um complexo de favelas, além da força política do tráfico de drogas.
Em tempo: o complexo do Alemão é dominado pela facção Comando Vermelho.
“Se tem algo que pode resistir ao mau uso do dinheiro público é a comunidade inteira estar informada, comprometida e apta a cobrar”, resume Luiz Carlos Toledo, o arquiteto responsável pelo projeto do PAC para a Rocinha. A conferir.
Metropolis-Favelas: work in progress
di Ilaria Bacciocchi
La ricerca di Ilaria Bacciocchi indaga il fenomeno delle favelas, offrendo due interviste esemplari e significative. La prima all'architetto Jauregui, la seconda a José Martins de Oliveira. Tutte le fotografie sono dell'autrice. Le ultime tre immagini si riferiscono al progetto di Jauregui che, "lavorando allo studio e alla progettazione del tessuto urbano di Rio ha formulato un’idea progettuale personale sulle favelas e sulla metropoli, partendo dal conflitto esistente tra città formale e informale, che si concretizzano in una ricerca quotidiana e costante rivolta alla progettazione nelle aree favelizzate". (n.d.r.)
Multicittà, geourbanità, iperterritori sono le strutture urbane contemporanee che focalizzano l’attenzione e le preoccupazioni di architetti, urbanisti, geologi e sociologi.
A questo proposito la decima edizione della Biennale Internazionale di Architettura di Venezia “Città. Architettura e Società” celebra la città nell’anno in cui è diventata urbana metà della popolazione mondiale, il 2006.
Il tema centrale della Mostra è l’analisi, la ricerca e la critica della città e si concentra sui sistemi urbani e territoriali e le modalità con cui configureremo le nostre metropoli e il territorio che determineranno il destino di miliardi di persone.
Le tematiche affrontate, relative alla società e la città nel suo complesso, dimostrano come l’architettura e l’urbanistica siano oggi strumenti di indagine per la progettazione del futuro della “città-mondo”, ossia della meta-città di cui tanto si parla: metropoli di tre o quattro milioni di abitanti che oltrepassano la concezione tradizionale di città. Non più agglomerati ma territori.
Raul Juste Lores, giornalista per la Folha de São Paulo, a proposito del caso brasiliano di San Paolo proposto alla Mostra scrive: “San Paolo è una sintesi dei conflitti tra il nord e il sud del mondo. I migliori sistemi sociali di welfare sono presenti in paesi con bassi tassi di natalità e una popolazione che sta invecchiando, mentre in paesi con un elevato numero di giovani, non vi sono sistemi sociali di welfare.
I paesi più ricchi costruiscono barriere, materiali o virtuali, per escludere i poveri e tuttavia, poiché hanno bisogno di una manodopera a basso costo, creano sistemi che perpetuano l’illegalità e la segregazione economica.”
E’ all’interno di questi territori-città in espansione che si colloca la realtà di Rio de Janeiro. Sette milioni di abitanti, dieci nella regione metropolitana, Rio come S. Paulo rappresenta un esempio problematico dell’evoluzione della metropoli del terzo millennio.
Il fenomeno delle favelas coinvolge oggi un miliardo di persone nel mondo, e tra vent’anni ne coinvolgerà due.
Con oltre duecentocinquanta favelas sparse su tutto il territorio, Rio è l'emblema non solo dei paradossi di cui parla Lores ma della segregazione spaziale e sociale interna alla città stessa.
Si è concluso nel febbraio 2006 il concorso promosso dal programma di risanamento delle favelas carioca Favela Bairro per la Rocinha, la favela più grande del Brasile e modello per le oltre seicento favelas di Rio de Janeiro.
Hanno partecipato al concorso per la Rocinha equipes di architetti, urbanisti, sociologi, tutti con l’intento di promuovere progetti di integrazione e che puntino sulla qualità delle infrastrutture e dei servizi.
A questo proposito sembra che l’approccio progettuale nei confronti degli insediamenti informali sia maturato. Non più cellule urbane da eliminare o escludere con barriere architettoniche e sociali ma vere e proprie porzioni di città in continua crescita da integrare al tessuto urbano formale. Questo è l’approccio che ha caratterizzato gli interventi a partire dagli anni 80 e nel corso dei ’90.
Oggi la nuova tendenza dei progetti presentati è quella di trattare la favela nel suo insieme con progetti integrati, con interventi non più puntuali ma che abbraccino l’intera area favelizzata, dotandola di infrastrutture e servizi oltre che basici, di qualità.
