Posições | Positions

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De acordo com Michel de Certeau, podemos dizer que a aliança da cidade e do conceito jamais se identifica, mas ela vai na direção da sua progressiva simbiose: planejar a cidade é ao mesmo tempo pensar a pluralidade mesma do real e lhe dar efetividade a esse pensamento do plural. É saber e poder articular. Por isso, para mim, o arquiteto deve ser um “conexionador”.

A característica das sociedades contemporâneas é a sua divisão, sua heterogeneidade. E o problema que se coloca é como fazer destas sociedades ontologicamente plurais, atravessadas por conflitos econômicos, sociais, políticos, religiosos e de gênero, que se verifica, tanto no nível do Estado quanto na cultura e na cidade, como fazer disso tudo “conjuntos inteligíveis” sobre os quais se possam atuar com critérios democráticos? Como contribuir à criação de “vontades coletivas” nas quais o projeto possa cumprir um papel “ativador”?

Compreender a complexidade das demandas democráticas contemporâneas, num mundo globalizado, exige atenção especial às “articulações contingentes”. O que no nosso caso de arquitetos urbanistas exige partir da leitura das condicionantes e possibilidades locais e do contexto da área de atuação, realizando a “escuta” das demandas, como ponto de partida de qualquer projeto que se pretenda democrático e inclusivista.

 

Desde o início das minhas atividades profissionais tenho defendido (e procurado ser coerente com isso) uma articulação entre prática projetual e prática teórica, entendidas ambas como partes necessárias e interligadas do trabalho de produção, reflexão e participação no debate sobre a arquitetura, o urbanismo e o meio ambiente contemporâneos, buscando interpretar o "espírito do tempo" com sentido de lugar e responsabilidade social.

Nesta página, neste "texto em aberto" que é um sitio internet, são apresentados um conjunto de obras, vivências, experiências e uma reflexão crítica sobre a realidade na tentativa de esquadrinhar o que se oculta por trás de algumas intuições fundamentais derivadas de uma prática e uma reflexão contínuas. A fé em determinadas convicções e a linha (nem sempre reta) que a gente pode traçar sobre o território desigual da realidade, me levam a pensar que as coisas, tal como são, podem e devem ser transformadas.

É por esta razão que cada projeto deve estar referido a um conceito teórico global, constituindo-se num aspecto essencial do método de trabalho que não pode se realizar senão através da investigação sobre cada lugar específico de atuação, como forma de superar o enfoque funcionalista que reduz a complexidade e a multidimensionalidade da arquitetura ou do urbanismo, à unidimensionalidade da função.

Em cada intervenção, seja de caráter urbanístico ou arquitetônico, a aproximação projetual é sempre diferente dependendo das características do lugar, do programa, da relação com o "cliente" e das condicionantes circunstanciais.

Mantenho uma fidelidade indefectível ao trabalho nas áreas informais, que necessitam de uma atenção especial. Sorte de fundação intelectual na qual os profissionais da arquitetura e do urbanismo temos a responsabilidade de trabalhar pela transformação das condições de vida, ajudando a modificar a legibilidade de territórios "esquecidos". Considerando a arquitetura enquanto arte, trata-se de fazer coincidir o desejo do arquiteto, com o prazer criativo da afirmação de si mesmo em contextos difíceis.

Com um estilo própio que consiste na abordagem paciente do sitio (projectual approach) buscando identificar a estrutura da sua configuração como ponto de partida de cada proposição.

Simplicidade e complexidade são duas formas de entender os desafios, cultivando a dúvida, buscando não privilegiar nenhum ponto de vista em detrimento de outro, desconfiando de todos os limites: os do sitio, os determinados pelo cliente, mas também os impostos pelo própio pensamento, pois sabemos que a alquimia do projeto depende do que nutre a quem concebe; do seu grau de abertura ao mundo.

Forma, neste contexto, refere-se não só à linguagem arquitetônica (vocabulário formal) senão simultaneamente à estrutura da planta, ao caráter da seção e à concepção do conjunto como qualificação do espaço. E é por isso que a indagação sobre a estética contemporânea ocupa um lugar importante nas minhas investigações, na medida em que é entendida aqui como o que permite unificar os fragmentos. Estética, neste sentido, é o que liga, o que faz laço.

Lugar, pressupõe empírica, histórica e conceitualmente, um ponto de partida específico para cada projeto, sendo necessário prestar muita atenção ao pensamento que surge logo depois de se conhecer o local.

Arquitetura é uma forma de arte que exige o entrelaçamento do visual, do conceitual, do sensorial, do acidental e do social, buscando estabelecer pequenas parcelas de ordem num contexto infinitamente desordenado.

Projetar implica, desde esta perspectiva, combinar argumentos pragmáticos com percepções subjetivas. Assim, ao estudar um tema não surge necessariamente uma idéia única senão um conjunto de idéias que vão formar a espinha dorsal de um projeto, e o significado do trabalho surge quando se encontra a maneira de inter-conectar todas as variáveis que intervém em cada caso, interpretando formal e espacialmente as forças que atuam no lugar.

Enfrento cada desafio projetual como se de um experimento se tratasse, e não como uma forma de manter apenas uma estrutura produtiva. A questão é, sempre, encontrar o potencial fenomênico da idéia.


Croquis Casa Klein / Rio de Janeiro