Rocinha occupa una delle zone più prestigiose della città, a un passo da Copacabana e Ipanema ed è oggi in continua espansione.
Secondo i dati dell’ IBGE la popolazione residente nella favela nel 1996 era di 45.585 abitanti, nel 2000 si parla di circa 350.000 stimati e 120.000 ufficialmente registrati, rappresenta una vera e propria sfida progettuale e logistica.
In questo momento storico di profondo cambiamento, testimoniato dal fermento sia architettonico che urbanistico, la progettazione della città deve essere affrontata con la consapevolezza che ci si trova in un’era di trasformazione urbana globale.
La realtà urbana oscilla tra coesione ed esclusione, il territorio inteso come espressione e costruzione della società deve essere accompagnato da un’analisi dell’habitat secondo criteri e metodologie urbanistiche capaci di coniugare la dimensione locale a quella globale della città.
Le interviste propongono due differenti interpretazioni dello stesso problema, la favela. Due punti di vista, quello di un architetto, Jorge Mario Jauregui, e di un militante che per i diritti e lo sviluppo della Rocinha, Josè Martins de Oliveira.
Intervista:
“RIO DE JANEIRO, A CIDADE PARTIDA”
“RIO DE JANEIRO, LA CITTA’ DIVISA”
arch. JORGE MARIO JAUREGUI
BELVEDERE DONA MARTA
RIO DE JANEIRO, FEBBRAIO 2006
L’ architetto Jorge Mario Jauregui, di origini argentine, vive e lavora attualmente a Rio de Janeiro. Lavorando allo studio e alla progettazione del tessuto urbano di Rio ha formulato un’idea progettuale personale sulle favelas e sulla metropoli, partendo dal conflitto esistente tra città formale e informale, che si concretizzano in una ricerca quotidiana e costante rivolta alla progettazione nelle aree favelizzate.
Ilaria Bacciocchi:
Rio de Janeiro è una metropoli caratterizzata da un forte contrasto a livello urbanistico, architettonico e sociale tra formalità e informalità. In che maniera questo influisce sulla modalità di progettare la città e i suoi spazi?
Jorge Mario Jauregui:
Progettare oggi gli spazi informali a Rio de Janeiro, come nelle altre grandi metropoli che presentano problematiche analoghe, comporta uno sforzo di comprensione del territorio che va oltre la progettazione formale. L’analisi pre-progettuale è la fase principale: capire il luogo e le esigenze che portano al costituirsi della favela significa comprenderne non solo le problematiche non solo interne ma dell’intera metropoli.
La modalità di analisi del contesto e’ di fondamentale importanza per questo tipo di progettazione in quanto necessita di strumenti molteplici e complessi, mi riferisco sia all’esperienza diretta che all’interdisciplinarietà e alla collaborazione con più agenti.
In questo caso si può parlare di un metodo decostruttivo di analisi: scomporre il problema dell’informalità nelle sue parti costitutive, riconoscerle e stabilire tra esse delle relazioni funzionali, logistiche e sociali per ricreare un tessuto urbano omogeneo.
La riarticolazione della favela con la città formale comporta un approccio urbanistico non deterministico, evidenziando carenze, capacità, strategie innovatrici, incalzando logiche e interpretazioni aperte.
L’obiettivo che ci si prefigge è quello di promuovere il costituirsi di un habitat basato su nuove attitudini sociali, culturali e politiche, come dimostra il lavoro di questi ultimi anni svolto da Favela Bairro.
Ci troviamo dinnanzi a iperterritori dove le città sono caratterizzate da geometrie frattali, non si parla più di centro o periferia, come non si dovrebbe considerare la favela come un processo urbano parallelo alla metropoli, ma ad essa direttamente connesso.
Oggi osservando il territorio di Rio de Janeiro si legge chiaramente una differenza nell’uso del suolo, che si oggettivizza nel rapporto definito tra “morro” e “asfalto”, ossia la dicotomia favela-città.
Le argomentazioni e i dibattiti sulla segregazione socio-spaziale all’interno della città di Rio e la mancanza della dimensione pubblica nella vita comunitaria non è molto differente nel caso dei condomini chiusi della città formale, veri e propri ghetti contemporanei.
Non importa che si tratti di segregazione indotta come nel caso delle favelas o di auto segregazione come nel caso dei condomini di lusso, come Barra da Tijuca, uno dei quartieri più prestigiosi della città, condannato dalla sua stessa ricchezza a bunker urbano.
Nel caso della favela la mancanza di spazi pubblici deriva fondamentalmente dalla mancanza di una progettualità formale che controlli le dinamiche di espansione urbana. Auto organizzazione sociale e autoproduzione dello spazio si sono imposte come sistema alternativo e necessario di sopravvivenza, agendo come una moltitudine di sottoinsiemi capaci di manipolare lo spazio fisico a proprio “vantaggio”.
Nel caso dei condomini chiusi della città formale invece, la mancanza di spazi pubblici è la conseguenza dell’autoesclusione e dell’autosegregazione; alla radice del problema vi è la mancanza di urbanità, di vita pubblica e di integrazione tra le persone che a sua volta è determinata dalla paura dell’invasione o della sola vicinanza degli insediamenti informali, che nel territorio di Rio si trovano sia nel centro urbano che nelle periferie, senza distinzione.
Generalmente definirla dicotomia può non essere esaustivo in quanto queste due realtà vivono a stretto contatto e per diversi fattori sono dipendenti una dall’altra: la favela è forza lavoro, manodopera necessaria ai quartieri in stile americano, il condominio e tutto ciò che lo circonda, come gli shopping centers, è per la favela il vero e proprio luogo di lavoro.
Entrambe barriere invisibili che devono essere combattute attraverso piani di ristrutturazione socio-spaziali.
Ilaria Bacciocchi:
Quali sono le priorità e le caratteristiche che connotano i suoi progetti all’interno delle favelas carioca nell’arco di questi anni?
Jorge Mario Jauregui:
Trovare punti di articolazione è oggi un problema a Rio come in altre numerose metropoli.
La città contemporanea è divisa, frammentata e disarticolata. La questione dell’informalità ci obbliga a cercare un metodo, dare una forma al problema, trovare una soluzione.
Esistono tre fasi fondamentali da affrontare durante la riprogettazione di una favela:
-analizzare la struttura del luogo, ovvero capire come funzionano gli aspetti sociali e topografici, di come una parte della società si appropria di un territorio.
-ascoltare la domanda, il che significa ascoltare quello che gli abitanti di un luogo hanno da dirci rispetto alle condizioni nelle quali vivono e quello che pensano di avere bisogno.
Dal mio punto di vista la differenza fondamentale sta nell’ approach: personalmente affronto ciascuna sfida progettuale “ascoltando la richiesta”, tra le determinanti del progetto c’è sempre qualche cosa in gioco che, come dicono gli psicanalisti, ha a che fare ogni volta con nuovi desideri.
-ultima, non per importanza, la partecipazione. Fondamentale al successo del progetto è il coinvolgimento della popolazione locale attraverso i suoi rappresentanti, sia in fase di realizzazione che a opera ultimata al fine di preservare gli obbiettivi raggiunti. Inizialmente gli abitanti assumono il ruolo di interlocutori per la definizione dei programmi, successivamente fanno parte integrante del programma di risanamento urbano e sociale avviato in ciascuna nuova comunità urbanizzata una volta terminati i lavori.
Penso che uno degli aspetti sostanziali del mio lavoro sia l’apertura e la ricettività costante verso l’ intercambio di culture il che permette l’intergrazione di dinamiche sia consolidate che emergenti.
Nel mio studio lavorano persone di origine e formazione differenti, offrendo un importante stimolo intellettuale ed esperienze eterogenee.
Le equipes di lavoro per programmi come Favela Bairro sono formate da architetti, urbanisti, ingegneri civili, geografi, sociologi e assistenti sociali e artisti che mantenengono un dialogo aperto.
Ilaria Bacciocchi:
Barriere invisibili. Nelle favelas, non solo nella Rocinha, ci sono spazi off limits, vale a dire che molti luoghi, specialmente quelli controllati dai narcotrafficanti, sono inaccessibili. Vere e proprie barriere determinano la gestione e l’accessibilità degli spazi interni alla favela rendendola una cellula separata dal resto del tessuto urbano, come dimostra la cronaca attuale. Difficile uscirne, ma difficile entravi! Progettualmente, come ha risolto questa dicotomia e come interpreta l’assoluta mancanza di spazi pubblici che deriva da questa situazione di “controllo” forzato in una favela che nel 2000 contava 200.000 abitanti?
Jorge Mario Jauregui:
Il problema del narcotraffico e della delinquenza sicuramente rappresenta uno dei maggiori ostacoli all’intervento nella favela. La Rocinha in particolare è stata teatro negli ultimi anni di molti scontri.
In realtà il tasso di popolazione coinvolta in affari di droga varia trail 5% e l’8%. La maggior parte della gente della favela lavora.
La difficoltà di progettare all’interno della favela è fondamentalmente riuscire ad aprirla alla città. Da un lato l’intrico di vie che caratterizzano la Rocinha sono un impedimento, non circolano vetture tantomeno mezzi pubblici, dall’altro è una protezione che sicuramente aiuta i narcotrafficanti a nascondersi e controllare il loro labirinto.
Questa è una delle tante cause della mancanza di spazi pubblici. In realtà il processo dell’autocostruzione non prevede spazi che non siano direttamente necessari a esigenze primarie e personali. Non c’è un progetto perché oltre a non avere soldi nella favela ciò che non è “di nessuno” viene abbandonato o utilizzato a fini personali. E’ esattamente ciò che accade negli spazi non edificati. Non diventano spazi pubblici, dove la gente si ritrova, ma discariche urbane in attese di essere occupate da costruzioni abusive. Terre di nessuno.
E’ per questo che il problema degli insediamenti non si potrà mai risolvere senza l’intervento di agenti esterni, non solo con progetti puntuali ma integrati e che abbraccino l’intera favela.
Vengono studiate ed esaminate megalopoli come Rio de Janeiro, Sao Paolo, Città del Messico e molte altre. L’articolazione della città frammentata, tanto fisicamente quanto socialmente, si è trasformata nella più grande sfida dell’ America Latina.
Ilaria Bacciocchi:
Favela Bairro. attivo a Rio dal 1993, è sicuramente il programma di risanamento delle favelas che negli ultimi anni si è fatto conoscere sia a livello nazionale che internazionale. Lei ha già collaborato con questo programma in più occasioni. Cosa ne pensa del concorso bandito per la Rocinha conclusosi nel febbraio 2006 e quali sono le nuove ideologie che hanno caratterizzato il suo progetto per questa favela?
Jorge Mario Jauregui:
Il nostro obiettivo è stato quello di identificare il miglior percorso per valorizzare la Rocinha all’interno del contesto di Rio de Janeiro progettando nuove connessioni (materiali e immateriali) capaci di generare dinamiche tali da creare un progetto di sviluppo urbano innovatore.
La Rocinha è una favela sia spazialmente che socialmente molto complessa che fa parte a tutti gli effetti della città formale nonostante sia da un punto di vista urbanistico e architettonico una favela.
Io e la mia equipe di lavoro abbiamo studiato un master plan che, individuando le aree strategiche e connettendole tra loro secondo una gerarchia, crea una rete articolata ed efficiente con l’obiettivo di riformulare l’assetto del sistema urbano infrastrutturale.
Si passa dalla scala territoriale a quella locale con una serie di interventi mirati.
Il Piano di Sviluppo Socio-Spaziale prevede un territorio organizzato e riequilibrato al suo interno, aumentando le connessioni e il dialogo con la città tramite lo studio della struttura del luogo, identificandone gli accessi principali, le centralità, i punti di convivenza comunitaria,
delineando un sistema intelligente di connessioni e interfacce.
L’insieme di settori e quartieri già esistente viene diviso in Settori di Sviluppo Urbano (SVU), sub-quartieri strutturati in cellule progettuali organizzate secondo condomini e servizi locali che articolano il territorio in unità secondo una gerarchia: Poli Infrastrutturali decentralizzati connettono funzionalmente la favela alla città e i Settori di Sviluppo Urbano, raggruppando il sistema attuale di sottoquartieri (diviso sia a livello amministrativo che spaziale) in zone funzionali, manterranno l’identità locale.
Il progetto ha lo scopo di ampliare e incorporare nuove infrastrutture e trasformare la logistica dei trasporti privilegiando le vie di accesso alla comunità attraverso un sistema integrato di trasporto di passeggeri e merci, incorporando nuove vie di transito per i veicoli, formalizzando e strutturando logisticamente le attività informali con il circuito dell’economia formale connesso alla città, permettendo una riqualificazione e un riequilibrio di queste relazioni con un nuovo dinamismo.
La strategia è quella di rendere compatibili un sistema infrastrutturale oltre che basico di qualità integrando le infrasterutture già esistenti, localizzate nelle aree della Rocinha a contatto con la città, alle infrastrutture basiche (sistema di drenaggio, pavimentazione stradale adeguata, rete fognaria, rete elettrica, illuminazione pubblica, vegetazione, arredo urbano e spazi pubblici attrezzati, segnaletica), progettate per tutta la favela nel suo complesso, non più privilegiando solo alcune zone.
Ilaria Bacciocchi:
Come sono stati organizzati gli interventi a livello urbanistico e architettonico? Abbiamo parlato dell’assetto globale dell’intervento. A livello puntuale, scendendo alla scala architettonica, come si concretizza il Piano?
Jorge Mario Jauregui:
Come dicevo, l’obiettivo sia a scala urbana che architettonica, è quello di integrare la favela alla città. Alla macro scala questo si verifica aprendo il tessuto urbanistico della Rocinha connettendolo alla rete viaria della città, alla scala architettonica ci si deve concentrare sui singoli settori (SVU) e creare dei centri funzionali indipendenti ma connessi tra loro. Il mio obiettivo è quello di affiancare agli interventi più urgenti progetti infrastrutturali di qualità: spazi polifunzionali destinati ad ospitare una vasta gamma di servizi terziari, commerciali, scuole, come nella sede del Polo di produzione lavoro e rendita -sede di cooperative popolari e micro-imprese.
L’ intervento prevede inoltre, in accordo con la Prefettura, la costruzione di abitazioni (Vila do Samba) per alloggiare parte della cominutà oggi residente in aree a rischio: 460 unità in prossimità del tunnel Zuzi Angel e della parte inferiore della Rocinha. Si prevedono inoltre interventi di ricollocamento con lo studio delle aree da destinare a nuovi poli residenziali e la costruzione sia di spazi pubblici che la costruzione di centri sportivi e di svago. I “C CEL” “Cultura-Sport-Intrattenimento” sono vere e proprie cellule da collocare all’interno dei vari settori della Rocinha.
Il Polo di servizi terziari Portal Rocinha Nova Passarela, in prossimità della passerella lungo la strada ad alta velocità Lagoa-Barra, che segna uno dei confini della città con la favela, è previsto un centro di ricerca permanente (per micro-imprese, sistemi di credito, banche, marketing), oltre ad un Osservatorio della Popolazione per la gestione sociale e pubblica. Il nuovo Portal da Rocinha significherà una cooperazione intelligente al fine di articolare l’economia di produzione, il commercio ed i servizi con i micro imprenditori che lavorano spesso in maniera informale e non tutelata.
E’ stata inoltre prevista una struttura, il Polo Ecologico-Ecoturismo, che ospita oltre ad un Laboratorio sociale (con l’ obbiettivo di sviluppare mano d’opera specializzata in diversi settori oltre a quello di ecooperatori) la Sede del Corpo Forestale ed un Centro di promozione ecoturismo, essendo oggi la Rocinha l’unica favela di Rio de Janeiro con dei “tour’s turistici”…
Per cercare di contenere l’espansione della favela entro i confini previsti abbiamo pensato a degli ecolimiti: si tratta di condomini localizzati in aree a rischio espansione che fungeranno da “cinture” di contenimento urbano in prossimità della Floresta da Tijuca e del Morro dois Irmaos.
Il recupero delle aree degradate e disboscate e la pianificazione di un progetto di
reforestamento e riserve naturali contribuiranno a ripristinare l’ambiente naturale oggi molto danneggiato dall’autocostruzione selvaggia.
Le infrastrutture che ritengo più innovative, parlando di progetti realizzati ad oggi nelle favelas carioca, sono il Polo Educativo, che ospiterà una scuola di secondo grado, un centro di educazione professionale e di avviamento al lavoro, il Polo Culturale e di Comunicazione (Biblioteca, Centro multimediale, Cinema, Teatro, Auditorio, Spazio Capoeira, caffetteria, ecc...) alimentato da un sistema di Pannelli solari, ed infine la Torre delle Comunicazioni (TV locale, Emittente Radiofonica, Sede Giornalistica)
Ilaria Bacciocchi:
Il suo progetto è stato selezionato tra i tre finalisti in quanto rispecchia le nuove
modalità di intervento, ormai a scala territoriale, che comporta il riprogettare territori complessi ed eterogenei come le favelas. Rispetto alla sua esperienza come architetto come vede il futuro delle favelas carioca, in particolare per la Rocinha? Ritiene possibile una soluzione oltre che fattibile, a breve termine, al problema degli insediamenti informali di Rio de Janeiro?
Jorge Mario Jauregui:
L’ esperienza quotidiana e pluriennale del convivere con gli insediamenti informali mi ha permesso di pensare a una proposta concreta, anche se volutamente provocatoria.
La favela non è più da tempo considerata un fenomeno transitorio, si è compreso che la soluzione non è più il suo abbattimento e sradicamento, o la costruzione di case popolari senza infrastrutture e servizi, come fecero negli anni ’60 con Cidade de Deus, veri e propri ghetti, ma la sua integrazione con il tessuto urbano circostante.
Il secondo passo è la comprensione che non si può più ragionare per parti, con singoli interventi puntuali, ma considerare la favela nel suo complesso, il che risulta fattibile (mi riferisco ai capitali economici che interventi di riqualifica di questa portata comportano) progettando in maniera integrata a vari livelli, e soprattutto per gradi, per questo sono stati progettati interventi a breve termine e a lungo termine.
Il progetto di poli culturali e multimediali all’interno della favela riformula a scala urbana interventi puntuali realizzati da Favela Bairro in altre favelas della città.
La creazione di un polo mediatico come la Torre multifunzionale situata nel cuore della Rocinha, significa un intervento che coinvolge tutta la comunità che permette l’interazione con l’esterno, con la città. L’informazione è oggi fondamentale, per questo è stato pensato uno scermo che aggiorna in tempo reale su varie notizie. Intervenire con mezzi efficaci, moderni, che rispecchino l’era dell’informazione e della multimedialità, che si tratti di città o di favela.
Si comincia a delineare un approccio che tenta di livellare il grado di qualità infrastrutturale della favela con quello della città circostante.
Gli interventi proposti sono sia oggettivamente realizzabili, specialmente quelli considerati a breve termine, che proposte volutamente provocatorie ma non per questo utopiche.
Il salto di qualità che ci si aspetta da questo concorso per rendere davvero la “favela” un “bairro” è cominciare ad affiancare ai progetti di riqualifica più urgenti, interventi che all’interno della città formale sono alla base dell’indice di benessere della società, come in questo caso le infrastrutture progettate per la cultura e l’informazione.
Si è voluto proporre un progetto nuovo soprattutto per le aspettative che comporta e gli ideali che mette in gioco. Se da un lato la favela ci mostra quell’ aspetto della società che non funziona, dall’altro è una sfida per architetti, urbanisti, sociologi, che può essere vinta.
Rocinha, work in progress…
Biografia
J. M. Jauregui si è formato alla Facoltà di architettura dell’Università Nazionale di Rosario, Argentina. Vive a Rio de Janeiro dal 1978, dove ha aperto uno studio di architettura nel quartiere di Botafogo. E’ professore nella facoltà di Architettura dell’Università Federale di Rio de Janeiro. Nel 1999 vince il Premio alla Biennale Internazionale di Architettura di San Paolo e l’anno seguente il Sixth Veronica Rudge Green Prize in Disegno Urbano alla Facoltà di Harvard. Nel 2002 riceve il 1° Premio di Ricerca alla Biennale Ibero-Americana di Santiago del Chile. Ha pubblicato il libro “Strategie di articolazione urbana” per la Facoltà di Architettura e Urbanistica dell’Università di Buenos Aires e “The Favela-Bairro Project, Jorge Mario Jauregui Architects” per la Harvard University Graduate School of Design, Cambridge, Massachussetts. I suoi principali lavori sono stati realizzati nella città di Rio de Janeiro, tra i quali la riqualificazione della Rua do Catete, nella zona centrale, in collaborazione al programma Rio-Cidade, e la riqualificazione urbana di più di 20 favelas in differenti luoghi della città con il programma Favela Bairro. Il 31 gennaio del 2006 vince il terzo premio dell’ultimo concorso promosso da Favela-Bairro per la riprogettazione della favela della Rocinha. Attualmente collabora con riviste internazionali descrivendo la sua esperienza progettuale all’interno delle favelas carioca cresciuta nell’arco di 25 anni.
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